tag:blogger.com,1999:blog-137234562024-03-13T18:53:02.901+00:00Eu, hitchcockiano, me confessoUm blog sobre o Cinema, a Vida e o SuspenseJosé Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.comBlogger82125tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-88973532366369193072009-11-28T00:18:00.024+00:002009-12-10T00:17:08.392+00:00«EU, HITCHCOCKIANO...» NAS LIVRARIAS<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SxB0bx3MTBI/AAAAAAAAAZI/20QYt9P_9uk/s1600/capa+hitch+final+1.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 225px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408951173062085650" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SxB0bx3MTBI/AAAAAAAAAZI/20QYt9P_9uk/s320/capa+hitch+final+1.jpg" /></a><br /><div><div><div><span style="font-family:verdana;">Comecei a escrever “Eu, Hitchcockiano, Me Confesso” em Junho de 2005. Desde então até hoje, como referiu algures uma colega minha, após dezenas de textos e mais de 150 semanas de debate, converti-me no <strong><span style="color:#3333ff;">mais confesso dos hitchcockianos</span></strong>.<br /></span></div><div><span style="font-family:verdana;">A sessão de lançamento do livro criado a partir deste blog ocorreu no sábado passado, 21 de Novembro. O dia estava frio, chuvoso e deprimente e lamento profundamente não ter conseguido dedicar a cada um dos presentes o tempo e a atenção merecidos.</span></div><span style="font-family:verdana;"><br /><div>O espaço do bar-livraria do Cinema King foi pequeno para acolher amigos, familiares e curiosos. Lauro António apresentou um texto de apresentação do meu livro. O seu comentário pode ser lido <a href="http://lauroantonioapresenta.blogspot.com/2009_11_01_archive.html">aqui</a>. Como pronunciei diante da pequena audiência, senti-me honrado pela sua presença. Não era para menos.</div><br /><div>Depois, falei timidamente. Com a cara enfiada na folha onde resumira os tópicos do meu discurso. Procurando não me perder no olhar de alguém ou na contemplação de algum pormenor da sala. Tentei não me mostrar inquieto. Mas sentia-me como um peixe fora de água. Sou bem mais desenvolto na escrita do que na comunicação oral.<br />Na verdade, sinto insegurança, <strong>medo</strong>, quase terror de falar para uma audiência. Faltava-me essa confissão. E o terror, o medo do que estava para vir (o suspense, portanto) tornou-se insuportável no momento em que a sala se silenciou por completou para a escuta do meu discurso.</div><br /><div><span style="color:#000099;"><span style="color:#000000;">«</span></span><em><span style="color:#000000;">Oxalá gostem do livro que criámos</span></em><em><span style="color:#000000;">»</em></span> proferi. E repito-o agora aqui na blogosfera. Foi concebido como uma obra de <strong><span style="color:#3333ff;">leitura fácil e ligeira</span></strong>. Mas penso sinceramente que pode despertar <strong><span style="color:#3333ff;">reflexões que vão para além da superficialidade</span></strong>.</div><br /><div>A quem esteve comigo no dia 21 só posso agradecer reconhecidamente. Cada um dos presentes ofereceu-me uma parcela particular de calor humano. Cada um no seu jeito, no seu estilo próprio.</div><div><br />O livro está agora à venda nas livrarias. Segue o processo de distribuição. Para informações directas, deve ser contactada a Chiado Editora através do mail </span><a href="mailto:info@chiadoeditora.com"><span style="font-family:verdana;">info@chiadoeditora.com</span></a><span style="font-family:verdana;"> Estarei disponível igualmente, através do meu mail pessoal, para qualquer esclarecimento. A todos, o meu agradecimento sincero e reconhecido.</span></div><div><span style="font-family:Verdana;"></span></div><div><span style="font-family:Verdana;">This was an Alfred Hitchcock Presentation...</span></div><div></div><div><span style="font-family:Verdana;"></span></div><div></div><div></div><div><span style="font-family:Verdana;"></span></div><div></div><div></div></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-56430165954921206672009-10-30T00:03:00.012+00:002009-11-28T01:01:46.538+00:00"CHIADO EDITORA" EDITA «EU, HITCHCOCKIANO...»<a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SxB2VoVuICI/AAAAAAAAAZQ/yhVoAqI7dCo/s1600/IMG_7327.JPG"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 213px; FLOAT: left; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408953266449817634" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SxB2VoVuICI/AAAAAAAAAZQ/yhVoAqI7dCo/s320/IMG_7327.JPG" /></a><br /><span style="font-family:verdana;"><strong>«Eu, Hitchcockiano, Me Confesso»</strong> estará à venda nas livrarias daqui a poucas semanas. O volume compila, criteriosa e atentamente, os textos do blog, sendo a sua edição e distribuição orientadas pela Chiado Editora.</span><br /><span style="font-family:verdana;"></span><br /><span style="font-family:verdana;">A sessão de lançamento do livro está agendada para o dia <strong><span style="color:#3333ff;">21 de Novembro, às 18 e 30</span></strong>, no Cinema King (em Lisboa) - espaço da Livraria/Bar. O Sr. Lauro António, realizador, professor, historiador e crítico de Cinema, disponibilizou-se amavelmente a falar-nos um pouco do meu livro e de Alfred Hitchcock. Procuramos que seja um acontecimento evocativo da memória do Mestre do Suspense.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Ao converter o blog na sua versão física – o livro – procurei responder adequadamente ao incentivo de algumas pessoas; e à ideia sólida de que, em livro, a leitura de textos longos se torna bem mais apelativa, eficaz e acessível do que no écran de um computador. </span><br /><br /><p align="left"><span style="font-family:verdana;">O volume inclui ilustrações de Bruno Miguel, imagens seleccionadas de filmes do Hitchcock, um capítulo final inédito e uma listagem de dados biográficos e técnicos relativos à filmografia do cineasta. </p></span><p align="left"><span style="font-family:verdana;">Revendo os textos e definindo a estrutura do livro, trabalhei sempre <strong>procurando tornar transmissível ao leitor todo o meu entusiasmo e motivação.</strong> Não posso ignorar nem menosprezar o contributo precioso da Chiado Editora no que respeita à paginação e ao design do volume. Quero agradecer à Camila Figueiredo e ao Gonçalo Martins o contributo precioso que ofereceram.</span></p><span style="font-family:verdana;">Oxalá todo o nosso empenho tenha sido suficientemente eficaz para dar origem ao livro que desejávamos: uma obra de leitura fácil e ligeira, apelativa mas introspectiva, capaz de desencadear reflexões mas também de divertir.<br /></span><span style="font-family:verdana;"></span><br /><span style="font-family:verdana;">A Cinefilia representa o amor aos filmes e à Arte do Cinema, Mas descubro-a agora também como modo de ligação a outros cinéfilos e forma de aproximação (à parte a minha insegurança comunicacional) a todos os que me lêem.</span><br /><span style="font-family:verdana;"><br /></span><span style="font-family:verdana;"></span>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-29468225535412485652008-08-14T00:47:00.003+01:002008-08-14T01:12:23.776+01:00DIRECTED BY ALFRED HITCHCOCK<a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SKNz0LORMNI/AAAAAAAAAQI/7G4e9_Rm1Ug/s1600-h/HitchcockMontagemParaBlog.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5234154532137677010" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" height="238" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SKNz0LORMNI/AAAAAAAAAQI/7G4e9_Rm1Ug/s320/HitchcockMontagemParaBlog.jpg" width="320" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;">«Na vida, se soubéssemos as consequências de cada coisa, o entusiasmo perderia a razão de ser. Que piada teria ir a um jogo de basebol, se já soubéssemos que equipa ia vencer? Para quê ir pescar se já se sabia de antemão se haveria pesca (ou não)? O desconhecido tem apelo precisamente porque é misterioso. (…) Como vivemos, o problema é nosso. Podemos fazê-lo num constante estado de ansiedade quanto ao futuro, sempre com medo de que no final os maus vençam, a injustiça triunfe e a humanidade se destrua. Ou poderemos usar a dádiva (de não conhecer o futuro) criativamente; ajudar homens de boa vontade a ganhar, ajudar a justiça a triunfar e acreditar que o drama humano deve ter um final feliz. O melhor do futuro é que vem para nós, um dia de cada vez.»<br /></span><span><strong>Alfred Hitchcock<br /></strong></span><br /></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;">É frequentemente difícil proferir conclusões no final de um longo discurso. Especialmente quando conversamos intuitivamente sem procurar uma ordem coerente para o encadeamento dos diferentes argumentos. <strong><span style="color:#3333ff;">O que se apresenta neste blog que hoje termina são oitenta comentários distintos que incidem sobre temáticas diferentes expostas segundo uma ordenação arbitrária.</span></strong> Na verdade, só existem dois elementos comuns a todos estes comentários: o Mestre Hitchcock e eu mesmo.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Por esse motivo, é complicado encontrar uma ideia que confira sentido a esta sucessão de reflexões. O que procurei sempre (até à última linha) foi escrever aqui com sinceridade. Como referi antes, de um modo poético e quase surrealista, procurei ver a minha vida e tudo o que me rodeia pelas lentes das câmaras dos filmes de Hitchcock, pelo olhar que emanava deles. Tentei fazer das minhas percepções um ponto de partida para a compreensão do cinema de Hitch.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Cheguei a comparar-me a esse homem a quem chamo às vezes Alfred Joseph – chamo-lhe assim quando identifico o lado dele que me é mais familiar. O da sua timidez e do seu desejo de aceitação pelos outros; o da sua insegurança em relação às suas certezas e da sua necessidade (que lhe era vital) de ter junto de si os que mais amava no mundo – em particular, a sua esposa Alma Reville, cuja morte ele nem queria conceber e cuja doença cardíaca antecipou o seu próprio declínio pessoal.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Alfred Joseph e eu. Aquele sobre quem escrevi e aquele que debitou comentários dispersos sobre a Vida, o Cinema e o Suspense – segundo diz o lema do blog.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Tentei provar aqui que o universo de Hitchcock engloba muito mais do que o patamar do «suspense». O suspense será como que a nuvem mais visível e expressiva num céu onde também se pode ver o Sol, a Lua, nuvens mais pequenas e até um pequeno aeroplano que passa momentaneamente.<br />O Cinema de Hitchcock não é só suspense. Não é tão linear nem tão simplista assim. Procurei mostrar diferentes perspectivas e valores na filmografia de Hitch. Mas muito ficou por escrever…</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Desde Junho de 2005, tenho escrito para este espaço, respondendo ao desafio de dissertar sobre temáticas específicas intuitivamente definidas por mim. No termo de tantos meses de escrita, confesso que nunca li atentamente o que deixei para trás. Agora, no derradeiro comentário, apresenta-se-me abusivamente uma questão desconcertante: como devo terminar o blog?</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Primeiramente, é meu dever explicar porque é este o meu último texto para o «EU, HITCHCOCKIANO, ME CONFESSO». Na verdade, considero que neste nosso pequeno mundo, tudo deve ser planeado e previsto mediante cenários salutares. Planear implica antever as dificuldades e agir <em>a priori</em> contra elas.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Não disponho do tempo necessário para desenvolver este blog de um modo mais dinâmico (quer em termos informáticos, quer principalmente em termos da expansão dos conteúdos). Esta realidade é incontornável e não é meu desejo transformar o prazer da escrita sobre Cinema numa rotina desagradável que é respeitada por obrigação moral.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Continuarei a escrever. Gerindo o tempo livre do melhor modo possível. O Hitchcock nunca poderá ser esquecido por mim. Estou a terminar um livro sobre filmes. E encontro-me na fase conclusiva de um romance e de um livro de contos. A escrita é para mim uma fonte de entretenimento e uma criação dinâmica. Nunca deverá ser vista de outra forma. Confesso, no entanto, que termino este blog com alguma mágoa. Mágoa que não poderei ignorar nem negar.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br /><strong>Hoje é dia 13 de Agosto. Alfred Hitchcock faria hoje anos e parece-me simpático encerrar esta iniciativa no dia do calendário em que tudo começou. Exactamente há 109 anos.</strong> Defini esta data para o fim do blog há vários meses. Ainda que possamos ser escravos dos planeamentos – e do desejo de uma vida onde tudo decorre como é previsto – nada nos pode libertar das imprevisibilidades. Como a Morte. Ou a Doença. Ou a decadência das capacidades físicas – essa mesma que impediu Hitchcock de terminar o seu último projecto: «The Short Night» baseado num romance de Ronald Kirkbridge.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"><br />Como já escrevi algures, com o Hitchcock aprendi a interessar-me verdadeiramente pelo aspecto técnico dos filmes e por reflectir sobre o valor intrínseco e extrínseco de cada obra cinematográfica. Tudo começou para mim em 1985. Numa pequena sala de cinema de Lisboa onde descobri «Janela Indiscreta». Hitchcock já estava morto mas começou então a marcar-me. Por isso, nunca ninguém pode ter a certeza de nada. Mesmos mortos, os seres humanos têm um poder imprevisível. Daí o fascínio de todos os mistérios, de todos os enigmas que não compreendemos nem podemos conhecer. A Vida, a Morte e o Futuro.<br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/kcS-7MGNWdU&hl=en&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/kcS-7MGNWdU&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/cU00xLcAxpg&hl=en&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/cU00xLcAxpg&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/5vG1-0wOA_o&hl=en&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/5vG1-0wOA_o&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /></span></div><div align="left"><span style="font-family:Verdana;"></span> </div><div align="left"> </div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-17301075683356279092008-08-12T23:56:00.003+01:002008-08-13T00:46:16.074+01:00EM MEMÓRIA<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SKIZO0P-_TI/AAAAAAAAAP4/CEe5JwYFJrE/s1600-h/memoryCarlota.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5233773459292486962" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 380px; CURSOR: hand; HEIGHT: 230px; TEXT-ALIGN: center" height="211" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SKIZO0P-_TI/AAAAAAAAAP4/CEe5JwYFJrE/s320/memoryCarlota.bmp" width="356" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">Nos passos finais do percurso que me levou a reflectir sobre o cinema de Hitchcock durante mais de 150 semanas, parece-me pertinente não deixar de nomear um número específico de pessoas. São as personalidades do universo de Alfred Hitchcock que faleceram entre Junho de 2005 e Agosto de 2008, o período em que este blog esteve activo.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Estão aqui 25 nomes mas outros, hitchcockianamente importantes, terão morrido enquanto este blog progredia no seu passo lento, aparentemente apático mas profundamente consciente.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Para todos eles, porque cada um ofereceu o seu contributo próprio aqui fica a minha homenagem.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">BARBARA BEL GEDDES</span></strong> – Faleceu a 8 de Agosto de 2005 e fiz referência directa ao seu desaparecimento no comentário daquela semana. Representou um sensibilizante papel em «Vertigo» encarnando a mulher simples e pouco sensual, apaixonada pelo protagonista.<br />Era uma actriz sóbria e convincente. A sua presença, pelo que tem de transparente e verdadeiro, opõe-se à de Kim Novak com todo o seu misticismo e magnetismo desconcertante.<br />O papel de Midge era perfeito para ela. E ela nunca se importou em oferecer autenticidade ao seu papel mesmo que isso significasse ter uma presença mais discreta e muito menos «<em>glamourosa</em>».<br />Hitchcock sempre gostou de a ver trabalhar. Barbara Bel Geddes também brilhou na série «Alfred Hitchcock Apresenta», nomeadamente num episódio da 3ª temporada («Lamb To The Slaughter») em que mata o marido e oferece aos polícias, como jantar, a arma do crime: uma perna de carneiro.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">HENRY BUMSTEAD</span></strong> faleceu a 24 de Maio de 2006. Era um veterano «<em>production designer</em>» (decorador) que trabalhou durante décadas em Hollywood, com grandes cineastas e em grandes filmes.<br />O papel de um «<em>production designer</em>» passa pelo estudo, decoração e tratamento dos espaços onde as filmagens decorrem. Na procura da autenticidade ou do espírito que se quer imprimir ao filme. É um trabalho de pesquisa, de adequação dos cenários e dos locais reais aos contextos de cada argumento.<br />Bumstead ganhou Óscares por «To Kill a Mockingbird» (1962) e por «A Golpada» (1973). A sua longa associação a Clint Eastwood levou-o a trabalhar repetidas vezes para ele, nomeadamente em «Imperdoável» (1992), «Mystic River» (2003), «Million Dollar Baby» (2004), «Flags of Our Fathers» (2006) e «Letters from Iwo Jima» (2006). Pelo seu brilhante trabalho em «Vertigo» (1958), também obteve uma nomeação para um Óscar. Trabalhou numa produção absolutamente miserável chamada «Psico III» (que como o nome indica é uma segunda sequela do filme de Hitch).<br />Bumstead contava como havia percorrido inúmeras ruas de S. Francisco em busca dos locais ideais para as cenas de «Vertigo». Hitchcock sempre gostou do seu arguto poder de observação.<br />Morreu com 91 anos. Participou em mais de cem filmes. Para Hitchcock também trabalhou em «O Homem Que Sabia Demais» (1956), «Topázio» (1969) e «Intriga em Família» (1976).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>LARAINE DAY</strong></span> morreu a 10 de Novembro de 2007. Nunca foi uma estrela maior até porque, quando vinculada à MGM, era remetida para papéis desinteressantes. Alfred Hitchcock parece que gostou dela e pediu-a emprestada àquele estúdio para interpretar a protagonista de «Correspondente de Guerra» (1940) ao lado de Joel McCrea.<br />Laraine Day trabalhou com Cary Grant, Gary Cooper, John Wayne ou Spencer Tracy mas permaneceu muito ligada ao seu desempenho em sete filmes do personagem Dr. Kildare. (Os filmes protagonizados por Lew Ayres deram origem a uma famosa série dos anos 60 com Roger Moore). Laraine Day morreu com 87 anos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">HANSJÖRG FELMY</span></strong> faleceu a 24 de Agosto de 2007 (com 76 anos). Era um veterano actor alemão. Em «Cortina Rasgada» (1966), filme onde participam vários actores muito competentes em papéis secundários, fez o papel do sinistro Gerhard. É ele que acolhe Paul Newman e Julie Andrews em Berlim Leste; e é ele mesmo que os persegue na cena final, no espectáculo de Ópera. O elenco de «Cortina Rasgada» é um dos maiores trunfos do filme. Hansjörg Felmy é, a seu modo, quase tão temível e perturbante como Gromek – o homem morto de modo macabro a meio da narrativa.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">PETER HANDFORD</span></strong> faleceu a 6 de Novembro de 2007. Era um veterano técnico de som. No seu extenso currículo, estão «África Minha» (1985), «Tom Jones» (1963), «Crime no Expresso do Oriente» (1974) e «Ligações Perigosas» (1988).<br />Para Hitchcock, trabalhou em «Sob o Signo do Capricórnio» (1949) e «Frenzy» (1972). Sempre se referia a Hitchcock como muito metódico, quase exageradamente escravo dos seus planeamentos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">TEDDY INFUHR</span></strong> teve um desempenho curto mas simbólico no cinema de Hitchcock. Era o miúdo acidentalmente morto pelo irmão em «Casa Encantada» (1945). Numa cena muito pequena mas determinante. No filme de Hitchcock, não chega a dizer uma palavra. Mas depois participou em muitos filmes, alguns deles de grande qualidade e fama. Como «Os Melhores Anos das Nossas Vidas» (1946), «O Rapaz do Cabelo Verde» (1948) e «Sementes de Violência» (1955).<br />Morreu a 12 de Maio de 2007, com 70 anos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">CLAUDE JADE</span></strong> era uma actriz que François Truffaut descreveu a Hitchcock como sendo de algum modo parecida com Grace Kelly. Em «Topázio», representou o papel da filha ansiosa de um agente secreto francês. Faleceu a 1 de Dezembro de 2006. Com 58 anos de idade. Nunca veio a ser uma loira glacial de Hitchcock – como Tippi Hedren ou Kim Novak – mas podia ter sido.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">LLOYD LAMBLE</span></strong> morreu com 94 anos, a 10 de Abril deste ano. Era um grande actor secundário do cinema britânico. Na verdade, era australiano e diz-se que deixou o seu país depois de ter sido associado ao comunismo. Fez um pequeno papel em «O Homem Que Sabia Demais» (1956).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">EVAN HUNTER</span></strong> foi o argumentista de «Os Pássaros». Era um célebre escritor de livros policiais que assinava também como o nome Ed McBain. Trabalhou muito no argumento de «Marnie» mas discordava de Hitchcock em relação à cena em que Sean Connery se deita abusivamente com Tippi Hedren. Hunter considerava a cena indecorosa e antipática. E no seu entender, o público não gostaria dela. Acabou abandonando o projecto.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>PHILIPPE NOIRET</strong></span> era um grande actor francês. Brilhou em «Cinema Paraíso» (1988) e em «O Carteiro de Pablo Neruda» (1994). Era versátil e participou em imensos filmes. Integrou o elenco de «Topázio», ao lado de outro actor francês, Michel Piccoli.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">JOSEPH PEVNEY</span></strong> dirigiu 5 episódios da série «The Alfred Hitchcock Hour». Era um realizador veterano na área da Televisão. Trabalhou em «Casei com uma Feiticeira» e foi um emblemático director de episódios do «Caminho das Estrelas». Faleceu no passado dia 18 de Maio, com 97 anos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">SUZANNE PLESHETTE</span></strong> foi a professora de «Os Pássaros». Era uma actriz morena e atraente. A sua participação num episódio de «Alfred Hitchcock Apresenta» atraiu a atenção do público e de pessoas influentes. Nunca foi uma estrela maior de Hollywood mas a sua presença nos filmes era convincente e sincera. Morreu no passado dia 19 de Janeiro. Com 70 anos – vítima de um cancro num pulmão. Curiosamente, em «Os Pássaros», vemo-la fumar compulsivamente.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">LEONARD ROSENMAN</span></strong> compôs música para «The Alfred Hitchcock Hour» nos anos 1964/65. E também para a clássica série «The Twilight Zone». Também compôs para Cinema. Morreu no passado dia 4 de Março, com 83 anos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">PETER GRAHAM SCOTT</span></strong> foi um notável produtor, realizador, editor de imagem e argumentista. Dizem que foi responsável por levar Diana Rigg ao papel da sedutora Sra. Emma Peel em «Os Vingadores» – série clássica dos anos 60. A título de curiosidade, registe-se que Scott interpretou um pequeno papel em «Jovem e Inocente» (1937) de Hitchcock. Tinha então 13 anos. Morreu a 5 de Agosto de 2007, com 83 anos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">JOSEPH STEPHANO</span></strong> foi o argumentista de «Psico». O homem que adaptou o romance de Robert Bloch (inspirado num caso verídico) para o universo cinematográfico de Hitchcock. Morreu com 84 anos, a 25 de Agosto de 2006.<br />Prestou depoimentos extensos sobre o seu trabalho para Hitchcock e é pontualmente difícil discernir se certas particularidades da história de «Psico» foram criação sua ou resultado do génio imaginativo de Hitchcock. Certo é que foi responsável pela enorme dimensão humana dos personagens do filme.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">GEORGE TABORI</span></strong>, dramaturgo e encenador, foi o argumentista de “Confesso” (1952). Morreu a 23 de Julho de 2007. Com 93 anos. A história de «I Confess» é muito interessante no contexto das temáticas hitchcockianas: conjuga suspense, crime, culpa e religião, quatro temáticas importantes na personalidade do Mestre. O resultado final é negro e pontualmente morno mas relevante.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">JAY PRESSON ALLEN</span></strong> foi a argumentista de «Marnie». Substituiu Evan Hunter quando este abandonou a produção do filme. Era uma notável adaptadora de livros e de peças teatrais para Cinema. Concebeu o argumento cinematográfico de «Cabaret» (1972) com Liza Minelli e também o de «Princípe da Cidade» (1980) do realizador Sidney Lumet.<br />«Marnie» foi o seu primeiro argumento. A segunda metade do filme é, na minha opinião, decepcionante. Mas a culpa pelas falhas do filme não terá sido exclusivamente da argumentista. A história partia de um livro e Hitchcock parecia saber muito bem como a contar. Ainda que o suspense falhe rotundamente. E aquele conceito de Psicanálise soe a uma série de teorias simplistas e primárias. Felizmente, «Marnie» tem uma bela fotografia e uma grande banda sonora.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">ERNEST LEHMAN</span></strong> foi o brilhante argumentista de «Intriga Internacional» (1959). Era um homem que sabia conjugar a emoção das histórias com a humanidade dos personagens. Era versátil e pegava em trabalhos completamente distintos; como «Música No Coração» (1965) e «Quem Tem Medo de Virginia Wolf» (1966).<br />Hitchcock gostava muito de Lehman. O sucesso de «Intriga Internacional» (com a sua teia trepidante de acontecimentos narrativos) levou o Mestre a convidá-lo depois a escrever o argumento do seu derradeiro filme, «Intriga em Família» (1976).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">PATRICK ALLEN</span></strong> morreu com 79 anos, a 28 de Julho de 2006. Foi detective em «Chamada Para a Morte» (1954), ao lado de John Williams. Era particularmente conhecido pela sua voz, a voz que emprestou durante mais de trinta anos a trailers publicitários.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">RAY EVANS</span></strong> partilhava os créditos de composição musical com Jay Livingston. Juntos escreveram mais de 400 canções, num longo espaço de 64 anos. O maior sucesso deles terá sido «Que Será Será» importalizado por Doris Day em «O Homem Que Sabia Demais» (1956). A canção tinha uma função estratégica no filme e converteu-se num sucesso mundial. Foi também galardoada com o Óscar.<br />«Monalisa» foi outro enorme êxito da dupla. Ouvimo-la em «Janela Indiscreta» embora não tenha sido composta para esse filme. Para «Cortina Rasgada», foi concebida uma canção de Evans e de Livingston. Tinha um carácter promocional. O tema está incluído no CD com a banda sonora de John Addison. (Mas curiosamente não é cantado por Julie Andrews, a estrela do filme, nem ninguém considerou essa hipótese.)</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">ALIDA VALLI</span></strong> foi a protagonista de «O Caso Paradine» (1947). Era muito bela e emprestou dignidade e mistério ao papel da jovem e distinta mulher acusada de um crime. Hitchcock não se entendeu muito bem com ela porque Valli lhe havia sido imposta pelos produtores. Ninguém gosta de imposições. Muito menos gostava Hitchcock.<br />Alida Valli trabalhou com Visconti, Antonioni, Pasolini e Bertolucci. Era uma estrela maior do cinema italiano. Morreu com 84 anos, a 22 de Abril de 2006.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">ROSCOE LEE BROWNE</span></strong> era actor e compôs seis décadas de versatilidade interpretativa. Em «Topázio», era um espião que trabalhava publicamente como florista. Morreu a 11 de Abril de 2007. Com 81 anos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">WILLIAM TUTTLE</span></strong> era um perito em maquilhagem e caracterização. Foi chefe do departamento daquela área, na MGM, entre 1950 e 1969. Para Hitchcock, trabalhou em «Intriga Internacional». Participou em mais de 300 filmes, alguns deles clássicos imortais: «Gata em Telhado de Zinco Quente» (1958), «Show Boat» (1951) ou «Serenata à Chuva» (1952) entre muitos outros…<br />Morreu com 95 anos, a 27 de Julho de 2007.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">PETER VIERTEL</span></strong> escreveu o argumento de um grande filme de espionagem e acção do Mestre Hitchcock: «Sabotagem» (1942). Aquele que termina com o vilão suspenso das alturas da Estátua da Liberdade. Escreveu também o argumento de «A Rainha Africana» (1951) de John Huston.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">JANE WYMAN</span></strong> faleceu a 10 de Setembro de 2007, com cerca de 90 anos. A actriz foi protagonista de «Pavor nos Bastidores» (1950) mas acabou sendo encoberta pela presença de Marlene Dietrich. Um dos seus maiores desempenhos foi o de «Belinda – A Escrava do Silêncio». Nesse filme, vestia a pele de uma surda-muda incapaz de explicar que a sua gravidez era resultado de uma violação. O papel levou-a à conquista do Óscar em 1948.<br />«Pavor nos Bastidores» é um filme menor de Hitchcock e o papel de Jane Wyman tem pouco de atractivo <em>a priori</em> e <em>a posteriori</em>. O grande sucesso, encontrou-o ela em melodramas do cineasta Douglas Sirk. </span></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-76430136487308779482008-08-07T00:10:00.007+01:002008-08-07T23:44:28.460+01:00HITCHCOCK E O NAZISMO<a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SJowcQYJmOI/AAAAAAAAAPw/g9lGFS_hW74/s1600-h/MemoryCamps3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5231547179134982370" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SJowcQYJmOI/AAAAAAAAAPw/g9lGFS_hW74/s320/MemoryCamps3.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SJowSpqjkiI/AAAAAAAAAPo/QUbSJ5BCJM4/s1600-h/MemoryCamps2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5231547014124376610" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SJowSpqjkiI/AAAAAAAAAPo/QUbSJ5BCJM4/s320/MemoryCamps2.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SJowFlpVpVI/AAAAAAAAAPg/A13BJDnnc_w/s1600-h/MemoryCamps.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5231546789707228498" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SJowFlpVpVI/AAAAAAAAAPg/A13BJDnnc_w/s320/MemoryCamps.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">Cerca de uma década antes de surgir a sua primeira série televisiva (com episódios autónomos de menos de trinta minutos), Alfred Hitchcock viveu uma experiência particular. Em 1944, concordou realizar dois pequenos filmes de carácter propagandístico e em apoio aos heróis e às vítimas da 2ª Guerra Mundial. Pequenos filmes com cerca de meia hora, cada um. Constituiram uma importante incursão de Hitchcock na narrativa cinematográfica de histórias de curta duração.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Na época, Hitchcock já se tinha mudado para os Estados Unidos onde trabalhava para o produtor David O Selznick. Encontrava-se a cimentar o desenvolvimento da ideia de “A Casa Encantada” quando aceitou vir propositadamente à Europa para realizar «Boa Viagem» e «Aventura Malgaxe». Em Janeiro e Fevereiro de 1944, Hitchcock encontrou-se de volta ao seu país natal.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Aqueles dois filmes produzidos em Inglaterra, com a participação e o contributo directo de actores e técnicos de língua francesa, <strong><span style="color:#3333ff;">serviriam potencialmente de promoção de um certo espírito anti-belicista e anti-nazi ou quem sabe para enaltecimento dos heróis de guerra dos países aliados.</span></strong></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />De facto, Hitchcock admitiu. Era demasiado gordo e velho para se alistar nos exércitos das frentes de batalha. Mas poderia combater na guerra, usando as suas próprias armas: os instrumentos que faziam dele um hábil e famoso cineasta.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O resultado final não é tão propagandístico quanto isso. As duas curtas-metragens que foram já editadas em DVD (e que passaram num programa de Catarina Portas no canal 2 da RTP há poucos anos) parecem mais histórias de aventuras, espionagem e traição. Não encontro nelas, claras mensagens políticas.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />«Boa Viagem» é um filme mais interessante. A sua história é narrada mediante flashbacks que reconstituem os acontecimentos tal e qual como peças de um puzzle. A ideia da personagem sósia (que não é quem julgávamos que fosse) foi muito trabalhada no cinema de Hitchcock. No final, a sucessão dos acontecimentos é revista e verificamos que tudo o que sucedeu só obteve concretização a partir de um plano meticulosamente preparado. Tal como noutros enredos tipicamente hitchcockianos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A morte chocante da jovem vítima da resistência é possivelmente o momento mais intenso da história. Quase que parece anteceder o frio assassinato de Juanita num outro filme muito político que Hitchcock viria a realizar no contexto cubano, «Topázio» (1969).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A verdade é que se Hitchcock procurava veicular uma mensagem sociológica ou anti-nazi nos dois pequenos filmes de 1944, o seu intuito surge dissimulado ou esbatido. Parece antes que o realizador trabalhou aqui histórias de espionagem num registo de entretenimento próximo do de qualquer filme seu do género. Explorando o dramatismo das situações e deliciando-se a narrar os acontecimentos mediante jogos de aparências.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Neste universo, os espiões e os contra-espiões representam os seus papéis (tal e qual como actores) no desejo de adoptar uma identidade falsa que os fará ludibriar a acção dos inimigos. No caso de «Aventura Malgaxe», há uma confrontação entre o mundo dos espiões num palco de guerra mundial e o camarim dos actores de uma companhia teatral. <span style="color:#3333ff;"><strong>Afinal, um espião é um actor. Engana, dissimula, representa um papel que não corresponde ao da sua identidade própria.</strong></span></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><span style="color:#3333ff;"><strong><br /></strong></span>Enquanto contasse histórias de espiões, Hitchcock estava no seu campo de batalha próprio. Era senhor desse campo de batalha. De modo espontâneo e porque o tempo o firmou como mestre desse tipo de histórias.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Resta apenas apurar se o esforço de produção e realização destas obras terá sido meritório e proveitoso, na medida em que, durante décadas, poucos espectadores as viram e hoje, mais de sessenta anos depois, nada de muito engenhoso ou emocionante sobressai delas. Foram esquecidas no tempo e não brilham nos nossos dias pela sua excelência nem pela sua genialidade ímpar. São antes documentos históricos, feitos numa época precisa por um homem influente.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">As duas curtas-metragens de 1944 não parecem funcionar como filmes de propaganda</span></strong> onde tudo é simples e directo. Pelo contrário, nestes filmes há uma visão ambígua dos personagens que não ajuda a veiculação de uma mensagem evidente e sem meios-termos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O mesmo não se poderá dizer do documentário com imagens reais retiradas de campos de concentração nazis e que Hitchcock editou. Chamam-lhe <strong>o filme de Hitchcock sobre o Holocausto</strong>. O produtor Sidney Bernstein (amigo pessoal de Hitchcock e que produziria mais tarde para ele «A Corda» (1948) e «Sob o Signo do Capricórnio» (1949)) trabalhava então para o governo britânico. O Ministério da Informação foi incumbido de produzir um documento que apresentasse filmagens nos campos, imediatamente após a Libertação, em 1945.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O resultado traduziu-se em centenas de milhares de metros de filme; imagens captadas directamente de cerca de 5000 campos. O propósito era criar um relato objectivo, cru e sem artificialismos, que fosse suficientemente poderoso para alertar as pessoas para os métodos de terror usados pela política nazi.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Aquelas imagens eram de uma violência extrema. Alertavam para a estupidez da ideologia nazi e para a perversão da maldade humana. Seria inconveniente mostrá-las. Mas o governo britânico e os técnicos do filme não procuravam meias verdades. <strong>Enquanto denunciassem a extensão da tragédia, poderiam também mostrar àqueles que lutaram contra a Alemanha que a sua luta fôra importante.</strong> E que cenários daqueles nunca mais se deveriam repetir.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Havia todo o interesse em levar aquelas filmagens à população alemã para que tomasse consciência plena das atrocidades levadas a cabo pelo governo de Hitler e pela sua ideologia macabra.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Sidney Bernstein chamou Hitchcock para que este montasse as imagens. Procurava alguém que fosse capaz de provar a autenticidade daqueles cenários tenebrosos, que mais pareciam o resultado delirante de uma mente enlouquecida.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Hitchcock procurou mostrar planos amplos que mostrassem que não havia artificialismos nem truques baratos naquelas imagens. Os corpos dos mortos misturavam-se com o da gente viva. Mortos e vivos nus, privados de toda a dignidade humana. Homens, mulheres e crianças tratados como lixo.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O documento, tal como foi editado, permaneceu oculto durante quarenta anos. Parecia particularmente difícil mostrá-lo às audiências. Viviam-se os meses do pós-guerra e ninguém queria arriscar sensações perigosas ou sentimentos de revolta. Os cinemas convidavam as plateias para entretenimentos que causassem alegria, esperança ou riso. As memórias dos campos de concentração filmadas pelos técnicos do governo britânico acabaram armazenadas num armário. Mais precisamente, nos arquivos do Imperial War Museum, em Londres.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Em 1985, o filme montado passou na televisão britânica com o nome «A Painful Reminder». Anos depois apareceu em DVD com o título «Memórias dos Campos» (no original «Memory of The Camps»). Agora pode ser visto na Internet.<br />Trata-se de um filme que envolve o trabalho de vários operadores de câmara, técnicos e profissionais do cinema. Uma obra que apresenta uma orientação definida e comentada por um discurso em «voz-off». O actor Trevor Howard lê o guião que fora concebido por Sidney Bernstein e seus colaboradores.</span></div><span style="font-family:verdana;"><div><br />Agora as «memórias dos campos» podem ser visitadas por toda a gente. <strong>Este é um documento brutal e que exige alguma preparação por parte do espectador.</strong> Tal como os seus mentores pretenderam fazer dele, é um registo que nos mostra sem delicadezas os horrores do Holocausto levados a um extremo inconcebível. <strong><span style="color:#ff0000;">Nunca em nada que Hitchcock tivesse feito, a maldade, a insensatez e a perversão humana haviam sido tão claramente mostrados.<br /></span></strong>Pela primeira vez, Hitchcock editava imagens reais. A verdade acerca dos campos de concentração deixou-o deprimido e impressionado. O seu contributo para o filme foi importante. Mas raramente ele falava deste projecto. O assunto era demasiado delicado. E monstruoso.</div><div><br /></div><div>VEJA O FILME <a href="http://video.google.com/videoplay?docid=-6076323184217355958&hl=en"><span style="color:#3333ff;"><strong>«AS MEMÓRIAS DOS CAMPOS»</strong></span></a></div><div>(1945, 53 minutos; Hitchcock é creditado como técnico editor)</div></span></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-57590116851702003542008-07-16T20:49:00.006+01:002008-12-08T23:33:48.384+00:00AS APARIÇÕES DE HITCHCOCK NOS SEUS FILMES<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SH5SAxTSS9I/AAAAAAAAAPY/80wVwg2S1FY/s1600-h/cameo2.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223702790984059858" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SH5SAxTSS9I/AAAAAAAAAPY/80wVwg2S1FY/s320/cameo2.bmp" border="0" /></a><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SH5RX1JvqMI/AAAAAAAAAPQ/V95TSNaetd4/s1600-h/cameo1.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223702087643146434" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SH5RX1JvqMI/AAAAAAAAAPQ/V95TSNaetd4/s320/cameo1.gif" border="0" /></a><br /><div><div></div><br /><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223701781408346146" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SH5RGAVrcCI/AAAAAAAAAPA/idxwA86kOQA/s320/cameo4.bmp" border="0" /></div><br /><div></div><div><span style="font-family:verdana;">Falar dos filmes de Hitchcock implica fazer referência a um tipo específico de cinema: a soma de ingredientes peculiares doseados segundo uma fórmula única. Costumo dizer que Hitchcock usou a mesma receita para compor histórias de estilos muito diferentes. Filmes diferentes unidos por particularidades comuns. A aparição curta de Hitchcock nos seus filmes tornou-se, com o decorrer dos anos, <strong><span style="color:#3333ff;">uma regra emblemática que ele aprendeu a respeitar com zelo e ironia</span></strong>.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Num filme de Hitchcock, o rotundo Mestre do Suspense pode teoricamente aparecer em qualquer cena, vindo de qualquer zona do ecrã. E de facto, a imagem dele está impressa no celulóide da maioria das suas obras, embora nem sempre haja certezas concretas quanto a pormenores de filmes mais antigos. De modo corrente, Hitchcock só surge na imagem de um filme uma única vez.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>A aparição do realizador provoca um estranho impacto. Gera-se o confronto entre o universo da ficção e o do mundo real</strong></span>, na medida em que Hitchcock é uma figura real inserida no filme. É uma figura que as pessoas conhecem e que tanto tem cabimento dentro do filme como fora dele.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Inicialmente, Hitch fazia aparições pontuais diante das câmaras para poupar trabalhos e despesas. Se havia necessidade de um figurante, ele mesmo se predispunha a ocupar o lugar.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Lentamente, este procedimento converteu-se numa brincadeira e quase num ritual. Às vezes, Hitchcock não tinha cabimento em nenhum contexto da história. Então, providenciavam-se soluções. O anuncio num jornal que aparece em cena. Um retrato ou um pormenor visual no cenário.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Na verdade, as pessoas começaram a dedicar tanta da sua atenção à busca da figura do realizador que algo indesejado tendia a ocorrer: elas afastavam o pensamento da intriga do filme. A trama central era a alma de cada filme e a razão de ser da sua existência. No processo de construção do suspense e da ansiedade, não convinha que pormenores secundários viessem a funcionar como factores contraproducentes. Hitchcock e os seus conselheiros sentiram isso. Então, começou a conceber-se a aparição de Hitchcock para a fase inicial dos filmes. Para que quando vissem Hitchcock, as audiências deixassem de o procurar. Em muitas obras, Hitchcock aparece logo nos primeiros minutos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O chamado «cameo appearance» é definido no dicionário Michaelis como <em><span style="color:#3366ff;">«descrição ou representação teatral curta que mostra de maneira inteligente uma situação ou a personalidade de uma pessoa».</span></em> Este conceito parece adequar-se na perfeição ao modelo das aparições de Hitchcock. Ele nunca profere uma palavra em cena. O momento em que aparece não dura mais do que alguns segundos. A sua presença é muito irónica e quase jocosa (feita portanto à semelhança da imagem que temos dele).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />As aparições de Hitch não são como as de outros realizadores. Nunca como as de Orson Welles ou Charles Chaplin que protagonizavam filmes seus, conferindo dramatismo e autenticidade aos seus papéis. Nunca como Jacques Tati que quase não falava diante das câmaras mas que tem no seu cinema um desempenho físico ou corporal absolutamente nuclear. Nunca como Woody Allen ou Clint Eastwood que são autores de primeiro plano e gostam de interpretar papéis importantes nas suas obras. Woody Allen é sempre irritantemente igual a si próprio e Eastwood tem sérias limitações interpretativas mas eles impõem sistematicamente as suas figuras nos filmes que fazem. Talvez só mesmo Shyamalan utilize uma fórmula semelhante, insistindo em aparecer em pequenos papéis que desempenha, satisfazendo um capricho próprio.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />De resto, Martin Scorsese, Sidney Polack, David Lynch e muitos outros também surgem em imagens de filmes seus ou de outros realizadores. Mas nunca num intuito metodicamente definido e respeitado. <span style="color:#3333ff;">Hitchcock era talvez o único realizador do seu tempo que as audiências reconheciam com facilidade.</span> A sua imagem era propagada nas campanhas publicitárias dos filmes e tornou-se ainda mais difundida através das séries de televisão. <span style="color:#3333ff;">Ele era famoso como um actor. Era uma estrela de cinema numa época em que só os actores eram estrelas.</span></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A ironia de Hitchcock surgir misturado com os seus personagens pode ser lida de muitas formas. A mais interessante delas será conceber que Hitchcock se considerava ele mesmo uma vítima do medo e do suspense. Tal e qual como os heróis e as frágeis vítimas cujas histórias ele contava em filme. O rapazito que aprendera a ter medo do castigo e a angustiar-se com a espera desse castigo estava ali. E não seria tão diferente dos homens e mulheres que lutavam pelas suas vidas nos enredos das suas películas. Hitchcock sabia o que era o medo e a angústia. O universo dos seus filmes pertencia-lhe e ele não existia senão nele.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Mergulhando na filmografia de Hitchcock, verificamos que a sua imagem surge em quase todos os filmes. A seguinte lista mostra-nos um sumário dessas aparições. E o pequeno filme posto no YouTube propõe-nos uma montagem elucidativa.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /></span><span style="color:#3333ff;">«O INQUILINO SINISTRO»</span> (1926): À secretária, numa sala de redacção; e mais tarde, no meio da multidão, a observar a detenção de uma pessoa.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«CHANTAGEM»</span> (1929): Sendo incomodado por um rapaz pequeno, enquanto lê um livro no metro. Considero esta aparição uma das mais cómicas de todas.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«ASSASSÍNIO»</span> (1930): Caminhando à frente da casa onde o crime foi cometido, já o filme tinha começado há cerca de uma hora.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«OS 39 DEGRAUS»</span> (1935): Caminha também numa rua.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«JOVEM E INOCENTE»</span> (1937): À saída do Tribunal, segurando uma câmara, de forma desajeitada.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«A DESAPARECIDA»</span> (1938): Quase no termo do filme, passa na gare da estação de comboios de Londres, usando um casaco preto e fumando um cigarro.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«REBECCA»</span> (1940): Caminhando próximo da cabine telefónica, na parte final do filme, quando George Sanders faz uma chamada.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«CORRESPONDENTE DE GUERRA»</span> (1940): No início da história, depois de Joel McCrea deixar o seu hotel, usando um casaco e um chapéu e lendo um jornal.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«O SR. E A SRA. SMITH»</span> (1941): A meio do filme, passa por Robert Montgomery em frente do seu prédio.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«SUSPEITA»</span> (1941): Colocando uma carta no marco do correio, a 45 minutos do princípio do filme.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«SABOTAGEM»</span> (1942): Numa rua, em Nova Iorque, assim que o carro do sabotador pára; a meio do filme.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«MENTIRA»</span> (1943): No comboio para Santa Rosa, jogando às cartas. Curiosamente, tem as cartas todas do naipe de espadas.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«UM BARCO E NOVE DESTINOS»</span> (1944): Num anúncio a uma dieta que é mostrado num jornal; vemos uma fotografia de Hitch muito gordo e outra dele, bastante menos pesado.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«CASA ENCANTADA»</span> (1945): Saindo de um elevador no Hotel Empire, carregando uma caixa de violino e fumando um cigarro.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«DIFAMAÇÃO»</span> (1946): Na grande festa em casa de Claude Rains, bebendo champanhe de modo muito descontraído (por oposição aos protagonistas que vivem um momento tenso) e depois afastando-se.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«O CASO PARADINE»</span> (1947): Saindo do comboio e transportando um violoncelo.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«A CORDA»</span> (1948): A sua imagem de marca (a silhueta que ele desenhou como auto-retrato) pode ser vista momentaneamente num placard de néon, a partir da janela do apartamento onde decorre toda a acção do filme. Há quem defenda que ele pode ser visto na cena inicial, a caminhar na rua, ao lado de uma mulher.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«SOB O SIGNO DO CAPRICÓRNIO»</span> (1949): Na praça, durante uma parada, vestindo um casaco azul e um chapéu castanho, logo cinco minutos após o início do filme. Dez minutos depois, ele é um dos três homens nos degraus do Parlamento. A acção do filme decorre no século XIX e as roupas de Hitchcock parecem não só estranhas para ele, como para o contexto em que se encontra.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«PÂNICO NOS BASTIDORES»</span> (1950): Volta-se para trás para olhar para Jane Wyman, quando ela vai na rua disfarçada. É o realizador a observar uma personagem a fazer-se passar por outra.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«O DESCONHECIDO DO NORTE-EXPRESSO»</span> (1951): Entrando para um comboio com um contrabaixo, enquanto Farley Granger sai do comboio (na estação da sua terra); logo no início do filme.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«CONFESSO»</span> (1952): Atravessando o topo das escadas, depois do genérico. Um sinal aponta para uma direcção e ele caminha exactamente na direcção oposta.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«CHAMADA PARA A MORTE»</span> (1954): Na fotografia antiga que está na moldura; nela vemos uma reunião de antigos colegas da escola e Hitch está sentada à mesa, do lado esquerdo.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«JANELA INDISCRETA»</span> (1954): Mexendo nos ponteiros do relógio, no apartamento do pianista; a meio do filme.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«LADRÃO DE CASACA»</span> (1955): Aos dez minutos, sentado à esquerda de Cary Grant num autocarro.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«O TERCEIRO TIRO»</span> (1955): Passando perto da limusina de um velho milionário que contempla os quadros expostos.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«O HOMEM QUE SABIA DEMAIS»</span> (1956): Observando os acrobatas no mercado marroquino, de costas para a câmara e do lado esquerdo da imagem; logo antes do assassinato. </div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«O FALSO CULPADO»</span> (1957): Fazendo o discurso de apresentação do filme, logo após o genérico. </div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES»</span> (1958): Cruza-se na rua com James Stewart, onze minutos após o genérico.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«INTRIGA INTERNACIONAL»</span> (1959): Perdendo um autocarro, na conclusão do genérico.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«PSICO»</span> (1960): Está à entrada do escritório onde Janet Leigh trabalha; vemo-lo através do vidro usando um chapéu de cowboy.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«OS PÁSSAROS»</span> (1963): Deixando a loja de animais e levando dois cães pequenos consigo; cruza-se com Tippi Hedren que entra na loja. A cena ocorre imediatamente após o genérico.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«MARNIE»</span> (1964): Surge na imagem, num corredor de Hotel, quando Tippi Hedren vai em direcção ao seu quarto.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«CORTINA RASGADA»</span> (1966): Está sentado no átrio do Hotel d’Angleterre com um bebe loiro ao colo; o bebé urina-lhe numa perna; ele limpa-se discretamente.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«TOPÁZIO»</span> (1969): Vai sentado numa cadeira de rodas e é empurrado por uma enfermeira. Ele levanta-se da cadeira, aperta a mão a um homem e caminha para a direita.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«PERIGO NA NOITE»</span> (1972): No centro da multidão, com um chapéu. As pessoas estão a ouvir o discurso de um orador. Todas o aplaudem menos Hitchcock.</div><div><br /><span style="color:#3333ff;">«INTRIGA EM FAMÍLIA»</span> (1976): Vemos a silhueta dele através do vidro grosso e fosco de uma porta; a meio do filme.<br /></div></div></div><br /><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/LY-lJXCkw_U&hl=pt-br&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><embed src="http://www.youtube.com/v/LY-lJXCkw_U&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-5051729192972521202008-07-12T22:16:00.005+01:002008-12-08T23:33:48.627+00:00PATRICIA HITCHCOCK COMPLETOU 80 ANOS<a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SHkhMI2ft4I/AAAAAAAAAO4/8NwlEfQ0v0U/s1600-h/patriciaHitchcock1.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5222241735331002242" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SHkhMI2ft4I/AAAAAAAAAO4/8NwlEfQ0v0U/s320/patriciaHitchcock1.bmp" border="0" /></a><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SHkg3VjC1qI/AAAAAAAAAOw/I2oXPBo7Jyo/s1600-h/patriciaHitchcock2.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5222241377961825954" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SHkg3VjC1qI/AAAAAAAAAOw/I2oXPBo7Jyo/s320/patriciaHitchcock2.bmp" border="0" /></a><br /><br /><div><span style="font-family:verdana;">Gostaria de ter sido actriz mas o seu pai nunca a encorajou determinantemente a seguir as passadas dessa vocação natural. Talvez fosse mesmo verdade que Hitchcock acreditasse na ironia com a qual gracejava: «<em><span style="color:#3366ff;">Uma actriz não é uma mulher respeitável</span></em>».</span></div><div><span style="font-family:Verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">A perspectiva de ver a filha beijar inúmeros homens diante das câmaras e potencialmente a recriar comportamentos que o desagradassem não o deixaria entusiasmado nem feliz. </span></div><div></div><div><span style="font-family:verdana;">Deveria encontrar-se uma melhor forma de vida para Patricia. Ela brincou um pouco com a ideia de ser actriz. E parece que gostou. Mas não parecia particularmente talentosa nem era muito bonita.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Obteve uma graduação no Marymount High School em Los Angeles mas quis participar nos palcos americanos e ingleses. Podemos vê-la em «Pânico nos Bastidores» (1950) ao lado de Jane Wyman; em «Desconhecido do Norte Expresso» (1951) como a irmã da amante de Farley Granger – aquela que, com os seus óculos de lentes grossas, se parece de modo crasso com a vítima do assassino. E em «Psico» (1960) como a pitoresca colega de Janet Leigh.</span></div><span style="font-family:verdana;"><div><br />Patricia Hitchcock participou numa dezena de episódios da série televisiva do pai, «Alfred Hitchcock Apresenta». Fez aparições fugazes e discretas em filmes como «The Mudlark» (1950) de Jean Negulesco ao lado de Alec Guiness e«Os Dez Mandamentos» (1956) de Cecil B. DeMille. </div><div><br />Hoje permanece a grande herdeira financeira do legado de Hitchcock. Ela e a sua família são detentoras de grande parte dos direitos dos filmes. E, como se sabe, eles são constantemente repostos nas televisões e reeditados no mercado.</div><div><br />Faz depoimentos em muitos dos documentários sobre Hitchcock, falando dele, da sua personalidade e dos seus filmes. Também escreve. É co-autora do livro «Alma: A Mulher por detrás do Homem», sobre a sua mãe, em parceria com Laurent Bouzereau. </div><div></div><div>Lê o que outros escrevem e sentencia palavras de promoção aos livros sobre Hitchcock de que gosta ou que considera que têm valor. Costuma dizer (já a ouvi referir em várias circunstâncias): «<em><strong><span style="color:#3333ff;">O segredo do sucesso do cinema do meu pai é que ele trabalhava sempre a pensar no prazer das audiências</span></strong></em>.»</div><div><br />Patricia não parece interessada em fazer grandes abordagens de contéudo crítico à obra de Hitchcock. Nem parece saber muito de Cinema ou de filmes. Aquilo que ela melhor poderá pronunciar é como foi ser filha desse homem tão peculiar – que se converteu num ícone do século XX.</div><div><br />Dos palcos da Broadway em produções como «Solitaire» (1942) e «Violet» (1944) até ao casamento com Joseph O’ Connel, em 1952, houve uma viragem na sua perspectiva de vida. Converteu-se numa ilustre dona de casa, mãe de três filhas e depois avó.</div><div><br />Patricia fez 80 anos no passado dia 7 de Julho. Nasceu em 1928 na Grã-Bretanha e mudou-se com os pais para Hollywood, em 1939 quando Hitchcock foi convidado por David O. Selznick para realizar «Rebecca». No percurso da sua carreira cinematográfica, os momentos em que trabalhou com o pai ainda serão os mais significativos.</div><div></div><div>Conta-se que no termo das gravações de um episódio da série televisiva de Hitch, ele terá gostado tanto da sua participação que terá sentenciado com um orgulho incontido: «Não foi mesmo bem esta jovem e talentosa actriz?»</span></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-51182402269475998122008-06-29T01:17:00.005+01:002008-12-08T23:33:48.687+00:00EU, CANDIDATO A ESCRITOR, ME CONFESSO<a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SGbVhsgCpEI/AAAAAAAAAOo/9MsryD5EckA/s1600-h/HitchcockComHunter.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5217091993213248578" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SGbVhsgCpEI/AAAAAAAAAOo/9MsryD5EckA/s320/HitchcockComHunter.bmp" border="0" /></a><br /><em><blockquote><em>Em cima, Alfred Hitchcock com o escritor Evan Hunter - célebre autor de livros policiais e do argumento de "Os Pássaros" feito a partir de um conto da romancista inglesa Daphne Du Maurier</em></blockquote></em><br /><span style="font-family:verdana;">É uma situação recorrente as pessoas ouvirem-me narrar um certo diálogo que a minha professora primária travou comigo. Tinha eu então sete anos. A boa senhora de aspecto robusto e austero perguntou-me o que gostaria de ser. Os meus colegas tinham ideias bem definidas acerca dos seus objectivos futuros. (Pelo menos, assim parecia. Quando se está na 3ª Classe, existe uma enorme flexibilidade vocacional.)<br /><br />Eu respondi com bastante prontidão. Queria ser escritor. Sabia que o trabalho que mais prazer me oferecia era o da escrita. Não sabia se um escritor podia viver bem ou mal, podia ganhar muito ou pouco. Se conversávamos sobre ambições na vida, desejaria escrever muito.<br /><br />Como sou demasiado tímido, a escrita permite-me trabalhar dentro do meu mundo pessoal. E isso já me agradava então. Por outro lado, aprendera a escrever pouco depois dos quatro anos. Com o auxílio e dedicação da minha avó. Aos sete anos <em>eu já era um veterano na arte</em>.<br /><br />Escrevia poesia (com rimas ou sem rimas). Contos e pequenas histórias. Construía relatos e comentários críticos aos programas que via na televisão. Tudo em jeito de brincadeira levada a cabo com algum profissionalismo e seriedade. Usava uma máquina de escrever alemã dos anos 50. E quando escrevia, embarcava no meu mundo próprio que cada vez mais adoptei como genuinamente meu.<br /><br />Na realidade, querer qualquer coisa não significa conquistá-la. Ter ambições profissionais inatas não faz pressupor talento natural para um determinado trabalho. Para quase tudo na vida, é preciso empenhar muito tempo e muito esforço.<br /><br />Li recentemente, uma entrevista feita ao famoso escritor Ray Bradbury. Ele sempre alimentou um fascínio particular pelo Cinema. Criou o argumento para vários filmes (entre eles “Moby Dick” de John Huston). E sempre revelou muito receio de adaptar para Cinema obras escritas por outras pessoas. Do mesmo modo que considerava infame a forma como certos argumentistas trabalharam livros seus.<br /><br />Quase todas as pessoas escrevem. Algumas delas escrevem bem. Mas facilmente uma pessoa se consegue achar capaz de escrever um livro. Desde que aplique empenho e vontade – ou às vezes mesmo sem eles. Não existe essa presunção em relação ao trabalho de um compositor, de um engenheiro ou de um médico.<br /><br />A situação é particularmente irritante no universo dos filmes. Porque todos parecem capazes de criticar o trabalho do argumentista. Muito mais prosaicamente do que o fazem em relação ao desempenho do editor de imagens, do set-designer ou do director de fotografia. Esse pormenor irritava Ray Bradbury.<br /><br />O meu mais nobre e altruísta objectivo enquanto criador de escrita (não direi escritor) seria ajudar os outros. A actividade de um escritor pode ser decisiva para os seus leitores: ela pode contribuir para o bem-estar deles através de textos tecidos mediante estratégias precisas. Oferecer lições de vida, ensinamentos. Contar histórias fascinantes que conseguem prender um livro às mãos como se tivesse cola. Agarrar a atenção de quem lê com relatos de fazer suster a entrada de ar nos pulmões e de eliminar todo o sono e toda a fome. Permitir partilhar sabedoria ou pensamentos geniais emitidos por quem pensa de modo invulgarmente brilhante.<br /><br />Meus amigos, confesso. Confesso que não devo ter muito para oferecer. Sinto-me às vezes demasiado cansado para transmitir bem-estar aos que me lêem. O tempo é pouco e passa depressa. As imposições da vida não nos deixam ocupar as horas de cada dia com aquilo que mais nos apaixona.<br /><br />Serei um candidato a escritor. Mas não consigo ligar o botão de produção de escrita logo que me sento com a caneta na mão. Às vezes, quando começo a redigir qualquer coisa, já passou uma hora e não tenho tempo para brincar mais aos escritores. Gosto de pensar no prazer que a escrita me dá. Mas não posso tomar a escrita como uma obrigação profissional ou um dever moral.<br /><br />Há tanta coisa no mundo acerca da qual vale a pena escrever. E há tanta coisa no universo da nossa imaginação que transcende esse mundo - mas que também é real nem que seja no nosso cérebro...<br /><br />Caminho para os quarenta anos. E parece-me tão vaga a sensação de realização profissional. Só gostava de escrever tão bem quanto possível … Acerca de certas pessoas, de certas percepções da vida e de certos tesouros mundiais que enriquecem o património cinematográfico e a história de tudo o que foi o Cinema. Não será pena se um dia morrer e não tiver conseguido louvar na Vida o melhor que ela tem? Louvar por meio da escrita, que não sei fazê-lo de outra forma…<br /><br />Este blog vai terminar no dia 13 de Agosto. Durante mais de três anos, procurei encontrar tempo na minha rotina diária para reflectir sobre o Cinema do Hitchcock. Mas deixei muito por dizer. Até porque tanto já foi dito acerca do Mestre do Suspense que não valeria a pena repetir ideias sentenciadas centenas de vezes pelo mundo fora…<br /><br />Vou procurar aproveitar o tempo que falta. Com o calendário na extremidade da minha secretária. Contabilizando os dias para fazer uma boa gestão do material acerca do qual ainda devo escrever. O tempo não pára. Não pára para quem vive. Não pára para os heróis hitchcockianos que têm as suas vidas presas por um fio – ou que têm poucos segundos até a bomba explodir, ou serem descobertos, ameaçados, feridos ou mortos. Não pára para os escritores. Nem para os candidatos a escritores.</span>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-54343660638916238992008-06-03T20:48:00.011+01:002008-12-08T23:33:48.961+00:00«VERTIGO» HÁ CINQUENTA ANOS<a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SEWsW-cCLlI/AAAAAAAAAOY/6S7S93PUiDA/s1600-h/SaulBass1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5207758054841527890" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SEWsW-cCLlI/AAAAAAAAAOY/6S7S93PUiDA/s320/SaulBass1.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SEWhiecCLkI/AAAAAAAAAOQ/Nd1xqBuON0w/s1600-h/grandeVertigo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5207746157782117954" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 364px; CURSOR: hand; HEIGHT: 240px; TEXT-ALIGN: center" height="240" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SEWhiecCLkI/AAAAAAAAAOQ/Nd1xqBuON0w/s320/grandeVertigo.jpg" width="388" border="0" /></a> </div><br /><br /><div><span style="font-family:verdana;">A estreia de «Vertigo» foi há cinquenta anos. Mais precisamente, no dia 9 de Maio de 1958. Em São Francisco, a cidade onde decorre a acção do filme.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">Cinco décadas depois, o filme de Hitchcock permanece intenso e é um belo exemplo de como a arte cinematográfica consegue seduzir de múltiplas formas. Pelo poder das imagens (em Hitchcock, o aspecto visual é preponderante), pela inteligência do argumento, pelo fascínio da música, pelos aspectos técnicos da montagem das cenas e do tratamento da cor; pela presença dos actores, pela ousadia técnica num período em que filmar a queda de um corpo ou a encenação visual de uma vertigem exigia perícia e «<em>know-how</em>».</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Cinquenta anos depois, aqui deixo duas ligações para o Youtube: uma para o genérico do filme, outra para o trailer da reposição em cópia restaurada (tal como foi apresentado há cerca de uma década).</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Considerado, por muitos, como o melhor filme do Mestre do Suspense; idolatrado por cinéfilos de todo o mundo que o ousam colocar na lista dos dez melhores de sempre, «Vertigo» é uma obra ímpar. <strong><span style="color:#ff0000;">Uma viagem ao universo da angústia e da obsessão.</span></strong> Um filme peculiar que desenvolve a sua intriga sob um suspense que tem muito mais de emocional e de psicológico do que trepidante e rocambolesco.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">«Vertigo» representa um trajecto febril pelo patamar das emoções, dos sentimentos, das paixões que se convertem em obsessões e do amor que se converte em neurose. Trajecto que parece sinuoso e interminável. Como o desenho de uma espiral. Que pode ter tido início na cena em que o protagonista fica suspenso no telhado e só parece ter fim quando ele se debruça do alto do campanário (sem medo de perder nada talvez porque já tenha perdido tudo).</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">«Vertigo» mostra-nos que <strong><span style="color:#3333ff;">desejar qualquer coisa implica deduzir que ela existe</span></strong> de algum modo. Que o passado é tão real como o presente. Que o pesadelo angustia e assusta tanto como a realidade de quem está a dormir e a sonhar. Que a fronteira entre o que existe e o que se vê pode ser maior do que parece. Que amar é um sentimento vivo mesmo que signifique a paixão por algo que morreu (ou que, pior ainda, nunca existiu).</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">A um universo hipnótico e onírico, Hitchcock contrapõe o mundo de Midge – que não tem magia, nem fantasmas, nem sedução erótica; repare-se que nas cenas em que Midge aparece, não pontua a música assombrosa e apaixonada de Bernard Herrmann.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">Hitchcock mostra-nos claramente que o fascínio de algumas das grandes emoções implica vertigens; que a abertura para a contemplação da beleza e do prazer pressupõe o conhecimento daquilo que é horrível ou doloroso. A paixão de Scottie por Madeleine é verdadeira mas perigosa. Bela mas venenosa. Romântica mas dissonante. Como a banda sonora de Herrmann.</span></div><br /><br /><div><span style="font-family:Verdana;"></span> </div><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/qW_eflvR4c4&hl=en"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/qW_eflvR4c4&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" width="425" height="344"></embed></object><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/DlF5MYoUa70&hl=en"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/DlF5MYoUa70&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" width="425" height="344"></embed></object>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-54438125933097016122008-05-20T23:03:00.009+01:002008-12-08T23:33:49.231+00:00JAMES STEWART NASCEU HÁ CEM ANOS<div align="center"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SDNaenNZvzI/AAAAAAAAAOI/4weEbDcMihI/s1600-h/JamesStewart.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5202601476510826290" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SDNaenNZvzI/AAAAAAAAAOI/4weEbDcMihI/s320/JamesStewart.bmp" border="0" /></a> <strong>JAMES STEWART (1908 - 2008)</strong></div><div align="center"><br /></div><p><a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SDNaLnNZvyI/AAAAAAAAAOA/6E6uREc-Isw/s1600-h/JamesStewart2.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5202601150093311778" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SDNaLnNZvyI/AAAAAAAAAOA/6E6uREc-Isw/s320/JamesStewart2.bmp" border="0" /></a><br /><span style="font-family:verdana;">Faz hoje cem anos que nasceu. Chamava-se James Maitland Stewart. Foi um dos mais consagrados actores americanos de sempre. Ganhou um óscar em "The Philadelphia Story" (1940) de George Cukor - uma comédia com Katharine Hepburn e Cary Grant. Mas eu não o esqueço em "A Loja da Esquina" do mesmo ano e realizado por Ernst Lubitsch e igualmente no clássico "Do Céu Caiu uma Estrela" (1946) de Frank Capra.</span></p><p><span style="font-family:verdana;">Foi igualmente notável em "Harvey" (1950) de Henry Koster onde representava um excêntrico homem cujo melhor amigo seria um coelho gigante que ninguém via. Ou em "Anatomia de Um Crime" (1959) de Otto Preminger, onde representava o papel de um advogado no cenário dramático de um tribunal.</span></p><p><span style="font-family:verdana;">Representou vários westerns mas nunca gostei muito de o ver encarnar papéis de cowboy. O melhor desses exemplos será "O Homem Que Matou Liberty Valance" (1962) de John Ford.</span></p><p><span style="font-family:verdana;">Mas claro que um dos melhores espaços de trabalhou que encontrou foi ao lado de Alfred Hitchcock. Para o cineasta do suspense, protagonizou quatro filmes, dois deles brilhantes ("Vertigo" e "Janela Indiscreta") outros dois bastante interessantes (o divertido "O Homem Que Sabia Demais" e o experimental "A Corda").</span></p><p><span style="font-family:verdana;">Penso que aquilo que mais me agrada na presença de Stewart é que <strong><span style="color:#3333ff;">representava brilhantemente o homem comum.</span></strong> Não me parece que tivesse grandes capacidades interpretativas. Não como Henry Fonda, Anthony Quinn, William Holden, Alec Guiness ou Burt Lancaster. Mas a postura de Stewart era convincente.</span></p><p><span style="font-family:verdana;">Não tinha um aspecto atlético nem conquistador. Parecia frágil, vulnerável, facilmente afectado pelas vicissitudes das intrigas hitchcockianas. Contrariamente a Cary Grant cujos papéis pareciam mais artificiais e eram muito menos dramáticos (porque no cinema de Hitchcock, Grant parecia conseguir vencer sempre as adversidades com moderada destreza). E quando Hitchcock quisera fazer dele um vilão (em "Suspeita") nem os produtores o consentiram.<br /><br />A história da maior parte dos filmes de Hitchcock envolve homens e mulheres comuns. James Stewart parecia um deles. Era um deles. <strong><span style="color:#3333ff;">Mostrava-se genuíno na figura do homem que é vítima dos outros e de si próprio.</span></strong> <strong><span style="color:#3333ff;">E que sofre o drama das suas limitações e fraquezas.</span></strong> Stewart interpretava papéis complexos e que na generalidade não eram lineares. Esse foi um valioso contributo para o cinema de Hitchcock - facilmente o espectador se identifica com um homem vulnerável, que não é muito valente nem particularmente virtuoso. (Afinal, quem o mandou espreitar para as janelas dos vizinhos ou envolver-se pela suposta mulher de um pretenso amigo?)</span></p>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-14771029569395530742008-05-14T23:21:00.010+01:002008-12-08T23:33:49.732+00:001955: O ANO DA FELICIDADE<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SCtoG3NZvvI/AAAAAAAAANo/lvi2_TpjfP8/s1600-h/TerceiroTiro1.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200364661838036722" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SCtoG3NZvvI/AAAAAAAAANo/lvi2_TpjfP8/s320/TerceiroTiro1.bmp" border="0" /></a> 1) Os bosques da Nova Inglaterra<br /><br /><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SCtnP3NZvuI/AAAAAAAAANg/4PKvc2Q5-cw/s1600-h/TerceiroTiroBurks.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200363716945231586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SCtnP3NZvuI/AAAAAAAAANg/4PKvc2Q5-cw/s320/TerceiroTiroBurks.bmp" border="0" /></a> 2) O genérico de "Terceiro Tiro" com o nome de Robert Burks</div><div> </div><div>3) Uma cena de "Ladrão de Casaca"<br /><br /></div><div><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SCtmw3NZvtI/AAAAAAAAANY/yK4VPVdTJN8/s1600-h/ladraodeCasacaFotografia.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200363184369286866" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SCtmw3NZvtI/AAAAAAAAANY/yK4VPVdTJN8/s320/ladraodeCasacaFotografia.bmp" border="0" /></a><br /><span style="font-family:times new roman;"> </span><span style="font-family:verdana;">A Hitchcock está usualmente associada a imagem de um cinema denso e dramático. Mais emocionalmente intenso do que idílico. É verdade que os seus filmes desenvolvem permanentemente as temáticas do suspense, do medo e do crime. Cenários visuais como os de “Rebecca” ou de “Psico” são sintomáticos do clima sombrio que ele construia com maestria e naturalidade no seio do seu trabalho.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Hitchcock gostava muito de filmar a preto-e-branco. O seu primeiro filme a cores, “A Corda” (1948) foi realizado dez anos depois de algumas das mais famosas produções em Technicolor. O clássico “E Tudo o Vento Levou” de 1939, produzido por David O. Selznick, é o retrato de uma indústria que se revigorava à passagem de cada década. Com o final dos anos 20 veio o som. No termo dos anos 30 desenvolveu-se categoricamente a fotografia a cores nos filmes.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Como parece lógico, há filmes que beneficiam mais particularmente dos recursos decorrentes de uma imagem multicolorida que pode ser trabalhada com tons mais intensos ou esbatidos. Em Hollywood, cedo se interiorizou um conceito mais ou menos explícito: <strong>um filme dramático beneficia da perspectiva sombria e nostálgica do preto-e-branco</strong>. Por isso, filmar a preto-e-branco persistiu como um procedimento corrente até à década de 60. E no domínio dos óscares (para referir o caso dos mais famosos prémios de Cinema), fazia-se a distinção entre o galardão para a Melhor Fotografia a Cores e o galardão para a Melhor Fotografia a Preto-e-Branco.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Nos anos 70 e 80, Woody Allen, Martin Scorsese, David Lynch e muitos outros cineastas notáveis recusariam a cor na fotografia de alguns dos seus filmes – em abono de uma interiorização psicológica maior ou da construção de retratos do mundo tão extremamente humanos como desumanos.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Hitchcock gostava de filmar a preto-e-branco e só muito depois de 1948 é que admitiu que a cor lhe oferecia mais recursos suplementares de trabalho.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Em 1955, encontramos dois filmes ligeiros na filmografia do Mestre do Suspense. São cómicos e imbuídos de ironia. Não têm um suspense de cortar a respiração nem uma intriga exemplarmente hitchcockiana. Mas, mais do que isso, um pormenor os parece ligar: <strong><span style="color:#3333ff;">a intensidade e beleza da cor.</span></strong></span></div><strong><span style="color:#3333ff;"><div><br /></span></strong><span style="font-family:verdana;">Claro que me refiro a “Ladrão de Casaca” e “Terceiro Tiro”. Filmes com imagens de grande beleza cinematográfica e artística. O primeiro recebeu o Óscar para Melhor Fotografia – foi o único filme de Hitchcock a receber um óscar nessa categoria. O segundo enquadra uma trama «deliciosamente» macabra nas paisagens idílicas da Nova Inglaterra.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Nem importa que o suspense neste ano de 1955 não fosse de colar o espectador à cadeira. <strong>Parece que Hitchcock buscava inspiração num outro tipo de imagens</strong> – horizontes de paz, bosques esverdeados quase que aparentemente pintados numa tela (sem parecerem nada artificiais).</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">Naquele ano, Hitchcock parecia inclinado a criar cinema mais ligeiro e particularmente belo ao olhar.</span></strong> Podemos constatar que “Ladrão de Casaca” é uma moderada desilusão. Enquanto “Terceiro Tiro” surge como uma inteligente e bem tecida ironia mas não oferece ao hitchcockiano comum aquilo que ele mais aprecia.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Críticas feitas aos filmes, <strong><span style="color:#3333ff;">o poder da fotografia a cores</span></strong> (bem intensa nas duas obras) resulta como um dos mais belos trunfos do cinema de Hitchcock naquele ano de 1955. “Terceiro Tiro” é um exemplo cinematográfico mais equilibrado do que Ladrão de Casaca”. Em todos os aspectos sem excepção.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">“Ladrão de Casaca” reúne um par mítico de actores: Cary Grant e Grace Kelly. Mas nem o «glamour» das estrelas nem a paisagem paradisíaca das praias do Mónaco, emprestam ao filme o impacto emocional suficiente. Se esse impacto não foi procurado, Hitchcock quereria pelo menos fazer ali um filme divertido - e só atingiu esse propósito de modo parcial e desequilibrado.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">“Terceiro Tiro” parte, pelo contrário, de um argumento bastante inspirado e que é desenvolvido por um grupo de actores que soube emprestar àquela trama humana toda a graça e naturalidade que eram necessárias.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">A fotografia de “The Trouble with Harry” é quase perfeita. Em “To Catch a Thief”, há trabalhos de montagem menos geniais. Refiro-me às cenas em que os protagonistas passeiam de carro. Era comum filmar os actores num cenário e depois fazer passar imagens por detrás deles. O truque poupava o esforço de filmar os intérpretes num carro em movimento mas nem sempre resultava na perfeição. Aos olhos dos jovens dos nossos dias, habituados ao nível da qualidade técnica contemporânea, certos defeitos parecem crassos e por isso lhes apetecerá dizer: «<em>Vê-se mesmo que é uma montagem!</em>»</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Nestes âmbitos da Fotografia no universo hitchcockiano, parece incontornável referir o nome de um grande técnico, <span style="color:#3333ff;"><strong>Robert Burks</strong></span>, que trabalhou em 12 filmes do realizador e foi responsável por desempenhos notáveis. Burks fazia parte da grande equipa que trabalhou com Hitchcock na época áurea da sua carreira.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Em 1951, foi o brilhante director de fotografia de “Desconhecido do Norte-Expresso”. Depois, foi sempre aceitando propostas diferenciadas do cineasta inglês. Umas exigiam imagens reais, cruas e quase documentais – como “Falso Culpado” ( 1957) ou “Confesso” (1952). Outras careciam de um tipo de imagem mais estilizada – como “Janela Indiscreta” (1954) que se passava num cenário fechado e clautrofóbico ou “Vertigo” (1958) que vivia de imagens oníricas, nubladas, às vezes captadas em espaços amplos e muito abertos. </span></div><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">Em tudo aquilo em que colaborou com Hitchcock, Robert Burks respondeu com o melhor de si. E nunca desiludiu em aspecto algum.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Em “Chamada para a Morte”, usou uma cor densa naquilo que pode ser considerado uma peça filmada em termos cinematográficos. As imagens do filme foram depois trabalhadas para serem projectadas segundo o processo tecnológico das 3 dimensões. Na cena do ataque a Grace Kelly, o pormenor da tesoura era particularmente evidenciado.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Em “O Homem Que Sabia Demais” (1956) e “Intriga Internacional”, a riqueza de certos decors era captada com o auxílio de Robert Burks. A “O Falso Culpado” (1957), foi impressa a autenticidade de um documento quase jornalístico.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Robert Burks também trabalhou em “Marnie” e “Os Pássaros”. Curiosamente, ele era um mestre na área específica dos efeitos especiais. Trabalhou num filme americano sobre o milagre de Fátima – “The Miracle of Our Lady of Fatima” (1952) mas também no mesmo domínio em “Key Largo” (1948) de John Huston, “The Woman in White” (1948) de Peter Godfrey feito a partir de um dos meus romances clássicos preferidos, “The Big Sleep” (1946) de Howard Hawks e “Arsenic and Old Lace” (1944) de Frank Capra.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">O trabalho de Robert Burks como o de qualquer outro grande director de fotografia enriquece a arte de todo o tipo de cineastas. Aos que não têm ideias nem talento, empresta alguma magia visual. Àqueles que são mestres na realização, oferece tudo aquilo que lhes é pedido, apela a sugestões significativas e responde para além daquilo que é inicialmente proposto.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Filmes como “Apocalipse Now” (fotografia de Vittorio Storaro), “Niagara” (fotografia de Joseph MacDonald), “2001 – Odisseia no Espaço” (fotografia de Geoffrey Unsworth), “Taxi Driver” (fotografia de Michael Chapman), “Big Fish” (fotografia de Philippe Rousselot) “Dracula” de 1992 (fotografia de Michael Ballhaus) e tantos tantos outros nunca seriam tão visualmente impressivos sem o contributo dos seus directores de imagem.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">A Robert Burks, fica ligada a qualidade técnica da fotografia de alguns dos grandes fimes de Hitchcock. Curiosamente, fez há dois dias 40 anos que ele morreu. Num terrível incêndio. No dia 13 de Maio de 1968 – dia de Nossa Senhora de Fátima cuja história ele deve ter conhecido bem durante o trabalho referido (de 1952).</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Na filmografia de Hitchcock gosto de nomear o ano de 1955 como <strong><span style="color:#3333ff;">o ano da felicidade das cores vivas, intensas, e alegres</span></strong>. Seja nas luzes brilhantes do rebentar dos foguetes em “Ladrão de Casaca” ou nos bosques densos do “Terceiro Tiro”. Seja no azul do mar das praias monegascas ou nas telas que Sam Marlowe (John Forsythe) pintava. Seja até nas peúgas coloridas do Harry, esse morto que apareceu estendido no ambiente pacífico do campo.</span></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-32646903228444503082008-04-27T03:36:00.002+01:002008-12-08T23:33:49.858+00:00A MORTE<a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SBPm8Kat6OI/AAAAAAAAANQ/f30eD8cK6c4/s1600-h/OlhosMae.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193748716551268578" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/SBPm8Kat6OI/AAAAAAAAANQ/f30eD8cK6c4/s320/OlhosMae.jpg" border="0" /></a><br /><div align="left"><span style="font-family:times new roman;">«<em>You know what I think? I think that we're all in our private traps, clamped in them, and none of us can ever get out. We scratch and we claw, but only at the air, only at each other, and for all of it, we never budge an inch.</em> »<br />Norman Bates em “Psico” (1960)<br /><br />«<em>Com a morte, separação da alma e do corpo, o corpo cai na corrupção, enquanto a alma, que é imortal, vai ao encontro do Julgamento divino e espera reunir-se ao corpo quando este, transformado, ressuscitar no regresso do Senhor. Compreender como acontecerá a ressurreição supera as possibilidades da nossa imaginação e do nosso entendimento</em>.»<br />In Catecismo da Igreja Católica (Resposta à questão “Com a morte, que sucede ao nosso corpo e à nossa alma?”)<br /></span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Tão trágica como incontornável. Tão avassaladora como estranhamente natural à existência humana. Realidade que devora tudo aquilo em que toca. A Morte foi tema de inspiração para muitos filmes de Hitchcock.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:verdana;">Morte como drama da perda. Morte como o culminar do medo e perspectiva aterradora de quem sente esse medo. A Morte poderá representar o fim. Mas também pressupõe um começo para além de si.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:verdana;">Morte é separação. Distanciamento. É-nos difícil conceber um universo com limites físicos. Para lá de cada estrela, planeta ou galáxia, parece fazer sentido que haja espaço para mais. Se o universo tiver um termo, parece fácil conceber que haja qualquer coisa para além dele. Logo, se verificamos que é plausível a infinidade do espaço, também podemos admitir que a vida não termine com a morte terrena.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:verdana;">Mas se tudo não passa de um jogo de aparências e o mistério final da vida de tudo o que existe nos for mantido secreto, então seremos quase como ratos de laboratório. Talvez Deus exista e nos ame muito mas aparentemente Ele poderá ser tão verdadeiramente hitchcockiano como o próprio Hitchcock.</span></div><div align="left"><span style="font-family:verdana;"> <br />Sim. Seremos inegavelmente culpados de muitas das fatalidades que nos sucedem. Mas se somos impotentes e ineficazes na prática da benevolência com os outros e com nós próprios, Deus parece querer testar a nossa paciência. Parece querer avaliar a nossa bravura e santidade (seja lá o que isso for), confrontando-nos com adversidades que não compreendemos e que nos amargam a existência. A mais emblemática dessas adversidades poderá ser a Morte. Com tudo o que representa de doloroso e de insolúvel.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:verdana;">Deus tece laboriosamente as nossas vidas com redes de suspense, de expectativa e de mistério. Talvez Ele não possa mesmo fazer mais por nós. Não duvidando da Sua bondade e benevolência paternal, talvez existam obstáculos contrários à ordem Dele. E que impeçam a Sua boa vontade. Poderemos ser nós próprios esses obstáculos, ao tomarmos as opções erradas. O Catolicismo faz-nos crer que sendo dotados de um livre arbítrio, seremos livres para escolher. Mas nesse caso, o nosso destino dependerá das nossas escolhas. E seremos castigados pelo nosso egoísmo e imprudência.</span></div><div align="left"><br /><span style="font-family:verdana;">Talvez muito simplesmente o nosso raciocínio lógico não faça sentido num quadro mais amplo. Seremos como as formigas que passam no chão junto aos nossos pés e que não nos preocupamos em preservar vivas.</span></div><span style="font-family:verdana;"><div align="left"><br />Aparecemos neste mundo peculiar, de modo singelo. Não trazemos nada connosco. Depois vamos crescendo e vendo morrer pessoas que nos são preciosas – elas também deixando aqui tudo o que lhes pertencia. E partiremos desta vida um dia, deixando aqui o que durante algum tempo limitado ousámos pensar que era nosso. Mas o que é que é nosso? O que é que é verdadeiramente nossa propriedade?</div><div align="left"><br />Estranha forma de vida, a dos humanos! Os animais não têm consciência das suas limitações cognitivas. Mas nós sabemos bem o que é viver com meias soluções! Na verdade, uma chave ou abre uma fechadura ou não o faz de todo.</div><div align="left"><br />Quero acreditar que a morte terrena não é o fim. Dizem-me que tem mais mérito aquele que acredita sem ver. E toda a fé (qualquer tipo de fé) precisa de ser cuidada para se desenvolver e prosperar; precisa de mimos e sustento como uma planta ou uma criança pequena.</div><div align="left"><br />No entanto, não sei se a minha meia convicção não traduz uma incerteza – será como a chave que quase descerra uma porta mas não chega a fazê-lo.</div><div align="left"><br />Pessoalmente, aquilo que mais me parece penoso na morte terrena é a realidade da separação – a certeza de que enquanto formos como somos, nunca mais iremos ver uma determinada pessoa amada.</div><div align="left"><br />Fica a consolação da memória; a mágoa da saudade que às vezes se traduz em lágrimas, outras vezes está tão escondida dentro de nós que não recebe existência corpórea.</div><div align="left"><br />A Morte e a Vida estão no mesmo patamar, no mesmo segmento, na medida em que não existe uma sem a negação da outra. <strong>Encontramos dezenas de mortes na filmografia de Hitchcock.</strong> Crimes, quase sempre. Acidentes. Suicídios. Mortes por negligência. Desejo de matar ou de ver morto. Negação da realidade da morte que conduz à neurose e à psicopatia. Morte que corrói os sentimentos. Que deixa remorsos. Que cimenta obsessões.</div><div align="left"><br />Escrevo este comentário num momento particularmente amargo e confuso da minha vida. Tem servido este blog também como um mecanismo de expressão de confissões. Reflicto neste espaço sobre o Hitchcock e sobre o seu cinema. Mas parece-me honesto e pontualmente acertado escrever sobre mim. Como o antropólogo que escrevendo sobre uma realidade social, não se pode nunca despojar completamente da sua identidade própria e dos valores culturais com que foi ensinado a ver o mundo.</div><div align="left"><br />Parece-me compreensível que entenda melhor a minha percepção do cinema de Hitchcock, quem compreenda o nível emocional dos meus pensamentos. Em muitos aspectos, não serei tão diferente assim desse Alfred Joseph. Ele, como eu, era um homem tímido, receoso, desejoso da aceitação dos outros e pontualmente solitário. Pacato, reservado, habitualmente sereno. Amante dedicado da sua família e do seu lar.</div><div align="left"><br />Quando escrevo estas linhas, passaram escassos dias após a morte da minha mãe. Nunca pensei que ela viesse a estar no centro de uma página deste blog. No entanto, tenho andado tão detido a pensar no fenómeno humano da mortalidade que tudo parece convergir na mesma direcção.</div><div align="left"><br />Acho que, tal como muitos personagens do cinema de Hitchcock, vivo numa realidade em que a Morte ocupa demasiado espaço e é difícil fugir dela.</div><div align="left"><br />Reconheço que devemos aceitar as adversidades com serenidade. Procurando aprender com elas. Prossigo a minha vida. Confortado pela lembrança dos olhos da minha mãe. Pela recordação da sua inocência, ingenuidade e entrega maternal. E procuro ser digno de tudo o que recebi dela, da herança de valores sentimentais e culturais que ela me deixou. E do exemplo de vida que me mostrou: o de alguém que sempre aceitou repetidas e continuadas adversidades com um sorriso plácido. Alguém para quem o conceito de felicidade não passava por metas distantes nem por obstáculos difíceis de transpor. Para quem a alegria e o entusiasmo se concretizavam com pequenas conquistas: uma flor, uma chávena de leite numa esplanada ao Sol, o calor da família unida em redor de si.</div><div align="left"><br />Um filho sente-se sempre perdido sem a sua mãe. É assim desde o momento do parto quando se dá a primeira separação.</div><div align="left"><br />Considero que um dos grandes méritos da fotografia, do vídeo e do cinema é que eternizam as pessoas. Oferecem-lhes, de algum modo, vida eterna neste mundo. Vemo-las assim sempre belas e jovens, intocáveis e imutáveis. Os anos não passam para os personagens dos filmes. Nem para os nossos antepassados e contemporâneos que se deixaram fotografar.</div><div align="left"><br />Mas o Cinema não é a vida real. Aqui, no mundo real, onde não gostamos nem do medo nem da morte, somos confrontados forçosamente com eles. Sem fuga possível. Hitchcock dizia: «<em>Num filme, o realizador é um deus. Na vida, Deus é o realizador.</em>»</div><div align="left"><br />Aqui fico e prossigo a minha caminhada. Continuarei a ver alguns dos filmes de que a minha mãe gostava. E que me ensinou a apreciar também. E a escutar alguns dos discos que me deixou. Ela continuará viva no seio da nossa família. E nós nunca a esqueceremos.</div><div align="left"><br />Espero que estas palavras não saiam só do meu pensamento inquieto para o papel e para o universo on-line deste blog. Mas que algures a minha mãe as possa escutar ou sentir. Assim sei que em resposta a elas, se abrirá no seu rosto o tal sorriso plácido e sereno. Benevolente e pacífico. E tudo fará um pouco mais de sentido…<br /> </span></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-44171000234417335672008-02-15T21:07:00.017+00:002008-12-08T23:33:51.767+00:00ALFRED HITCHCOCK APRESENTA «VANITY FAIR»<a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YEfGigBHI/AAAAAAAAANI/Y2-cUFmI9Lk/s1600-h/vanityFair1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167322554831996018" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YEfGigBHI/AAAAAAAAANI/Y2-cUFmI9Lk/s320/vanityFair1.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YEV2igBGI/AAAAAAAAANA/tW5lCTpbigA/s1600-h/vanityFair2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167322395918206050" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YEV2igBGI/AAAAAAAAANA/tW5lCTpbigA/s320/vanityFair2.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YELmigBFI/AAAAAAAAAM4/7_Vs4XNC0GE/s1600-h/VanityFair3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167322219824546898" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YELmigBFI/AAAAAAAAAM4/7_Vs4XNC0GE/s320/VanityFair3.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YEDGigBEI/AAAAAAAAAMw/yk9ybsk4rag/s1600-h/VanityFair4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167322073795658818" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YEDGigBEI/AAAAAAAAAMw/yk9ybsk4rag/s320/VanityFair4.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YD2GigBDI/AAAAAAAAAMo/XLopzlB0G9k/s1600-h/VanityFair5.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167321850457359410" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YD2GigBDI/AAAAAAAAAMo/XLopzlB0G9k/s320/VanityFair5.jpg" border="0" /></a> </div><div><br /><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDtWigBCI/AAAAAAAAAMg/jPn-pNH4QWQ/s1600-h/VanityFair6.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167321700133504034" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDtWigBCI/AAAAAAAAAMg/jPn-pNH4QWQ/s320/VanityFair6.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDiWigBBI/AAAAAAAAAMY/4DyxZdbuUIc/s1600-h/VanityFair7.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167321511154942994" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDiWigBBI/AAAAAAAAAMY/4DyxZdbuUIc/s320/VanityFair7.jpg" border="0" /></a> </div><div><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDV2igBAI/AAAAAAAAAMQ/BKn1z5unbRM/s1600-h/VanityFair8.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167321296406578178" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDV2igBAI/AAAAAAAAAMQ/BKn1z5unbRM/s320/VanityFair8.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDG2igA_I/AAAAAAAAAMI/_vytzZf_4CY/s1600-h/VanityFair9.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167321038708540402" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YDG2igA_I/AAAAAAAAAMI/_vytzZf_4CY/s320/VanityFair9.jpg" border="0" /></a> </div><div><br /><div><a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YC6GigA-I/AAAAAAAAAMA/hqqrttpWeQU/s1600-h/VanityFair10.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167320819665208290" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YC6GigA-I/AAAAAAAAAMA/hqqrttpWeQU/s320/VanityFair10.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YCv2igA9I/AAAAAAAAAL4/kSbxLUT6sA4/s1600-h/VanityFair11.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167320643571549138" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YCv2igA9I/AAAAAAAAAL4/kSbxLUT6sA4/s320/VanityFair11.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YCj2igA8I/AAAAAAAAALw/16HFE4fsTIw/s1600-h/VanityFair12.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5167320437413118914" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R7YCj2igA8I/AAAAAAAAALw/16HFE4fsTIw/s320/VanityFair12.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">Num blog que é essencialmente feito de palavras, não resisto perante a ideia de colocar aqui uma pequena galeria de fotografias interessantes. Esta colecção foi publicada na mais recente edição da revista «Vanity Fair». Pode-se gostar mais ou menos solidamente do trabalho dos fotógrafos mas é inegável que esta revisitação do universo do Hitchcock manifesta rigor e minuciosidade.</span><span style="font-family:verdana;"><br /><br /><div>Estes são retratos de cenas emblemáticas. Feitos a partir de imagens que verdadeiramente nunca morreram – imagens que permanecem vivas na memória de cinéfilos do mundo inteiro. Pode-se no entanto argumentar que aqui essas imagens ganharam uma nova forma física. Para a criação deste trabalho fotográfico, foi imperativo dirigir os actores como se estivessem interpretando emotivamente os seus papéis.</div><br /><div>E, de facto, a «Vanity Fair» não seleccionou uns actores quaisquer. Ainda que para fins estéticos, quaisquer modelos servissem. Na verdade, esta é uma celebração do Cinema feita pela nova geração de estrelas o que reforça a ideia de que o universo cinematográfico se regenera e potencia a si mesmo. <strong><span style="color:#3333ff;">Este é um ritual de memória a um cineasta especial mas é também um veículo de observação do passado histórico pelos olhos da contemporaneidade.</span></strong> Vemos actores dos nossos dias dando vida a personagens e a cenários que nunca morrem.</div><br /><div>O trabalho final dos fotógrafos é a galeria que aqui se apresenta. Mas é muito interessante ver o vídeo que está no site da «Vanity Fair» para nos apercebermos do esforço de recriação das cenas, esforço levado a uma estranha preocupação com todos os pormenores. Porque para imitar Hitchcock, parece incontornável ser exageradamente meticuloso. E numa revista como a «Vanity Fair» o cuidado com o guarda-roupa é um padrão.</div><br /><div>Afinal este trabalho é mais uma prova viva de como o cinema de Hitch continua a influenciar e a inspirar autores das mais variadas áreas artísticas. Vimos já neste blog influências de Hitchcock noutro cinema; em artes gráficas e audiovisuais; em argumentistas, escritores e outros agentes da indústria cinematográfica; e também no patamar da publicidade e do marketing. <span style="color:#3333ff;">Este exemplo específico centra-se no papel da <strong>Fotografia</strong> como forma de captar um momento; de recriá-lo de modo perpétuo; e de extrair o seu significado simbólico e o ambiente psicológico que lhe está associado.</span></div><div><br />Como dizia Hitchcock, <span style="color:#000000;">o seu cinema é puramente visual</span>. Por isso, a Fotografia surge como um veículo privilegiado de eternização de uma cena. Cada fotografia representa um momento eternizado para sempre. Assim parece-me muitíssimo pertinente que o vídeo de promoção não tenha música mas sons pontuais que funcionam como chaves de identificação das narrativas. Um trovão, um grito, o soprar do vento, o estalido de uma máquina fotográfica...</div><div><br />Podemos ver aqui 21 actores encarnando papéis do universo de Hitch. Charlize Theron (substituindo Grace Kelly em “Chamada para a Morte”), Renée Zelwegger (no papel de Kim Novak em “Vertigo”), Scarlett Johansson e Javier Bardem ( nos espaços de Grace Kelly e James Stewart em “Janela Indiscreta”); vemos Naomi Watts encarnando Marnie e Marion Cotillard (que representou recentemente Edith Piaf em “La Vie en Rose”) ser massacrada no chuveiro de “Psico”. Encontramos Gwyneth Paltrow e Robert Downey Jr. no ambiente de romance de “Ladrão de Casaca”. E encontramos duas actrizes mais velhas numa recriação de “Um Barco e Nove Destinos”: Eva Marie Saint, a estrela de “Intriga Internacional” e Julie Christie – que está na corrida para os Óscares deste ano.</div><div><br />Já agora, acrescento: os fotógrafos que aqui trabalharam são: Julian Broad, Norman Jean Roy, Mark Seliger e Art Streiber. Aconselho a leitura da crónica sobre a feitura deste trabalho. Na própria revista ou no site.</div><div></div><div>Um presente simpático da «Vanity Fair» que este hitchcokiano agradece. Só não compreendo muito bem porque é que a fotografia de “Rebecca” tem uma cor tão intensa. O filme foi filmado a preto e branco e vive de imagens sombrias.</div><div> </div><div>Veja o <a href="http://www.vanityfair.com/culture/features/video/2008/hitchcockportfolio_video200803">VIDEO DE PROMOÇÃO DA GALERIA </a></span></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-11161256937794709122008-01-15T00:26:00.000+00:002008-12-08T23:33:52.001+00:00CHAMPANHE À HITCHCOCK PARA ACLAMAR O NOVO ANO<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R4v_YJfYkDI/AAAAAAAAALQ/hh3duXj8glI/s1600-h/KeyToReserva2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5155494988785160242" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R4v_YJfYkDI/AAAAAAAAALQ/hh3duXj8glI/s320/KeyToReserva2.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R4v-6ZfYkCI/AAAAAAAAALI/lNot4O8Btw8/s1600-h/KeyToReserva.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5155494477684052002" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R4v-6ZfYkCI/AAAAAAAAALI/lNot4O8Btw8/s320/KeyToReserva.jpg" border="0" /></a><br /><div><div><span style="font-family:verdana;">É uma tradição que se revisita com prazer. Para saudar o ano que começa, brinda-se com uma taça de champanhe ou então com um mais modesto vinho espumante. A indústria, o comércio e as campanhas de publicidade e de marketing que lhes estão associadas incentivam este ritual de celebração.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />No contexto, surge uma obra um pouco inesperada. Foi criada por Martin Scorsese e é uma curta-metragem de tributo a Alfred Hitchcock. Trata-se de um pequeno exercício de revisitação nostálgica do universo de Hitch. Um esboço fílmico feito por quem sabe fazer cinema, conhecendo solidamente a História da Arte Cinematográfica. Mas convenhamos: nasceu como filme publicitário de uma marca de champanhe e de modo essencial só nos permite verificar a destreza de Scorsese como realizador e a forma como Hitchcock parece ainda vender o que lhe está associado.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />"The Key to Reserva" é um anúncio encomendado pela Freixenet – marca de champanhe espanhola – a Martin Scorsese. E, na verdade, <strong><span style="color:#3333ff;">trata-se de uma encenação que tem tanto de cineasta como de cinéfila.</span></strong> É declarada a intensa paixão de Scorsese pelo universo dos filmes, acerca do qual ele tem escrito e dirigido documentários.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O objectivo desta iniciativa é promover o champanhe da marca Freixenet – à semelhança de outros projectos publicitários da firma catalã, lançados em anos anteriores, durante o Natal, com celebridades mundiais. Mas <strong><span style="color:#ff0000;">aqui o champanhe é verdadeiramente o «mac-guffin»</span></strong>, aquilo que está no centro de toda a narrativa, de toda a intriga, mas que não interessa verdadeiramente ao espectador.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#3333ff;">"The Key to Reserva" consegue revelar-se como uma graciosa combinação de elementos do cinema de Hitch:</span></strong> a criação do suspense, a movimentação da câmara pelos espaços, os grandes planos e a importância dos pormenores, a relevância de uma chave ou da corda de um instrumento; a desenvoltura do herói elegante e a sedução da loira glacial – vestida e penteada segundo o modelo de Eva Marie Saint em "Intriga Internacional". E «<em>last but not least</em>», a genial e expressiva música de Bernard Herrmann revisitada naquilo que é um conjunto de excertos do seu "North by Northwest".</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />"The Key to Reserva" é um cuidado projecto visual e sonoro. É apresentado como o trabalho feito a partir de três páginas de um guião que não chegou a ser filmado por Hitchcock. Um guião sobre o qual ele iria fazer incidir o seu talento mas que não chegou à fase das rodagens.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A questão é tal e qual como Scorsese a coloca numa entrevista que lhe é feita durante o filme: <strong><span style="color:#3333ff;">«T</span><span style="color:#3333ff;"><span style="color:#3333ff;">rata</span>-se de preservar qualquer coisa que nunca foi feita.»</span></strong> Não é o mesmo que pegar num filme danificado e restaurá-lo. A missão de Scorsese é fazer o filme tal como se fosse feito por Hitchcock, ele mesmo. Com genuinidade.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Scorsese não é declaradamente a estrela do filme. Ele coloca os holofotes a incidir sobre a memória de Hitchcock. O Mestre do Suspense nunca é mostrado em todo o filme mas está presente em todos os fragmentos dele.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Há pormenores particularmente cuidados. Repare-se na perfeita coloração das imagens bem de acordo com as produções de Hitch relativas aos anos 50 e 60 (os seus melhores anos). E veja-se a decoração dos ambientes.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Interessante e quase incontornável numa apreciação a este filme (de quase dez minutos) é a encenação de uma cena de suspense declarado no contexto de uma sala de espectáculos. Como em "O Homem Que Sabia Demasiado" (1934) e na sua remake de 1956, como em "Cortina Rasgada" (1966), "Sabotagem" (1941), "39 Degraus" (1935) ou "À 1 e 45" (1936).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Scorsese filmou "The Key to Reserva" no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Com actores pouco famosos. O resultado é simpático e não creio (como já li num comentário na net) que Hitchcock ficasse indignado com o filme – ou como foi declarado de modo explícito, que ele se agitaria no túmulo. Trata-se de uma homenagem que revela muito «<em>know how</em>» e competência. E é interessante dar prosseguimento à arte de um criador que já morreu.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Seria evidente o misticismo que envolveria três páginas de um guião de Hitchcock se ele fosse encontrado. Por isso, no filme (perfeita ficção), Scorsese quase não deixará ninguém tocar nelas. Scorsese – o homem que antes de realizar com maestria, parece respeitar o Cinema quase como se de uma religião se tratasse.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Todos os depoimentos de Scorsese não são mais do que uma jocosa ironia. Mas passa através dela <strong><span style="color:#3333ff;">o seu desejo de conceber cada filme de acordo com a sua natureza</span></strong>. Aqui, a ambição de conceber um filme de Hitchcock como se fosse feito por Hitchcock e não meramente como uma adaptação das suas ideias. <strong><span style="color:#3333ff;">O desejo de preservar a arte sem deturpações.</span></strong></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;"><br /></span></strong>A história do filme é inconsequente. O argumento é pouco complexo. Mas está embutido de referências. Até à imagem final em que se associa o voyeurismo ao insólito. Com sobreposição de espectáculos – o filme a passar por detrás das pessoas que conversam, as múltiplas janelas e o ajuntamento de pássaros no edifício.</span></div><span style="font-family:verdana;"><div><br />Se o Cinema é uma religião para Scorsese, então Hitchcock será um dos seus grandes profetas.<br /><br /><em>"The Key to Reserva" estreou directamente na Internet e foi visto num mês por dezenas de milhares de pessoas. Encontramo-lo no Youtube ou no site oficial da Freixenet (em língua inglesa ou espanhola).</em></div><em></em></span></div><div></div><div><em><span style="font-family:Verdana;"></span></em> </div><div><em><span style="font-family:Verdana;">Veja <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=P5nAxzH4OPs"><span style="color:#ff0000;">THE KEY TO RESERVA</span></a></strong></span></em> </div><div></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-83014855457056087332007-12-13T23:33:00.000+00:002008-12-08T23:33:52.137+00:00HITCHCOCK: O MELHOR REALIZADOR DE TODOS OS TEMPOS?<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R2HB1F4-eRI/AAAAAAAAAKw/GurdwyVcoAI/s1600-h/HitchcockBestDirector.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5143605367292197138" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/R2HB1F4-eRI/AAAAAAAAAKw/GurdwyVcoAI/s320/HitchcockBestDirector.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">É recorrente os meus amigos lembrarem-se de mim quando ouvem menções ao Hitchcock. Na verdade, o hitchcockianismo que começou sendo para mim o cultivo do fascínio por uma cinematografia, desenvolveu-se como fonte de descoberta do Cinema em geral e até como estrutura sólida para alguma da minha escrita de ficção. E converteu-se num «hobby» simpático e prazenteiro traduzido em reflexões ponderadas na esplanada de um café. Em escritas descontraídas num banco de jardim ou num local soalheiro.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O hitchcockianismo é tudo isso. Ver o Cinema de Hitchcock. Pensar nos filmes a partir das lentes da câmara de filmar de Hitchcock. Escrever e divagar, contar factos verdadeiros e ficcionados, sempre com a herança de uma cultura cinematográfica e literária já recebida.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />E o hitchcockianismo manifesta-se também quando os nossos amigos se lembram de nós perante uma imagem ou fotografia, um livro ou uma revista.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Há algumas semanas, fui beber um café com dois amigos cinéfilos. Não costumo precisar de companhia dentro da sala de cinema. Como se o filme que vou ver fosse sempre um assunto particular entre mim e o cineasta que o fez. Vejo melhor os filmes num estado de isolamento moderado (pelo menos se nunca os vi antes). Mas gosto muito de conversar com quem tenha alguma cultura cinematográfica. E um dos mais interessantes ingredientes da cinefilia é a fonte de conversas que gera entre pessoas que gostam de filmes. O convívio, a comunicação, a troca de percepções e de factos concretos…</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Naquela noite, um dos meus companheiros de cinefilia entregou-me um jornal. Havia-o guardado para mim. Era um exemplar (de uma edição de Setembro passado) do jornal gratuito «Metro». Na primeira página, estava uma imagem de Hitchcock. E no interior, um pequeno artigo de conteúdo polémico e pouco notável.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Em letras não muito pequenas ali estava destacado: <strong><span style="color:#3333ff;">«Hitchcock bate a concorrência e é eleito o melhor realizador de todos os tempos.»</span></strong> Li o artigo e depois fui à Internet tentar perceber os moldes da estatística publicada na popular revista britânica «Total Film». Tratava-se de um inquérito feito aos críticos e leitores da publicação. Alfred Hitchcock terá sido o realizador mais vezes nomeado para melhor cineasta de sempre.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Por momentos, pareceu-me pertinente reflectir sobre a possibilidade do Mestre do Suspense ser percepcionado dessa forma majestosa. Mas a ideia não bate certo. Porque nenhum realizador pode receber tal estatuto sem que muita subjectividade esteja anexa à ideia.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Não é comum encontrar Hitchcock no topo da lista dos melhores cineastas da História dos filmes. Mas é costume deparar com o seu nome na lista dos 5 ou 10 realizadores mais relevantes. A razão parece-me clara: Hitchcock está rigidamente ligado a um tipo específico de histórias – narrativas de crime e de suspense. É difícil especular se ele seria um bom realizador no âmbito de filmes de outros géneros. Ele dirigia bem os actores (quando se sentia bem com eles). Tinha vocação natural para a comédia e para o esboço de traços de humor negro. Sabia retratar o Amor e os sentimentos românticos. Mas <strong><span style="color:#ff0000;">invariavelmente os seus filmes são arrumados numa prateleira determinada.</span></strong></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Os filmes que fazia eram os que lhe ofereciam prazer. Não se esperava dele o “Há Lodo no Cais” (1954), “O Apartamento” (1960), “O Padrinho” (1973), “Música no Coração” (1965), “Cleópatra” (1963) ou "Easy Rider" (1969). <strong><span style="color:#ff0000;">Nem ele procurava histórias diferentes das do seu padrão habitual, nem as pessoas esperavam isso dele.</span></strong> Essa força com um poder duplamente incisivo delineou Hitchcock como o Mestre num estilo específico de histórias.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Um processo semelhante não ocorreu com John Ford ou com Orson Welles. Estes realizadores maiores da História do Cinema debateram temáticas sociologicamente relevantes nas suas obras. Repare-se que Ford é o cineasta-mestre dos westerns. Mas algumas das suas melhores obras como “O Informador”, “As Vinhas da Ira” ou “O Vale era Verde” nem se enquadravam de modo algum no Oeste dos cowboys.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Hitchcock, o melhor cineasta de todos os tempos? Não gosto desse tipo de apreciações relativas. No concurso (incrivelmente subjectivo), “Os 100 Melhores Britânicos de Todos os Tempos”, Hitchcock não consta na lista final – ao contrário de Charlie Chaplin. A dúvida que esta iniciativa me suscita é: o que é que faz uma personalidade ser nomeada? A sua popularidade, o seu impacto ou o seu talento e carisma?</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Estas questões são sempre subjectivas e nunca unânimes. O Cinema é uma arte. <strong><span style="color:#ff0000;">Os Óscares, os Emmys e os Globos de Ouro nunca podem ter um valor absoluto.</span></strong> Mas Hitchcock permanece um dos cineastas mais populares do mundo. Porque os filmes dele continuam a divertir as pessoas e o público procura sempre entretenimento. Hitchcock retratou o crime e o medo de um modo particular. E ao fazê-lo, retratou-se a si mesmo, às suas obsessões e interesses.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />De resto, cada pessoa revela o talento próprio no contexto da sua época e por relação com a sociedade em que vive. É impossível definir o melhor cineasta de sempre. O mais conveniente seria um homem (dificilmente uma mulher) que tivesse abordado <strong><span style="color:#3333ff;">temáticas preponderantes para a compreensão do Homem e para o progresso da Civilização; valores sociais relevantes, não histórias de espionagem e de intriga policial</span></strong>. Mas é impossível traduzir a complexidade da arte cinematográfica em termos tão simplistas e redutores.</span></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-5303337544748170492007-11-10T23:48:00.000+00:002008-12-08T23:33:52.359+00:00UM BRINDE À AMIZADE<a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RzZEIiQZvmI/AAAAAAAAAKo/lEc9p_SOBo4/s1600-h/HitchcockAmizade.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5131363738860502626" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RzZEIiQZvmI/AAAAAAAAAKo/lEc9p_SOBo4/s320/HitchcockAmizade.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">Aprendi nos meus estudos de Antropologia que o ser humano é naturalmente gregário e que vive fácil e espontaneamente em grupos ou em tribos. É um tipo de criatura que vive bem em sociedade, tomando benefício das associações que estabelece. Nos nossos dias e com a controversa mas inevitável globalização, os homens e as mulheres do mundo inteiro tendem a viver no contexto de uma mesma unidade.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Como terá afirmado Kofi Annan numa explicação sua acerca da pertinência da Organização das Nações Unidas, mais do que nunca na história humana, partilhamos todos um destino comum. Só poderemos perspectivar um futuro risonho se enfrentarmos juntos as dificuldades de todos e de cada um. Neste contexto, as artes em geral e o Cinema em particular não pertencerão a um povo ou a um país mas ao Mundo.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A união entre as pessoas é inteiramente reforçada quando nasce uma amizade ou um amor ou um qualquer tipo de dedicação. Um amigo escuta, aconselha e existe. Os amigos funcionam como redes de contactos e podem influenciar-nos de modo particular e personalizado. Cada pessoa com a sua identidade própria tem o poder e a capacidade de mobilizar recursos e mecanismos. Às vezes, um amigo não faz absolutamente nada e ajuda. Só porque existe. Só porque sabemos que está presente e que faz parte integrante da nossa vida.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Num mundo de injustiças, de desigualdades e de realidades cruéis, um amigo pode ser um contraponto à nossa tristeza e desalento. Claro que faço menção a amigos verdadeiros – não existem, na realidade, amigos falsos. Só amigos e não amigos. Já dizia Aristóteles que o infortúnio tem a capacidade de nos mostrar aqueles que são realmente amigos. Pois aqueles que se afastam quando temos problemas, não serão amigos – de modo algum.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Vejo certas personalidades do Cinema, da Música e da Literatura como uma espécie particular de amigos. Na verdade, elas não me ouvem nem aconselham. Mas existem. Estão sempre onde eu as procuro. E oferecem-me alegria, bem-estar e inspiração. Não é exactamente isso que um amigo faz? Não é exactamente esse tipo de efeitos que um amigo opera em nós?</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O velho Hitchcock não me pode emprestar dinheiro se eu tiver a carteira vazia e andar esfomeado. Também não me consegue conduzir a um emprego fabulosamente bem pago e maravilhosamente recompensador e significativo. (Muito menos, sendo eu um antropólogo de formação.)</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Se estiver sozinho e mal de amores, o bom Hitch não me consola por meio de palavras dirigidas assumidamente para mim. Mas ele existe nos filmes que posso sempre ver e rever. Embora nunca me tenha conhecido. Embora possa até ter trabalhado exclusivamente para si mesmo, para a sua família e para a sua consagração – e não para um antropólogo pensativo que escreveria sobre ele muitos anos depois da sua morte.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#3333ff;">Hoje faço um brinde à Amizade e aos amigos.</span></strong> Procuro firmemente não parecer lamechas numa crónica com estes contornos. Haverá pessoas que vivem bem sozinhas, isoladas. Um pouco de misantropismo até é pontualmente conveniente. Todos precisamos de momentos de privacidade. Mas eu não vivo bem sem os meus amigos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Eles sabem quem são. E à sua maneira, entre eles, estão pessoas cujo talento e cujo desempenho no passado ainda hoje contribuem para o meu bem-estar. Gershwin, Bach, Ella Fitzgerald e Amália, Julie Andrews e Nat King Cole. Os Madredeus e Rodrigo Leão. David Lynch com as suas bizarrias. Iñárritu com as suas histórias habilmente cruzadas entre si. Frank Capra com as suas inspiradas lições de Vida. Fritz Lang com os seus pesadelos fílmicos. Jacques Tati com os seus sorridentes retratos do nosso mundo. Bernard Herrmann cuja música casa em perfeição com as imagens de cineastas como Hitchcock, Truffaut e Scorsese. Ou Henry Mancini, compositor, cujos trabalhos tanto agradam no contexto dos filmes como em CD.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O ser humano vive da Lógica e da Emoção. Do Raciocínio e dos Sentimentos. <strong><span style="color:#3333ff;">É quase imperativo tomarmos consciência da alegria que os nossos amigos nos despertam. </span></strong>Hoje brindo à Amizade. Aos amigos. Aos meus amigos e aos dos outros. À Amizade. A todos os tipos de Amizade verdadeira. </span></div><div></div><div align="center"><br /><strong><span style="font-family:verdana;color:#3333ff;">ALGUNS AMIGOS NA CINEMATOGRAFIA DE HITCHCOCK:</span></strong></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "Vertigo", Tom Helmore é o pior amigo que se pode imaginar.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "Desconhecido do Norte-Expresso", Robert Walker é um amigo estranhamente dedicado que só oferece amizade ou morte.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "A Corda", os dois amigos que matam não são unidos por amizade mas antes por um amor proibido.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "Mentira", Hume Cronyn é o perfeito amigo que nos visita rotineiramente e conversa connosco sobre as trivialidades que nos divertem.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "Frenzy", Clive Smith é o amigo que ajuda até certos limites, nomeadamente enquanto a sua mulher tolerar isso.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "Difamação", os amigos de Claude Rains, aqueles que frequentam a sua casa, aqueles com quem comunica directamente, são os seus carrascos.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "Janela Indiscreta", Wendell Corey é o amigo que não ajuda muito, que solta graçolas a nosso respeito mas cujo número de telefone temos na nossa agenda.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "Casa Encantada", Michael Chekhov é o velho amigo, conselheiro e protector, sapiente e vivido, a quem recorremos em busca de orientação e de conselhos.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "O Homem Que Sabia Demais", os amigos parecem vir depois da família.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">- Em "O Terceiro Tiro", os amigos funcionam como uma rede de solidariedade que combate as irónicas adversidades. </span></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-79839613854039575912007-10-23T22:53:00.000+01:002008-12-08T23:33:52.480+00:00«ALFRED HITCHCOCK APRESENTA» EM PORTUGAL<a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rx5ujrMFcqI/AAAAAAAAAKg/JDS1_9vZcX0/s1600-h/AlfredHitchcockApresenta2.jpg"></a><br /><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rx5uYLMFcpI/AAAAAAAAAKY/Sn4fNn5REZ0/s1600-h/AlfredHitchcockApresenta1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5124654787593597586" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rx5uYLMFcpI/AAAAAAAAAKY/Sn4fNn5REZ0/s320/AlfredHitchcockApresenta1.jpg" border="0" /></a><span style="font-family:verdana;">Chegou finalmente ao mercado português do DVD a série televisiva a que Hitchcock emprestou o seu nome. Como ele costumava proclamar com ironia, por meio daqueles episódios semanais de meia hora, o crime chegava verdadeiramente ao seu local legítimo: o lar das famílias.</span> <div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Embora nos anos 50, a indústria cinematográfica temesse as potencialidades da Televisão e Hitchcock não fosse um fã declarado das produções televisivas, <strong><span style="color:#3333ff;">esta série histórica ajudou a popularizar a imagem dele junto de variadíssimas audiências à escala mundial.</span></strong></span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Hitchcock procedia invariavelmente à apresentação de cada história com uma ironia retorcida e sarcástica. Fazia-o num tom fleumático e jocoso. Falava pausada e arrastadamente (como lhe era natural) em cenários minimalistas ou que caracterizavam realidades particulares.Frequentemente, o contexto de onde falava remetia para a narrativa do episódio.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Nunca como desde o início da série, em 1955, o seu rosto, a sua figura, os seus traços típicos e as suas idiossincrasias foram tão popularizados e difundidos. Era esse o poder da Televisão.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">A primeira temporada teve início a 2 de Outubro de 1955 com um episódio directamente realizado por ele: “Revenge” com Vera Miles. A transmissão foi feita no horário nobre (21.30) de um domingo, pelo canal CBS. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Até Junho de 1962, <strong><span style="color:#ff0000;">ao longo de sete temporadas, foram emitidos 268 episódios</span></strong>. Eram narrativas que frequentemente terminavam com um triunfo do Mal ou com uma máxima contrária à moral de que o crime não compensa. A seu modo, <strong><span style="color:#ff0000;">eram propostas destabilizadoras porque representavam uma violação dos códigos de ética dos programas da época.</span></strong></span></div><div><strong><span style="color:#ff0000;"><br /></span></strong><span style="font-family:verdana;">A televisão americana sempre foi muito severa quanto ao conteúdo das obras a transmitir. No domínio das séries de ficção, a divulgação de costumes eticamente reprováveis, a nudez e a má linguagem são por norma reprovados. Ainda hoje assim sucede. E é compreensível que se preserve algum zelo em relação a um meio de comunicação que pode chegar a todas as pessoas de todas as idades.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Nos nossos dias, o desempenho dos canais por cabo como a HBO tem sido decisivo para aniquilar ou atenuar inúmeras restrições instituídas. Séries como “Os Sopranos”, “Sete Palmos de Terra” ou “Roma” só conheceram a luz do dia no contexto de uma televisão que funciona segundo normas mais liberais.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Quando nos anos 50, nos episódios de “Alfred Hitchcock Presents”, os espectadores liam uma perversão dos princípios éticos – o criminoso mata e sai impune da situação – obviamente daí decorria uma irónica vibração dos valores do Bem e do Mal.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Alfred Hitchcock falava para a audiência depois do anúncio comercial do fim e costumava sentenciar que o criminoso (vilão ou não) iria ser apanhado desta ou daquela forma porque cometera este ou aquele erro. Deste modo, ele calava alguns espíritos inquietos e forçava a aceitação do episódio. No entanto,<strong><span style="color:#ff0000;"> o que todos haviam visto com os seus próprios olhos fôra a prática de um crime e não a condenação declarada de um criminoso.</span></strong></span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">O universo de “Alfred Hitchcock Presents” contém histórias muito diferentes e de qualidade variável. Habitualmente, o espectador sentia empatia com o criminoso porque este era uma vítima das circunstâncias e <strong><span style="color:#3333ff;">o crime era a melhor (e mais merecida) resolução dos seus problemas.</span></strong></span></div><div><strong><span style="color:#3333ff;"><br /></span></strong><span style="font-family:verdana;">Chantagistas, maridos violentos e insensíveis, mulheres infiéis e sem escrúpulos, ladrões e corruptos que destroem friamente a vida dos outros merecem uma punição. Hitchcock mostrava a sua própria moral. Em termos irónicos, ele quase subvertia a ordem da justiça porque nos deixava aceitar uma vilania ou um crime. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">Muitos actores célebres (na época ou em fases posteriores) participaram na série</span></strong>. Nomeando somente alguns, lá encontramos Charles Bronson, Robert Redford, Steve McQueen, Peter Lorre, Robert Duvall, Vera Miles e Joseph Cotten.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">De entre os escritores cujo trabalho foi adaptado para a série contam-se nomes distintos como os de Alexander Woolcot, John Wyndham, Ray Bradbury, H. G. Wells e Robert Bloch. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Hitchcock sugeria actores para o elenco assim como histórias e argumentistas com potencialidades evidentes. Ele visionava cada episódio antes de este ir para o ar. E gravava a mencionada apresentação feita por si que era adequada a cada história. <strong>Fazia discursos sintéticos e irónicos, parodiando a própria Televisão e a incursão incómoda dos filmes publicitários.</strong></span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Mas por muito que ele desprezasse a Televisão, ela foi para ele um veículo fundamental de promoção do seu nome e da obra que lhe está associada. E por muito que detestasse os anúncios, o apoio financeiro das empresas patrocinadoras era quase indispensável.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">As sete temporadas de “Alfred Hitchcock Presents” antecederam o <strong><span style="color:#ff0000;">“The Alfred Hitchcock Hour” que se compõe de 93 episódios de 45 minutos</span></strong> (originalmente transmitidos entre Setembro de 1962 e Maio de 1965). <strong><span style="color:#3333ff;">No total, podemos contabilizar 361 episódios que pronunciaram a fama do Mestre do Suspense durante uma década.</span></strong></span></div><div><strong><span style="color:#3333ff;"><br /></span></strong><span style="font-family:verdana;">Na realidade, o papel de Hitchcock em todo este projecto não era senão essencialmente promocional. Das três centenas de episódios, ele só terá realizado pouco mais do que uma vintena. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">A primeira e a segunda temporadas que podemos encontrar à venda em DVD no mercado nacional reúnem 78 episódios.</span></strong> Das 39 histórias da Série 1, só três delas são inteiramente assinadas por ele. A saber: <strong><span style="color:#ff0000;">“Revenge”</span></strong> (2 de Outubro 1955), <strong><span style="color:#ff0000;">“Breakdown”</span></strong> (13 de Novembro 1955) e <strong><span style="color:#ff0000;">“The Case of Mr. Pelham”</span></strong> (4 de Dezembro 1955).<br />Do pacote da segunda temporada, Hitchcock realizou três episódios também: <strong><span style="color:#ff0000;">“Wet Saturday”</span></strong> (30 Setembro 1956) , <strong><span style="color:#ff0000;">“Mr. Blanchard’s secret”</span></strong> (23 Dezembro 1956) e o aclamado <span style="color:#ff0000;"><strong>“One More Mile To Go”</strong></span> (7 de Abril 1957). </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Poderá parecer que a supervisão dos scripts e os pontuais aconselhamentos e sugestões do cineasta não farão desta série uma obra genuína de Hitchcock. E será verdadeira essa percepção. A partir de dado momento, até os textos lidos por ele nas apresentações eram concebidos e estruturados por especialistas do discurso e da comunicação.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Ainda assim, a obra cinematográfica de Hitchcock era muitíssimo relevante e <strong>a série funcionou com um importante apêndice.</strong> Quem gostava dos episódios da série, era alimentado por uma crescente curiosidade em relação ao cinema do Mestre do Suspense.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">O filme “Psico” (1960) foi o ponto de contacto perfeito entre os dois universos: o da Televisão e o do Cinema.</span></strong> A equipa técnica do filme incluiu quase só pessoal que trabalhava na série. “Psico” nasceu como um projecto experimental e de baixo orçamento. (Mas continha nas suas raízes enormes potencialidades.)</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">“Alfred Hitchcock Apresenta” é um importante documento histórico. A melodia do genérico – <strong><span style="color:#ff0000;"><em>«Funeral March of the Marionette» de Charles Gounod</em></span></strong> – permanece o mais directo símbolo de identificação sonora de Hitchcock. Nos nossos dias, há quem guarde os acordes da melodia no seu telemóvel. Ninguém reconhece aquele trecho como sendo de Gounod mas antes num processo de associação a Hitchcock. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">O tema de Gounod adaptado para a série foi inclusivamente usado em “Cortina Rasgada” (1966). A banda sonora daquele filme desvia-se da sua orientação natural no momento da aparição de Hitchcock. Ele está sentado no átrio de um hotel e uma criança que tem ao colo urina-lhe sobre a perna. Trata-se de uma piscadela de olho aos hitchcockianos. E só dura alguns segundos.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Aplaudo a edição portuguesa das séries 1 e 2. Nos EUA, foi recentemente lançada a terceira temporada. Para um hitchcockiano que vive de um salário pequeno e de uma formação académica na área da Antropologia, o investimento financeiro parece ser mais pertinente na compra de filmes do cineasta. Defendo indubitavelmente que é no universo cinematográfico de Hitchcock que se revela a sua grandeza artística e intelectual. E se precisarmos de escolher, eu não hesito. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">No entanto, já me imagino a ver episódios desta série em tardes chuvosas de domingo. Naqueles dias e noites em que nos sentimos aconchegados em casa a ver no pequeno écran a aflição e o desespero das vítimas de Hitchcock. Estes crimes são feitos para o lar. E devem-se ver e rever com agrado no sofá da sala ou no calor dos lençóis da cama.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">O reencontro com cada episódio nesta impecável edição em DVD (embora sem extras) pode facultar ao espectador um contacto mais consciente com cada produção. E uma identificação mais transparente das virtudes e defeitos de cada programa.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Recentemente, a revista Time colocou “Alfred Hitchcock Presents” na lista dos 100 melhores shows televisivos de todos os tempos. A série foi galardoada com emmys, globos de ouro e outras distinções. Agora, 50 anos depois de ter estreado, ela pode ser vista em DVD. Com outros olhos.</span> </div></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-90101966958547606902007-10-03T23:14:00.000+01:002008-12-08T23:33:52.629+00:00ANTHONY HOPKINS SERÁ ALFRED HITCHCOCK<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RwQf4hOxGtI/AAAAAAAAAJ4/-bc02PvJvlE/s1600-h/AnthonyHopkins2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5117250132453169874" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RwQf4hOxGtI/AAAAAAAAAJ4/-bc02PvJvlE/s320/AnthonyHopkins2.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">É oficial e já foi divulgado por vários órgãos de comunicação. <strong><span style="color:#ff0000;">Anthony Hopkins vai representar o papel de Alfred Hitchcock</span></strong> num filme que contextualiza a vida do cineasta no período da realização de "Psico".<br /><br /></span><div><div><div><span style="font-family:verdana;">Há vários meses que o projecto é discutido mas sempre com muito secretismo. Comenta-se, desde o início, que a nova película irá mostrar as dificuldades inerentes à rodagem daquele clássico do suspense, numa época em que os limites impostos pela censura eram muito severos.</span></div><br /><div></div><div><span style="font-family:verdana;">"Psico" surgiu em 1960 como um projecto irreverente, chocante e contrário aos modelos cinematográficos tradicionais. A ideia de filmar a morte bárbara de uma (bela) rapariga nua era impressionante e quase inconcebível, naqueles dias. E Hitchcock terá necessitado de contornar habilidosamente os preconceitos generalizados.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"></span></div><div><span style="font-family:verdana;">No mesmo ano, o cineasta Michael Powell apresentaria em Inglaterra uma obra perturbante sobre um psicopata que gosta de filmar a morte das suas vítimas – "A Vítima do Medo" ("Peeping Tom"). Mas <strong>a realidade no cinema europeu era diferente daquela que caracterizava Hollywood. </strong></span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">O novo filme procurará mostrar pormenores acerca da rodagem de um filme polémico. Uma película que hoje nos poderá parecer um pouco inofensiva (mas nunca menor). De Hitchcock, Walt Disney terá proferido um dia: «<em><strong><span style="color:#ff0000;">Não quero Alfred Hitchcock a filmar no meu parque de diversões; não alguém capaz de conceber uma obra tão asquerosa como "Psico".</span></strong></em>»</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">O filme será realizado por Ryan Murphy (que está muito relacionado com a criação da série televisiva "Nip Tuck"). O argumento está nas mãos de John McLaughlin.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">"Alfred Hitchcock and the making of Psycho" contará com a preciosa participação da actriz Helen Mirren no papel de Alma Reville (a esposa do cineasta).</span></strong> As filmagens terão início em Janeiro. O título com que é actualmente apresentado parece-me desinspirado e talvez não seja definitivo. </span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Será expectável que uma boa camada do público não consiga ver Hitchcock no rosto de Hopkins, por muito apurado que seja o trabalho de caracterização do actor. É bem sabido que Anthony Hopkins é um actor de primeiro nível. (Vejam-se “O Homem-Elefante” (1980) , “O Silêncio dos Inocentes” (1991) e “Os Despojos do Dia” (1993) mas também a composição que faz de figuras históricas como Pablo Picasso e Richard Nixon). </span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Observaremos se conseguirá ser profundamente credível na recriação de uma figura tão singular como a de Hitchcock. Não sou adepto de filmes biográficos. Mas o exemplo de que, às vezes, a fórmula funciona está em Helen Mirren e na sua brilhante composição da Rainha Isabel II de Inglaterra. <span style="color:#3333ff;"><strong>Veremos como o nobre actor Sir A.H. irá recriar a imagem do mítico cineasta Sir A.H.</strong></span> A proposta é, à partida, interessante mas não marcadamente entusiástica. </span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">O filme só será estreado no final de 2008. No mesmo ano, uma outra obra potencialmente mais interessante será apresentada. <strong><span style="color:#3333ff;">"Número 13" será uma comédia negra em que veremos um Alfred Hitchcock muito jovem dirigindo o seu primeiro filme</span></strong> (que não chegou a ser concluído e cujo guião e imagens registadas se perderam no tempo.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Sobre “Number Thierteen” de 1923, não se sabe muito. A falta de conhecimentos tem sempre alimentado alguma especulação. O que neste novo filme se vai mostrar é uma mistura divertida de factos reais com peripécias inventadas segundo um argumento imbuído de ironia e humor negro. </span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">Dan Folger encarnará o jovem Hitch</span></strong> nesse momento preciso em que terá assumido o seu primeiro trabalho de realização: uma comédia. Hitch ver-se-à envolvido, durante as filmagens, no drama emocional de um triângulo amoroso. </span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">O desaparecimento do actor principal, Ernest Thesiger (Ben Kingsley) proporcionará a Hitchcock modificar o argumento e transformá-lo numa história policial. Esta viragem no espírito do filme que é manipulada por Hitchcock vem a reafirmar o seu apreço pelos policiais e pelas intrigas com crimes. O que o colocará a meio caminho de se tornar um realizador de filmes do género. E no futuro Mestre do Suspense.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Converter uma comédia num filme de mistério parece mais do que agradável e oportuno para o jovem Hitchcock de 23 anos. O problema é que se suspeita que Thesiger foi morto, sendo que o editor do filme (Ewan McGregor) começa a desconfiar que Hitch pode ter sido o autor do crime.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;">Chase Palmer estreia-se na realização conduzindo um cast brilhant. Para além de Kingsley e McGregor, também estará presente no filme a actriz Emily Mortimer que vimos em “Match Point” (2002) de Woody Allen. </span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">Esta história irónica parodia os acontecimentos reais em torno da rodagem de "Number Thirteen" em 1923 e coloca o próprio Hitchcock no papel de falso culpado, vítima das circunstâncias que o dão responsável por algo que não fez</span></strong>. Tudo parece indicar que o guião tem potencialidades. O tempo trará certezas.</span></div><br /><div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">Hitchcock continua a inspirar argumentistas e realizadores. Agora, ele surge-nos como personagem</span></strong> nas próprias histórias, em momentos distintos da sua carreira. E possivelmente segundo diferentes tipos de abordagem. Cá estaremos para ver. </span></div></div></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-82850893241805209302007-09-25T00:11:00.000+01:002008-12-08T23:33:52.802+00:00UMA EXPERIÊNCIA CHAMADA «UNDER HITCHCOCK» - CONCLUSÃO<a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RvhEoBOxGpI/AAAAAAAAAJY/1uwtltXDjhA/s1600-h/underHitchcockCerto2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5113912831195028114" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RvhEoBOxGpI/AAAAAAAAAJY/1uwtltXDjhA/s320/underHitchcockCerto2.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">As curtas-metragens do «UNDER HITCHCOCK» propõem aproximações de diversos estilos ao cinema do cineasta. Enquanto apreciador de uma arte cinematográfica que conta histórias, <strong>penso fui particularmente sensível ao filme alemão de Birgit Lehman que foi também aquele que mais me divertiu.</strong> Embora até possa ser considerado o que é artisticamente menos arrojado e tecnicamente menos inventivo.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O filme intitula-se <strong><span style="color:#ff0000;">“Quando Hitchcock se encontrou com Else Eiermann em Auerstedt”.</span></strong> É uma curta-metragem concebida como um registo documental e que reconstrói uma verdade histórica ignorada. Claro que <strong><span style="color:#3333ff;">todo o filme é uma invenção inspirada e graciosa. Com muito do típico humor hitchcockiano.</span></strong></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Segundo a voz-off que interliga os acontecimentos num tom jornalístico apurado, <strong><span style="color:#3333ff;">Alfred Hitchcock terá visitado a pequena comunidade de Auerstedt, na Alemanha de Leste, em 1956.</span></strong> Aí terá conhecido uma mulher sinistra que o terá inspirado a conceber as ideias para o seu grande sucesso de 1960, “Psico”.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />São exibidos no documentário testemunhos de muitos habitantes da terra que explanam como a mulher era estranha, que se referem ao modo insólito como se vestia, que explanam como tinha costumes bizarros; e que comentam o facto de ela dizer que tinha um grande amigo inglês – sem que ninguém acreditasse nela.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"></span> </div><div><span style="font-family:verdana;">A descoberta de uma fotografia antiga foi fulcral para a revelação de um mistério mantido oculto. Nela vemos um cenário inóspito da terra com várias pessoas na perspectiva da câmara. E nela encontramos alho de extraordinário:<strong><span style="color:#ff0000;"> Else Eiermann a conversar amenamente com Alfred Hitchcock</span></strong>. (Claro que se trata de uma divertida montagem.)</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Else Eiermann seria uma mulher idêntica a Hitchcock sob muitos aspectos. Era uma <strong><span style="color:#3333ff;">solitária</span></strong> e gostaria de ter tido marido. (O testemunho de uma senhora é lacónico: <em><strong><span style="color:#3333ff;">«Claro que ela procurava um marido e Alfred Hitchcock servia-lhe mas quem poderia gostar de casar com alguém tão feio como ele</span></strong></em>?»)</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A personalidade de Hitchcock (aqui não inventada à toa) é equiparada à da mulher na medida em que ambos <strong><span style="color:#3333ff;">tinham</span></strong> <strong><span style="color:#3333ff;">propensão para o isolamento</span></strong> e <strong><span style="color:#3333ff;">fascínio pelo universo do Sinistro e do Macabro</span></strong>. E ambos <strong><span style="color:#3333ff;">tinham sido educados de modo severo e inibitivo</span></strong>. </span></div><span style="font-family:verdana;"><div><br />A mãe de Else terá morrido de modo estranho. A filha colocou o seu cadáver sobre uma cadeira, à janela da casa e preparou a postura do corpo para que parecesse que ela estava a tricotar. Durante dois dias, os habitantes locais terão visto o corpo da mulher à janela, presumindo que ela estava viva. No terceiro dia, visitas terão entrado na casa e detectado com horror que o cadáver estava em decomposição e cheirava muito mal. </div><div><br />O apego à mãe que era fulcral para uma mulher solitária e marginalizada como Else, tê-la-ia levado a fazer-se acreditar que não estava sozinha e que a mãe continuava viva. E tê-la-ia conduzido a cuidar preciosamente do cadáver enquanto o manteve em casa.</div><div><br />Else conversaria espontaneamente com o seu amigo inglês que ficou fascinado com a figura da mulher e com a obsessão dela pelo corpo morto da mãe. A imagem da mãe de Norman Bates, para o filme “Psico”, terá nascido como resultado deste encontro mantido secreto durante décadas.</div><div><br />A voz-off vai mais além nas suas revelações. Não só Else inspirou Hitchcock mas toda a terra onde ela viveu, Auerstedt. Os campos agrícolas de cultivo de “Intriga Internacional” (1959) e de “Cortina Rasgada” (1966) são em tudo semelhantes aos que ele viu em Auerstedt. O estilo arquitectónico de uma igreja local com os seus claustros foi uma inspiração para a concepção visual de certas imagens de “Vertigo” (1958).</div><div><br />O fascínio de Auerstedt que é uma comunidade ignorada pelo mundo só foi assim descoberto por Hitchcock. E terá servido para perpetuar o seu sucesso e cimentar ideias para as suas obras mais emblemáticas.</div><div><br />Depois de ter passado por Auerstedt em 1956, o espírito de Hitchcock foi iluminado por ideias e por imagens inspiradoras. O testemunho de um habitante local é expressivo: <strong><em><span style="color:#3333ff;">«Não</span><span style="color:#3333ff;"> me admiro que Hitchcock gostasse de Else Eiermann. Vi uma vez um trailer de um filme dele e achei-o tão estranho como aquela mulher.»</span></em></strong> </div><div><br />O tom irónico mas circunspecto do filme de 15 minutos torna-se cómico e divertido. E é servido por boas fotografias de Hitchcock, por imagens dos seus filmes e por uma música original muito adequada. Quem ouse defender que é uma curta-metragem artisticamente pouco criativa, não poderá argumentar que é pouco apelativa ou aborrecida. Este não é um trabalho de artes plásticas. Mas uma aplicação contemporânea do tema ao domínio do audiovisual. Feita com humor e profissionalismo.</div><div><br />A jóia da coroa das curtas-metragens da exposição «UNDER HITCHCOCK» seria <strong><span style="color:#ff0000;">“Phoenix Tapes”</span></strong> – trabalho encomendado no ano do centenário do nascimento do Hitchcock (1999) pelo Museu de Arte Moderna de Oxford. A tarefa foi confiada a dois grandes conhecedores da filmografia do Mestre do Suspense: Matthias Muller e Christoph Girardet.</div><div><br /><strong><span style="color:#ff0000;">O filme revelou-se-me menos imaginativo e genial do que esperava</span></strong>. Os autores trabalharam cenas da filmografia de Hitchcock e montaram-nas segundo temáticas: seis capítulos autónomos. Aqui, o trabalho de montagem é importante. E aquela associação de ideias entre cenas distintas de distintos filmes só poderia vir de quem conhece bem o universo fílmico de Hitchcock.</div><div><br />Chaves, provas de culpabilidade mostradas em grande plano, posturas físicas, beijos carregados de paixão, facas, pistolas, pessoas em suspensão nas alturas… As grandes temáticas de Hitchcock são concisamente mostradas num filme de 45 minutos com imagens de 40 filmes.</div><div><br />O capítulo de entrada mostra cenas em que o poder do som é relevante. Passos, estalidos, ruídos no silêncio. É bastante notável o arranjo sequencial das imagens. Mas é forçada a repetição de imagens. (Como a de Paul Newman percorrendo o Museu em “Cortina Rasgada”)</div><div><br />Noutro capítulo, usa-se um encadeamento de imagens para encenar uma espécie de <strong><span style="color:#3333ff;">sonho no domínio das linhas do caminho-de-ferro</span></strong>. O poder hipnótico da viagem embala o espectador numa viagem alucinante. São usadas cenas que decorrem em comboios. (Proliferam comboios na filmografia de Hitchcock.) O som é trabalhado para que se sinta o movimento das carruagens sobre os carris – de modo repetido e continuado. <strong><span style="color:#3333ff;">Vive-se numa atmosfera sonhada ou num sonho com contornos de realidade.</span></strong> Às tantas, questionamo-nos: o comboio em que viajamos segue os carris ou já saiu deles? Daí o nome do capítulo ser «Descarrilado».</div><div><br />Penso que o melhor capítulo é aquele que se intitula <strong><span style="color:#ff0000;">«Why don’t you love me?».</span></strong> Aqui debatem-se os problemas de personalidade decorrentes da relação de uma pessoa com a sua mãe. <strong><span style="color:#ff0000;">Há imensas mães dominadoras ou poderosamente influentes no cinema de Hitchcock.</span></strong> (A mãe do cineasta era, a seu modo, particularmente decisiva no pensamento dele.) </div><div><br />Parece-me engenhoso ir capturar a cantilena das crianças em “Marnie” (1964). Aquela em que se canta repetidas vezes «<em>Mother, mother, I am sick</em>…» Neste contexto, vemos imagens de Difamação (1946) – algumas em repetição – “Suspeita” (1941), “Desconhecido do Norte-Expresso” (1951), “Intriga Internacional” (1959), “Marnie”, “Os Pássaros” (1963) e obviamente “Psico”.</div><div><br />Há um momento desconcertante. Aquele em que vemos Norman Bates na cela, olhando morbidamente para o vazio, enquanto ouvimos cantar o tema clássico de “O Homem Que Sabia Demais” (1956), “Que Será, Será”. As palavras cantadas numa melodia radiosa encaixam de modo macabro sobre o drama do filho da Sra. Bates: «<em><span style="color:#ff0000;">Quando eu era pequeno, perguntava à minha mãe o que viria a se</span></em>r.» Irónico e sarcástico.</div><div><br />O capítulo final do filme mostra-nos uma imagem decomposta de Ingrid Bergman em “Sob o Signo do Capricórnio” (1949). É uma imagem com um movimento muito lento que traduz uma certa necrofilia. Bergman está de olhos entreabertos, abre-os e fecha-os como se estivesse a meio caminho da Morte e, mesmo assim, revelasse uma estranha e desperta beleza. No rosto dela, estão uns olhos vidrados que contemplam o nada; ou uns olhos carregados de melancolia e cujo aparente brilho só vem das lágrimas. O mistério está em tentar decifrar aquela tristeza quase apatia ou aquela apatia quase morte.</div><div><br />O resultado parece-me rebuscado e inconsequente. <strong><span style="color:#ff0000;">Num trabalho como “Phoenix Tapes”, toda a deturpação e repetição de imagens me parece abusiva.</span></strong> A condução do filme não é brilhante nem carregada de emoção como seria de esperar numa obra de condensação de imagens e sons do universo hitchcockiano.</div><div><br /><strong><span style="color:#ff0000;">“Phoenix Tapes” tem um ritmo incerto e um final pouco arrebatador.</span></strong> Os seus autores conduzem inutilmente o espectador a um final que é frio e apático como a Morte. Com o fim da projecção, sem música nem qualquer tipo de som, a pequena plateia da Cinemateca foi transportada a um desconcertante beco sem saída. <strong><span style="color:#3333ff;">A Morte é um tema central no cinema de Hitchcock. Mas mais importante do que a morte, são os sentimentos bem vivos da paixão e do desejo.</span></strong> “Phoenix Tapes” deveria terminar em apoteose. Não em apatia.</div><div><br /><strong>«UNDER HITCHCOCK» é uma proposta louvável que permite cruzar a obra de um cineasta clássico e emblemático com o universo das artes modernas.</strong></div><div> </div><div>Estes oito filmes que são apresentados diariamente em Vila do Conde (nos monitores da exposição) são reflexos de uma arte aberta a novos conceitos.<br />O que interessa verdadeiramente nestas iniciativas é a estimulação dos nossos sentidos; e a reavaliação constante da Vida e dos nossos valores fundamentais. Toda a experiência artística causa um efeito. Hitchcock costumava dizer que os seus filmes funcionam como choques benéficos para as audiências, como estímulos emocionais e sensoriais.</div><div><br />Lamento que a exposição «UNDER HITCHCOCK» não seja trazida até Lisboa. Pois envolve <strong><em>muito mais material</em></strong> do que este conjunto de oito curtas-metragens. Saudações para a Solar – Galeria de Arte Cinemática de Vila do Conde. As congratulações de um hitchcockiano sincero.</span></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-28514444408482257382007-09-17T00:01:00.000+01:002008-12-08T23:33:52.885+00:00UMA EXPERIÊNCIA CHAMADA «UNDER HITCHCOCK» - PARTE I<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Ru22uJoWIDI/AAAAAAAAAJQ/7s-MN81jLHg/s1600-h/UnderHitchcockCerto.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5110942056110759986" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Ru22uJoWIDI/AAAAAAAAAJQ/7s-MN81jLHg/s320/UnderHitchcockCerto.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-family:verdana;">Toda a arte é susceptível de inspirar outra arte. Dito de outra forma, qualquer forma artística é potencialmente condicionadora de outras criações. De modo directo e transparente. Ou por meio de mecanismos subliminares e pouco evidentes.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O cinema de Hitchcock, por exemplo, tem alimentado a imaginação de muitos realizadores e produtores da indústria dos filmes e também a forma estética e emocional de muitas obras cinematográficas. Mas o Cinema também condiciona e inspira outras artes.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A Solar – Galeria de Arte Cinemática (em Vila do Conde) propõe aos seus visitantes uma interligação entre a arte contemporânea e o Cinema. Tem estado patente no espaço, desde dia 7 de Julho, uma exposição de arte inspirada em Hitchcock. Muito em particular, pela mostra contextualizada (em cenários adequados) de trabalhos fotográficos, vídeos e criações no domínio das artes plásticas. Trata-se de <strong><span style="color:#ff0000;">uma revisitação do universo hitchcockiano feita por artistas que recorrem às tecnologias do século XXI</span></strong> e que reflectem sobre a imagem simbólica de Hitchcock e sobre a sua obra cinematográfica.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#3333ff;">O nome da exposição é «UNDER HITCHCOCK».</span></strong> E trata-se de uma iniciativa sem precedentes em Portugal. Até porque foi feita em associação com o Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Na programação do Festival deste ano, foram delineadas duas sessões distintas com dez curtas-metragens americanas e europeias inspiradas em Hitchcock. Oito desses pequenos filmes foram trazidos a Lisboa para serem exibidos no dia 11 de Setembro, na Cinemateca Portuguesa, sala mais pequena.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Claro que uma sessão com filmes que extravasam o domínio pleno do Cinema não é necessariamente apelativa para qualquer cinéfilo. A Sala Luís de Pina com cerca de 50 lugares estava cheia mas, pelo menos, quatro pessoas saíram antes da conclusão das projecções.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Várias das obras mostradas numa sessão com cerca de 98 minutos se caracterizam por mostrar um arranjo (ou desarranjo) das imagens dos filmes de Hitchcock. Os filmes de Les Leveque são sintomáticos desse propósito. O autor pegou em “Casa Encantada” (1945) e em “Vertigo” (1958) e decompôs as imagens dos filmes desde a primeira à última cena. Em apresentações com um ritmo frenético e alucinante.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Em <strong><span style="color:#3333ff;">“2 Spellbound”</span></strong> (que podemos ler “Para Casa Encantada”) é utilizado como instrumento de trabalho um filme a preto e branco, com imagens expressivas e carregadas de símbolos psicológicos – ou não fosse a Psicanálise uma temática central no filme.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#3333ff;">“4 Vertigo”</span></strong> (que também podemos ler “Para Vertigo”) parte de uma obra cinematográfica com imagens de grande beleza e imbuídas de onirismo e melancolia.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Estes são trabalhos de um artista plástico que trabalha a imagem no seu sentido estético.</span></strong> O som dos filmes é uma distorção repetitiva das suas bandas sonoras. <strong><span style="color:#ff0000;">Não há neles propósitos narrativos</span></strong>, uma história com princípio, meio e fim. A menos que conheçamos bem os filmes de Hitchcock. Mas as histórias não são essenciais e o conteúdo narrativo das imagens aqui é irrelevante. Os trabalhos de Leveque funcionam como caleidoscópios em que vemos as imagens reflectidas – num filme a dobrar, noutro a quadruplicar.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O propósito de experiências destas é interessante. Quase todas as criações artísticas têm o seu valor próprio que lhes está inerente. Mas um amante do Cinema não está necessariamente preparado para ver películas clássicas com uma estrutura tradicional tratadas de um modo irreverente. Daí que eu ouse concluir que o esforço decorrente de um tipo de arte como este é meritório mas um pouco ineficaz.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Ver passar o “Vertigo” inteiro em 9 minutos e com a imagem decomposta e multiplicada por quatro é curioso. <strong><span style="color:#ff0000;">O problema é que se torna cansativo o ritmo mecânico e pouco emocional do trabalho.</span></strong> O mesmo se aplica ao filme que desenrola a fita inteira de “Casa Encantada” em 7 minutos. Embora o número 2 seja muito significativo no cinema de Hitchcock com toda a carga da duplicidade que lhe está inerente. E em “2 Spellbound” o que vemos são imagens de Hitchcock duplicadas e reflectidas sobre si mesmas.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Afinal, no filme original, Gregory Peck está em busca da sua identidade. Ele tanto pode ser um homem inocente como um criminoso. Assim como o amor de Ingrid Bergman por ele tanto pode ser entendido como sendo uma loucura inconsequente e ilógica; ou uma dádiva preciosa que lhe é oferecida pela sua intuição especial. Daí que <strong><span style="color:#3333ff;">ver “Casa Encantada” em duplicado possa ser uma forma diferente de viver e de apreender o espírito do filme. </span></strong></span></div><span style="font-family:verdana;"><span style="color:#3333ff;"><div><br /></span><strong><span style="color:#3333ff;">“Spherical Coordinates”</span></strong> de Gregg Biermann é um trabalho do mesmo estilo. Decompõe a cena da fuga de Janet Leigh perseguida pelo carro da Polícia em “Psico” (1960). É uma obra visualmente engenhosa, que causa algum assombro porque distorce a imagem original segundo coordenadas esféricas, circulares. É alucinante o ousado. E aplica o modelo visual à própria narrativa, na medida em que desenrola coerentemente a cena até dado momento e depois começa a passá-la no sentido inverso. (Com os carros a andarem para trás.)</div><div><br />Diria que Saul Bass fez qualquer coisa de idêntico para o genérico do filme “Seconds” (1966) de John Frankenheimer. E atrever-me-ia a acrescentar que David Lynch poderia gostar de um artista como Gregg Biermann para trabalhar algumas imagens dos seus filmes alucinados. Penso em cenas do seu “Eraserhead” (1977) e nos primeiros minutos do “Homem-Elefante” (1980).</div><div><br />O sueco Tobias Anderson concebeu um écran com 9 rectângulos e colocou em cada um deles uma imagem em movimento de “A Corda” (1948). O trabalho parece-me relativamente oco. Com um som de pessoas em burburinho, num diálogo contido e distorcido. Este <strong><span style="color:#3333ff;">“Nine Piece Rope”</span></strong> trabalha sobre uma película em que o cenário de pessoas em diálogo é o objecto central – ou não fosse uma espécie de peça de Teatro laboriosamente arquitectada em termos cinematográficos.</div><div><br />Em cada rectângulo, as imagens vão mudando. No resultado final, as nove peças nunca se encontram. As diferentes peças do puzzle nunca encaixam no espaço e no tempo. O filme tem 2 minutos, tempo escasso para ser detectado com facilidade algum tipo de alinhamento intencional nas imagens. O olhar do espectador perde-se em 9 écrans dentro da mesma imagem, dispersa-se, procura orientações. Não creio que esta criação tenha mais do que um valor estético (e mecânico) como nos filmes americanos de Les Leveque.</div><div><br />O mesmo autor mostra-se mais engenhoso no domínio da animação. Em <strong><span style="color:#3333ff;">“879 Colour”</span></strong>, ele propõe uma revisitação a “Intriga Internacional” (1959) feita num minuto. A base da animação é um conjunto de 879 desenhos (concebidos originalmente a preto e branco e que depois foram coloridos).</div><div><br />Os desenhos são decalques apurados de imagens do filme e são apresentados numa sucessão rápida. Trata-se de um exercício engraçado, com uma música jocosa e pontualmente típica de cartoons animados.</div><div><br /><strong><span style="color:#3333ff;">“Bodega Bay School”</span></strong> também de Anderson é outra animação rigorosamente preparada a partir da sequência do ataque aterrorizante à escola em “Os Pássaros” (1963). <strong><span style="color:#ff0000;">Aqui, como no grande cinema de Hitchcock, o essencial não é visto mas subentendido, subliminar. E o terror não nasce do que se mostra mas da antecipação do que está para vir.</span></strong></div><div><strong><span style="color:#ff0000;"><br /></span></strong>Nesta animação que deve ter um tempo absolutamente concordante com o da cena original (5 minutos), é imprescindível conhecer a narrativa tal como foi concebida e mostrada por Hitchcock. Porque <strong><span style="color:#3333ff;">os desenhos decalcam as imagens do filme até ínfimos pormenores e plano a plano mas excluem do cenário todas as pessoas e todos os pássaros.</span></strong></div><div><strong><span style="color:#3333ff;"><br /></span></strong>A música perturbadora do filme não é um tema orquestral sombrio mas a lenga-lenga que as crianças cantam na escola. De modo obsessivo e enervante. Tal como no original de Hitchcock. Poder-se-ia pensar que o som da animação é o som inalterado do filme. Mas não existe o menor diálogo. Nem mesmo quando a Professora declara: «Meninos, vamos fazer uma saída ordeira da escola.» As palavras também foram extraídas. O filme acaba quando o terror atinge o clímax. A imagem afasta-se da escola e ouvimos o som ensurdecedor e estridente dos pássaros em fúria.</span></div>(continua)José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-452627675915965522007-09-06T20:19:00.000+01:002008-12-08T23:33:53.136+00:00HITCHCOCK NO BIOGRAPHY CHANNEL<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RuBT4_AgbGI/AAAAAAAAAJA/k5pZZi-H_kY/s1600-h/logotipoBiography.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5107174215889480802" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RuBT4_AgbGI/AAAAAAAAAJA/k5pZZi-H_kY/s320/logotipoBiography.gif" border="0" /></a><br /><div><a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RuBTnvAgbFI/AAAAAAAAAI4/P-U0r-l8oko/s1600-h/AlfredHitchcockAoEspelho.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5107173919536737362" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RuBTnvAgbFI/AAAAAAAAAI4/P-U0r-l8oko/s320/AlfredHitchcockAoEspelho.gif" border="0" /></a><br /><br /><div><span style="font-family:verdana;">O Canal Biography exibe e repete por estes dias um documentário interessante sobre Hitchcock. Digamos que não se trata de um programa exemplar ou imprescindível. Mas é um trabalho que condensa em cerca de 90 minutos (2 partes de tempo semelhante) os principais aspectos da vida e da personalidade do cineasta e transmite sucintamente uma imagem da sua carreira. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">O principal trunfo do documentário integrado na série “True Hollywood Stories” é o contributo de muitas pessoas que trabalharam com Hitchcock e o conheceram e que oferecem depoimentos muito relevantes: desde a sua filha Patrícia (que participa em muitas destas iniciativas) às suas netas; desde actores (como Farley Granger, Janet Leigh, Tippi Hedren, Hume Cronyn ou Bruce Dern) até argumentistas (como Joseph Stefano de “Psico” ou Evan Hunter de “Os Pássaros”); desde estudiosos da obra de Hitchcock como Camille Paglia, Dan Auiler (autor de um livro sobre “Vertigo”) e Stephen Rebello (ensaísta de um trabalho sobre “Psico”) até ao biógrafo de Hitchcock, John Russel Taylor.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#ff0000;">Este parece ser mais um trabalho sobre a personalidade de Hitchcock e sobre o desenvolvimento factual dos acontecimentos ao longo da sua vida do que acerca da arte do cineasta.</span></strong> O documentário quase não apresenta imagens dos filmes nem quaisquer excertos das suas bandas sonoras.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Os instrumentos narrativos que completam os testemunhos das pessoas entrevistadas são usados estrategicamente mas de modo simples: uma imensidão de fotografias, algumas delas raras e muito interessantes; partes significativas de alguns trailers; e filmes amadores rodados por Hitchcock (ou por personalidades próximas dele) no quotidiano da sua família ou em ambiente de filmagens. Algumas imagens de época são integradas nos momentos certos para enquadrar a carreira de Hitchcock no seu contexto histórico. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">Este documentário mostra Hitchcock mais do que qualquer outra pessoa.</span></strong> As imagens que o mostram nos anos 20 e 30 revelam-nos um homem muito mais brincalhão e menos soturno do que é habitual. Brincando com os amigos, pedalando de bicicleta e levantando a saia a uma actriz. Um excerto de uma conversa com Anny Ondra (protagonista de “Pobre Pete” (“The Manxman”) e “Chantagem” (“Blackmail”), filmes de 1929) é particularmente exemplificativo de como ele gostava de gracejar e de como o fazia com aparente naturalidade. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Por outro lado, as imagens de Hitch com a sua esposa Alma e com a filha Patrícia são sintomáticas do seu carinho e devoção à família.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">Nos primeiros minutos do programa é declarada a intenção do trabalho: divulgar uma investigação minuciosa em torno da vida e da obra de Hitchcock.</span></strong> Verifica-se que o percurso biográfico do Mestre do Suspense é razoavelmente explanado. Assim como as particularidades da sua complexa personalidade. Mas fica-se com a ideia de que aqui não se debate de modo aceso o conceito de Cinema segundo Hitchcock, os seus métodos, as suas opções técnicas e os seus ideais cinematográficos.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Neste aspecto, quase só se mencionam e comentam procedimentos técnicos no domínio de “A Corda” (1948) e de “Psico” (1960) que foram dois dos projectos metodologicamente mais arrojados da filmografia de Hitch.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">O trabalho documental, na sua globalidade, compõe um retrato sucinto da personalidade de Hitchcock com as suas contradições.</span></strong> Camille Paglia define Hitch como uma pessoa puritana que quase poderia ter vindo a abraçar a vida monástica ou clerical mas que também era um cineasta que tinha apreço por aquilo que era violento, chocante ou escandaloso. Facetas que parecem inconciliáveis. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Do mesmo modo, era ambígua a relação dele com o universo feminino. Por um lado, segundo Paglia, ele parecia desconfiar das mulheres. Por outro, parecia reverencià-las, idolatrà-las muito possivelmente na medida em que elas lhe pareciam distantes de si. A sua obesidade, a sua imagem rotunda e pesada, retirava-lhe a ideia de que uma mulher pudesse gostar naturalmente de si. Logo, privava-o de uma vivência sexual descomplexada e desinibida.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Hitch foi o homem que reverenciou Ingrid Bergman e depois Grace Kelly, a ponto de ficar ressentido com os compromissos matrimoniais delas. E foi aquele que terá tentado manipular a vida profissional (e pessoal) de Vera Miles e de Tippi Hedren. Quase da forma estranha e obsessiva com que James Stewart o fez com Kim Novak em “Vertigo”. Ou Sean Connery o fez com Tippi Hedren em “Marnie”. Neste contexto, o documentário apresenta pertinentemente uma cena de “Marnie”: aquela em que Connery profere que apanhou um belo animal selvagem na sua armadilha e que não o deixará fugir. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;">O documentário do Biography mostra Hitchcock como um homem tímido mas que apreciava o reconhecimento e o calor do público.</span></strong> Numa prateleira especial, ele guardava todos os prémios de uma vida de sucesso. Mas lá não constava um Óscar, embora ele tenha sido nomeado cinco vezes para o prémio. Um amigo dele confessa perante a câmara que ele olhava para aquela exposição de galardões e declarava com tristeza: <strong><em><span style="color:#ff0000;">«Sempre dama-de-honor, nunca noiva.»</span></em></strong></span></div><div><strong><em><span style="color:#ff0000;"><br /></span></em></strong><span style="font-family:verdana;">Hitchcock era um homem obcecado com os seus medos pessoais. Curiosamente era alguém que conseguia exorcizar muita da sua angústia trabalhando sobre ela e sobre as temáticas que dela derivavam. <strong><span style="color:#ff0000;">Segundo Stephen Rebello, ele acreditava mesmo que o mundo era um sítio assustador em que o caos espreitava a cada esquina.</span></strong></span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Parece que o cineasta mostrava mais e mais de si à medida que envelhecia. Mas é preciso não ignorar que os modelos da Censura evoluíram e que nos anos 70 havia mais liberdade para filmar a violência – e para fazê-lo de modo personalizado e não em associação a um estúdio. Vejam-se “Laranja Mecânica” (1971) de Stanley Kubrick, “Cães de Palha” (1971) de Sam Peckinpah e “Deliverance” (1972) de John Boorman.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Depois de “Cortina Rasgada” (1966), Hitchcock quis filmar “Kaleidoscope Frenzy”. Era um projecto impressionante sobre um psicopata homossexual que detestava mulheres e as matava sadicamente. Um filme que mostraria muito sexo, morte e nudez. Era algo que os produtores da Universal rejeitaram laconicamente, que era impensável, desconcertante e abominável em termos do que se fazia na época e que, segundo alguns diziam, nem fazia jus à imagem instituída de Hitchcock.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#ff0000;">Afinal quem era verdadeiramente Hitchcock?</span></strong> Em 1966, parecia alguém que começava a sentir-se vencido por novos conceitos cinematográficos e por uma geração de novos realizadores. Penso em “The Graduate” (1967) de Mike Nichols, “Cowboy da Meia-Noite” (1969) de John Schlesinger, “Easy Rider” (1969) de Dennis Hopper e “Klute” (1971) de Alan J. Pakula. Que sentiria necessidade de mostrar o universo do terror e do macabro em termos mais modernos, realistas ou radicais. Mesmo que escandalizassem a opinião pública.</span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Desencantado com Hollywood, Hitchcock procurava inspiração nos filmes realistas de cineastas italianos e franceses. Estava disposto a filmar com uma câmara na mão – o que era diferente de tudo o que fizera até então e demonstrava arrojo, espírito aventureiro e desejo de inovação. Rejeitado o projecto “Kaleidoscope Frenzy”, Hitchcock foi conduzido a realizar “Topázio”. Um filme desinteressante, feito sem alento nem vivacidade. A sua criatividade natural foi desviada. E isso levanta-nos uma questão pertinente de resposta especulativa: <strong><span style="color:#ff0000;">como seria o cinema de Hitchcock se ele trabalhasse nos nossos dias?</span></strong></span></div><div><strong><span style="color:#ff0000;"><br /></span></strong><span style="font-family:verdana;">O documentário do Biography Channel põe-nos em confronto directo com a imagem de Hitchcock. Derivada daquilo que ele foi e daquilo que poderia ter sido. Mas de todas as visões do cineasta, prevalece a do homem irónico e sarcástico que apresenta histórias de crime e mistério para uma série de televisão da CBS. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Era desnecessária a repetição da sequência introdutória de cerca de três minutos que inicia cada uma das partes. E <em><span style="color:#ff0000;"><strong>não é exibido qualquer genérico final ou listagem das pessoas que fizeram o documentário, o que me parece uma lacuna grave.</strong></span></em> A obra está catalogada como sendo de 2004. Mas não sabemos quem a concebeu e dirigiu. </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Na locução, há gralhas. O filme “The Lodger” (1926) foi divulgado em Portugal como “O Inquilino Sinistro” e não como “O Pensionista”. O filme “Sabotage” (1936) tem o título português de “À 1 e 45” e não de “Sabotagem” (que corresponde a um filme de Hitchcock datado de 1942). </span></div><div><br /><span style="font-family:verdana;">Sem criticismos severos, a iniciativa do Biography Channel é mais do que louvável. Para um melhor conhecimento daquele que Camille Paglia define como <span style="color:#ff0000;"><strong>um dos grandes artistas do século XX</strong></span>. E sendo como que uma janela aberta às várias facetas da sua personalidade. Incluindo uma que lhe desconhecíamos e que ele desvenda mediante a câmara do “Alfred Hitchcock Apresenta”: «<em><strong><span style="color:#ff0000;">Resolvi apresentar este programa depois de me ter cansado de ser um “sex-symbol”. E de ter sido fotografado sem roupa para as páginas centrais da tal revista que vocês sabem. Hoje, como vêem, estou vestido. Neste programa não gostamos de torturas nem de violências excepto quando tem mesmo de ser</span></strong></em>.» </span></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-72101514108815745522007-08-13T02:45:00.000+01:002008-12-08T23:33:53.485+00:00HITCHCOCK NO ESTÁDIO<a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rr-4MYpG9rI/AAAAAAAAAIw/e80dijVRqHA/s1600-h/HitchcockNoEstádioCerto.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5097995826119505586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rr-4MYpG9rI/AAAAAAAAAIw/e80dijVRqHA/s320/HitchcockNoEst%C3%A1dioCerto.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rr-4CIpG9qI/AAAAAAAAAIo/JgxGnJ0RUjU/s1600-h/HitchcockNoEstádioCerto3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5097995650025846434" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rr-4CIpG9qI/AAAAAAAAAIo/JgxGnJ0RUjU/s320/HitchcockNoEst%C3%A1dioCerto3.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><span style="font-family:verdana;">Minutos antes do início da sessão, a grande tela branca estava agitada com o vento. Estremecia e remexia-se ruidosamente. A noite não estava quente mas o aspecto tenebroso dos ramos das árvores em movimento frenético até era bem adequado ao ambiente de um filme de Hitchcock.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Nas bancadas, ter-se-ão juntado cerca de duzentas pessoas (estimativa minha) para verem o “Psico” num écran de grandes dimensões. O clássico do Hitchcock estava no programa de um ciclo de cinema de Verão que decorreu no Estádio do INATEL, em Lisboa. E foi apresentado como um histórico filme de culto entre outras doze produções – todas elas recentes.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Estávamos no serão do passado dia 7. O ambiente no estádio era agradável. Antes da projecção, bebi o meu indispensável café no bar. Olhei em redor na perspectiva de detectar sinais de cinefilia. O poster do filme mostrava uma imagem promocional bizarra e irónica. Uma jovem desconhecida com um penteado estranho – dir-se-ia que havia visto um fantasma. Hitchcock por detrás dela numa postura de quem quer assustar. E ao fundo, inconfundível, a casa de Norman Bates tal como hoje ainda está preservada nos estúdios da Universal. Uma frase tormentosa servia o lema do filme: «<em><strong>Grita o teu último Suspiro</strong></em>.”</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Pude observar no bar e nos espaços abertos circundantes sinceras manifestações de boa disposição entre os espectadores mais jovens, aqueles que não teriam mais de 18, 20 anos e que iam em grupos. Avistei muitos casais de namorados trintões. E uma ou outra família. Considerando que, em 1960, o filme foi classificado para maiores de 17 anos, Hitchcock ficaria admirado com a admissão de crianças numa exibição do seu “Psico”.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Na verdade, nos dias de hoje, o amor ilícito de Janet Leigh e John Gavin já não escandaliza ninguém. E as imagens d’ “O Labirinto do Fauno” que foram mostradas em antevisão – o filme de Guillermo Del Toro ia passar ali daí a duas noites – talvez tenham impressionado mais os espíritos vulneráveis do que os ataques violentos e estridentes da Sra. Bates.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A anteceder o filme, foram exibidos depoimentos de algumas pessoas que trabalharam em “Psico”, entre elas a actriz Janet Leigh pouco tempo antes da sua morte – imagens muito possivelmente retiradas do documentário incluído no DVD do filme. As legendas de apresentação das personalidades estavam trocadas mas ouso admitir que esse terá sido um mal menor – embora fosse correcto que as pessoas compreendessem o discurso de Joseph Stefano como vindo do argumentista do filme e não de Hilton Green, o assistente de direcção.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A cena do chuveiro foi abordada e discutida nas declarações mostradas. Partes da mesma cena foram mostradas numa antevisão que não agradaria a Hitchcock. Mas, às tantas, dei comigo a perguntar-me: <strong>haveria alguém naquele estádio que não soubesse a identidade do terrível monstro assassino da casa dos Bates?</strong> Presumo que não.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A ideia do psicopata perigoso e com várias personalidades tem sido copiada e usurpada centenas de vezes. Em prejuízo de filmes mais antigos e que foram originais no seu tempo. Ali, naquele estádio, todas as pessoas pareciam conhecer Norman Bates. Aquela exibição era, mais do que tudo, uma revisão nostálgica do filme. Ou a ocasião soberana para jovens espectadores verem o produto original depois de terem conhecido a sua desinteressante remake de 1998, conduzida por Gus Van Sant.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O crítico e comentador de Cinema, Mário Augusto, falou para o público do Estádio do INATEL. Não directamente e ao vivo mas através de uma filmagem a preto e branco – com riscos e traços que a faziam parecer tão antiga como o filme de Hitchcock. Ele citou algumas daquelas curiosidades que são do agrado generalizado de quem gosta de saber como um filme histórico foi feito. E apontou o impacto pioneiro da morte da protagonista aos 40 minutos de filme.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Nos depoimentos mostrados, constatei que foi feita referência ao contributo do designer Saul Bass para a concepção da sequência do chuveiro. Mas o nome do compositor Bernard Herrmann não foi referido. E nunca é demasiado salientar a importância da música em toda a encenação fílmica de “Psico”. No momento dos assassinatos, também. Eu diria que aqueles acordes dissonantes tanto parecem soar a golpes desferidos como a convulsões de violinos em pura agonia.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Depois da cena derradeira, logo assim que o carro de Janet Leigh foi puxado do pântano, senti a ausência de um genérico final que facilitasse uma melhor ponderação do impacto do filme. Com as palavras da expressão «THE END» e com as barras paralelas a fecharem a imagem do filme, o estádio ficou momentaneamente numa meia escuridão. Algumas pessoas aclamaram a sessão, batendo palmas. Depois, as luzes foram ligadas e o sistema de som começou a difundir o anúncio do filme do dia seguinte: “Filme da Treta” com António Feio e José Pedro Gomes.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Saí do estádio, ouvindo os comentários à minha volta. E procurando discernir se “Psico” ainda é um filme convincente nos nossos dias. <strong><span style="color:#3333ff;">Acredito que é essencialmente uma brilhante encenação cinematográfica.</span></strong> E constato que recebeu uma respeitabilidade importante. É um filme apreciado por audiências distintas. Pelo amante do cinema de terror barato e pelo cinéfilo susceptível a notoriedades históricas.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />A solução final do enigma de “Psico” sempre me pareceu simplista. Num dado momento, o argumento podia ter sido desenvolvido de forma mais complexa e laboriosa. Refiro-me ao momento em que o Xerife se pergunta: «<em><strong>Se a mulher que está na casa de Norman Bates é a mãe dele, quem foi a mulher que foi a enterrar no cemitério?»</strong></em> – Questão que introduziria novas inquietações e incertezas.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Como costumo afirmar, <strong>criar um enigma interessante é uma conquista mas oferecer uma solução inteligente a esse enigma é ainda uma conquista maior.</strong> Por isso, o cinema de David Lynch com todos os seus becos sem saída me parece repetidamente descabido e despropositado.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#3333ff;">O fascínio de “Psico” reside no engenho com que a história é narrada e no trabalho oferecido a detalhes enganosos.</span></strong> Alguém comparou o percurso de Marion Crane estrada fora com o do Capuchinho Vermelho que enveredou desobedientemente pelo bosque e foi dar com o lobo mau.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong>“Psico” é afinal, como todos os filmes de Hitchcock, uma obra sobre a culpa e sobre o castigo.</strong> <strong><span style="color:#3333ff;">Se o Cinema é trabalho de encenação e de ilusão, “Psico” em particular e a obra de Hitchcock em geral são, neste aspecto, criações emblemáticas. </span></strong></span></div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;"><div><br /></span></strong>Acrescento que considerei interessante a iniciativa do INATEL de promover jantares temáticos. O menu de cada jantar estava associado ao filme da noite e era servido no topo das bancadas, na zona dos camarotes, por um preço adicional. Confesso que a ideia me assustou inicialmente porque já estava a imaginar o som original do filme massacrado com a batida dos talheres e dos pratos. Mas não se registaram problemas dessa ordem.</div><div><br />Foi servida como entrada a Salada Hitchcock e como complemento final da refeição a sobremesa ideal para o Mestre: Gelado em essência de Brandy. O prato principal foi Rosbife à Hitchcock. Hitchcock consumia intensamente carne, nomeadamente ao almoço quando lhe era servido um bife de proporções consideráveis – sem ovo a cavalo, que os ovos não lhe agradavam.</div><div><br />Considerando que sofria de problemas cardíacos e que era muito pesado, a dieta de Hitchcock não deveria passar por essas suculentas refeições de carne. Quem sabe se tivesse comido mais prudentemente, Hitchcock teria tido tempo de vida suficiente para realizar mais filmes… Mas, segundo dizem, só se vive uma vez. E a Vida também é enriquecida por pequenos prazeres gastronómicos. Como aqueles que o INATEL propôs para os cinéfilos, em noite de Verão.<br /></div></span><span style="font-family:times new roman;"><div align="justify"><br /><strong>RESUMO DO JOGO</strong></div><div align="justify">No Estádio do INATEL, naquela noite, o jogo foi diferente. Houve emoção, inteligência táctica e estratégica e arte. Mas não houve derrotas. Nem empates. Todos ficaram a ganhar qualquer coisa. Hitchcock treinou bem a sua equipa. Norman Bates marcou dois golos soberbos. O primeiro, mais aparatoso e espectacular, aos 40 minutos. O segundo, aos 70 minutos.<br />A 5 minutos do termo do jogo, sentiu-se um calafrio geral. Lila Crane avançou para a grande área do adversário mas foi assustadoramente confrontada com um guarda-redes inesperado: o esqueleto da Sra. Bates. Norman tomou conta da bola e tentou o seu terceiro golo da noite. Sam Loomis defendeu a sua baliza heroicamente e impediu o pior. A bola foi embater na trave. O goleador estava implacável, movia-se com uma força diabólica e mostrava instintos perigosos. Um cartão vermelho veio colocá-lo definitivamente fora do jogo. Foi para os balneários, alegando que não fazia mal a uma mosca. Mas não era verdade.<br />A audiência aplaudiu o desempenho dos jogadores. Hitchcock continua a ser um campeão. Um campeão histórico e um campeão para o futuro. </span></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-20818377835501440252007-07-31T00:31:00.000+01:002008-12-08T23:33:53.769+00:00O PRIMEIRO (GRANDE) FILME DE HITCHCOCK - CONCLUSÃO<a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rq51j-kggYI/AAAAAAAAAIg/0-NtS9SAzqY/s1600-h/TheLodger4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093137489554604418" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rq51j-kggYI/AAAAAAAAAIg/0-NtS9SAzqY/s320/TheLodger4.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rq51XOkggXI/AAAAAAAAAIY/19F6S5UzecI/s1600-h/TheLodger3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5093137270511272306" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/Rq51XOkggXI/AAAAAAAAAIY/19F6S5UzecI/s320/TheLodger3.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><span style="font-family:verdana;">O Cinema Mudo conta histórias quase sem recurso a palavras. Nos primeiros minutos d’ “O Inquilino Sinistro”, as palavras escritas numa máquina de escrever ou nas páginas dos jornais também servem de instrumentos narrativos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O título de um espectáculo a passar num teatro cumpre a função de um entretítulo. De modo enigmático e indirecto, «TONIGHT, GOLDEN CURLS» («ESTA NOITE, CARACÓIS DOURADOS») remete para a realidade temida: é terça-feira, noite predestinada para a morte de uma rapariga loira nas mãos do psicopata. Hitchcock fixa o letreiro com letras de néon, tornando a sua mensagem um pouco obsessiva. (TO-NIGHT-GOLDEN-CURLS; TO-NIGHT-GOLDEN-CURLS).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />De modo equivalente, Hitchcock deseja apresentar a sua protagonista, enfatizando que ela vai ser relevante, apresentando e voltando a apresentar o seu nome: Daisy. Daisy é o centro afectivo dos que a rodeiam. A menina querida da sua família. Os entretítulos pronunciam a identidade de Daisy.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Para contornar a dificuldade de expressar sonoridades e de pôr em evidência as palavras importantes – proferidas em diálogo ou subliminares ao contexto da acção – Hitchcock usa aqui diversos truques e malabarismos técnicos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"></span> </div><div><span style="font-family:verdana;">Talvez a cena mais recordada por muitos cinéfilos quando pensam neste brilhante “The Lodger” seja aquela em que os personagens olham para o tecto, estranhando os passos do inquilino sinistro no andar de cima. <strong><span style="color:#3333ff;">Vemos esse tecto, com um candeeiro oscilante, e distinguimos a figura do homem caminhando num sentido e depois no outro.</span></strong> Como se, do andar de baixo, conseguíssemos ver através do tecto o primeiro andar. Hitchcock utilizou um vidro grosso sobre o qual o actor se passeou e debaixo do qual posicionou a câmara e o filmou. O resultado é visualmente brilhante. <strong><span style="color:#3333ff;">É como se «víssemos» o barulho dos passos dele. </span></strong></span></div><span style="font-family:verdana;"><span style="color:#3333ff;"><div><br /></span><strong><span style="color:#3333ff;">“The Lodger” é um filme fantasmagórico, sem fantasmas</span></strong>. Os fantasmas são o Medo, a Suspeita e a Inquietação expressos no impacto sombrio das imagens.</div><div><br />Uma família feliz (como a de “Mentira” (1943)) aceita um estranho inquilino em sua casa, arrendando-lhe um quarto. A acção decorre nos dias perturbadores em que um psicopata enigmático, cuja identidade ninguém conhece e que se auto-intitula Vingador, mata sadicamente uma rapariga loira todas as semanas. Invariavelmente às terças-feiras.</div><div><br />O filme conjuga habilmente o tema da suspeita inquietante com o do homem injustamente acusado.</div><div><br />A primeira aparição do inquilino é visualmente impressiva. Ele surge à entrada da casa, coberto por uma capa escura e do rosto quase só se lhe vêem os olhos. É uma figura medonha. A mãe de Daisy abre-lhe a porta a assusta-se. O estranho inquilino em tudo se identifica com o perfil publicamente traçado do Vingador. O espectador sente-o em cada pormenor. No quarto onde vai ficar alojado, inúmeros quadros com imagens de meninas loiras de cabelos encaracolados parecem afrontá-lo e fazer-lhe mal.</div><div><br /><strong><span style="color:#3333ff;">Como em “Rebecca” (1940), as aparências não correspondem exactamente às realidades.</span></strong> O sofrimento do inquilino é diferente do que o espectador (e a família de Daisy) julga. Nem a estranha mala que ele transporta e esconde nem o mapa com o traçado geográfico dos assassinatos o vêm a revelar como o perigoso assassino que todos temem.</div><div><br />Hitchcock pontua a história com momentos de humor discretos e com traços descritivos de uma população londrina amedrontada pelo espírito de suspeição permanente. Com alguma ironia, o vendedor de jornais declara: “<em>Terça-feira é o meu dia de sorte.</em>”</div><div><br />A casa da família de Daisy é enigmática e, de algum modo, assustadora. Quase parece trazer uma associação à casa de Norman Bates tal como Hitchcock a viria a conceber 35 anos depois. As escadas que giram em espiral sobre si mesmas, as portas antigas, as mobílias de aspecto decrépito. É uma casa de cidade e tem o número 13 afixado na porta.</div><div><br />Nos primeiros minutos do filme, vemos o desenrolar dos acontecimentos numa sequência de planos: o grito de uma jovem loira num encontro com a morte; a expansão da notícia através dos jornais e de boca em boca. O aparecimento do corpo parece-me uma antevisão do início de “Frenzy” (1972). Uma pequena multidão junta-se em redor do cadáver.</div><div><br />Depois de apresentar Daisy e a sua família, Hitchcock introduz o estranho inquilino na casa. O actor Ivor Novello dá corpo à figura sinistra e confere uma enorme duplicidade ao seu papel. Não só aquele homem parece perigoso mas frágil também.</div><div><br />Depois há insinuações dúbias junto de Daisy: como quando pega enigmaticamente no ferro da lareira ou quando contempla uma faca. Ou na cena em que observa os cabelos loiros dela parecendo que aqueles caracóis o mantêm cativo de uma realidade terrível.</div><div><br />Enquanto jogam ao xadrez, o inquilino e Daisy contemplam-se mutuamente mas fogem de olhar um para o outro em simultâneo. O espectador verifica, com apreensão, que ela está a desenvolver confiança nele mas, mais do que isso, uma afeição de contornos imprevisíveis.</div><div><br />O homem profere umas palavras. O entretítulo dá-as a conhecer: «<em><strong>Cuidado! Olhe que ainda a apanho!</strong></em>» Claro que ele se refere ao desenrolar do jogo mas não há certezas quanto a isso…</div><div><br />O inquilino age de forma dúbia. Tomara Cary Grant tivesse sido alimentado com tamanha ambiguidade em “Suspeita” (1941) …</div><div><br />A mãe de Daisy está atenta aos movimentos dentro de casa no serão da terça-feira seguinte. O homem sai, procurando que ninguém dê pela sua ausência. A sequência em que ele abandona o quarto sob a escuta da velha senhora evidencia um bom trabalho de montagem das imagens. Hitchcock filma planos gerais e pormenores. E a casa, com as suas silhuetas, parece também sombria.</div><div><br />A ousadia de Hitchcock leva-o a filmar Daisy, tomando banho e mergulhando bem os pés na água quente. Vemos o vapor de água. E a evidente descontracção dela dentro de água quase nos faz pensar também no repouso de Janet Leigh na banheira do seu quarto no Motel Bates. Daisy está tranquila mas, à porta, o inquilino escuta os seus movimentos.</div><div><br /><strong><span style="color:#ff0000;">“The Lodger” parece um embrião do cinema que Hitchcock viria a conceber durante 50 anos.</span></strong> <strong><span style="color:#3333ff;">A duplicidade e a suspeita</span></strong> remetem para múltiplos filmes seus. O cenário de <strong><span style="color:#3333ff;">uma Londres perturbada por um serial-killer</span></strong> viria a ser refeito em “Frenzy”. <strong><span style="color:#3333ff;">A ideia do homem falsamente acusado</span></strong> também é um fantasma recorrente no pensamento e na obra do Mestre do Suspense.</div><div><br />O polícia é um personagem inconveniente. Seduz Daisy e impõe-se como seu noivo. Vê perigo na presença do inquilino por quem Daisy desenvolve uma estranha proximidade emocional. E logo se apressa (cegamente ou não) a conduzir um processo de investigação sobre o homem que ameaça tomar o seu lugar.</div><div><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Os polícias nunca ajudam preponderantemente os heróis de Hitchcock.</span></strong> Hitchcock temia de modo (mais ou menos) subconsciente a ideia da força judicial – da polícia, das leis, dos tribunais e das cadeias.</div><div><br />Aqui o polícia não é um amigo (como acontece em “Mentira” embora o polícia de “Mentira” também não ajude muito) mas um pretendente de Daisy que acaba por conduzir uma acusação formal sobre o inquilino. A população em fúria persegue o homem inocente e ameaça linchá-lo.</div><div><br />Ivor Novello compõe um herói débil, frágil. Ele não tem destreza nem força física. Parece terrivelmente traumatizado (como Gregory Peck em “Casa Encantada” (1945), James Stewart em “Vertigo” (1958) ou até Lawrence Olivier em “Rebecca”. Parece sucumbir ao seu sofrimento atroz ou perder-se na imensidão da sua angústia e dos seus fantasmas pessoais.</div><div><br /><strong><span style="color:#ff0000;">“The Lodger” é uma brilhante antevisão, realizada em 1926, de todo o universo tipicamente hitchcockiano.</span></strong> Filme enigmático mas expressivo. Como é enigmático mas expressivo o baloiçar do candeeiro do rés-do-chão sempre que o inquilino se movimenta no primeiro andar.</div><div><br />Como em “Rebecca”, <strong><span style="color:#ff0000;">o nome do personagem principal nunca é revelado</span></strong>. Como se, por detrás da aura nebulosa que esconde a identidade do inquilino, estivesse alguém que não interessa saber quem é. Por oposição a Daisy que é bem real, cujo nome é bem familiar, o inquilino é uma figura abstracta e difusa. O primeiro brilhante Hitchcock fascinou audiências e chegou ser considerado o melhor filme mudo britânico. Hoje, nos nossos dias, permanece impressionante e envolvente.</span> </div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-49375501957861823902007-07-22T22:32:00.000+01:002008-12-08T23:33:54.007+00:00O PRIMEIRO (GRANDE) FILME DE HITCHCOCK - PARTE I<a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RqPNtOkggWI/AAAAAAAAAIQ/NiB2pJw8vpo/s1600-h/TheLodger.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5090138180747821410" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RqPNtOkggWI/AAAAAAAAAIQ/NiB2pJw8vpo/s320/TheLodger.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RqPNdukggVI/AAAAAAAAAII/ZYZcKklSXq0/s1600-h/TheLodger2.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5090137914459849042" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RqPNdukggVI/AAAAAAAAAII/ZYZcKklSXq0/s320/TheLodger2.gif" border="0" /></a><br /><br /><div><span style="font-family:verdana;">O ano de 1926 marcou o início da actividade plena de Alfred Hitchcock enquanto realizador de cinema. Antes de assumir a direcção de “O Jardim do Prazer” (1926), o jovem Hitch já se movimentava nos meios da indústria cinematográfica, desenhando entretítulos e trabalhando como assistente de realização ou argumentista.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Diz-se que o punho característico de Hitchcock já se encontra na escrita fílmica desse seu “The Pleasure Garden”. E inclusivamente nas temáticas nele desenvolvidas. O argumento do filme evidencia um jogo de ilusões e de traições amorosas que conduzem ao crime e à formação de um suspense com princípios bem definidos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Enquanto história de amor, infidelidade, crime e morte, “The Pleasure Garden” bem pode ser já um «hitchcock movie». Mas não é uma obra brilhante.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Os historiadores de Cinema não costumam considerar o filme “The Mountain Eagle” (1926) do qual Hitchcock não gostava rigorosamente nada e do qual não se consegue encontrar uma única cópia completa – Hitchcock terá proferido algo do tipo «<em>Ainda bem que o filme desapareceu porque não se perdeu nada de relevante</em>.»</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Logo, “O Inquilino Sinistro” (1926) bem pode ser definido como o primeiro grande filme de Hitchcock, aquele em que, com desenvoltura, engenho, criatividade e desejo de inovação, ele terá recriado o ambiente de um cenário terrífico onde macabros crimes se vêm a repetir.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Pegando numa história que bem poderia ser a de Jack, o Estripador, Hitchcock situa-nos numa Londres sombria e obscura. Recorre à composição de uma fotografia cheia de jogos de sombras e reflexos, fumos e nevoeiro. É sabido que ele admirava muito o poder visual do cinema expressionista alemão da época e que terá encontrado nele a inspiração adequada para compor as imagens de “O Inquilino Sinistro”.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Costumo identificar este “The Lodger” como sendo o primeiro marco importante da carreira de Hitchcock. Revejo-o numa cassete VHS da Lusomundo (sem qualquer tipo de som adicionado). E é um prazer revê-lo a horas tardias da noite quando todas as pessoas do meu mundo parecem estar a dormir e não há qualquer tipo de ruído em redor de mim. No sossego da noite, quando o poder de introspecção é maior. E os fantasmas parecem mais reais e impressivos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#3333ff;">Quando a Imagem é tudo, o Cinema tende a tornar-se particularmente expressivo.</span></strong> Na ausência do recurso ao som, desenvolvem-se outras aptidões e capacidades. Como o povo diz, «<em>a necessidade aguça o engenho</em>». O cinema puramente visual é inteligente e <strong><span style="color:#3333ff;">Hitchcock nunca deixou de conceber a linguagem cinematográfica senão como um encadeamento de imagens criteriosamente montadas.</span></strong> Nos seus filmes, muito regularmente, as imagens revelam mais do que as palavras proferidas.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Hitchcock era peremptório quando defendia que quanto menos entretítulos tivesse que usar, melhor estaria o filme. <strong><span style="color:#3333ff;">Idealmente, um filme mudo não precisaria de uma única legenda de apoio.</span></strong></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Quando hoje, em pleno século XXI, vemos filmes da época do Mudo, é coerente que nos pareçam estranhas certas opções técnicas de um cinema que não tendo som, precisava recrià-lo em termos visuais.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Há dois pormenores que usualmente causam desconforto nas audiências modernas: o excesso de expressões faciais e de linguagem corporal manifestadas no desempenho típico dos intérpretes; e a densa maquilhagem usada pelos actores (homens incluídos).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Na verdade, tanto um aspecto como o outro eram quase inevitáveis numa época em que cinematograficamente a imagem do actor precisava de ser vitalmente expressiva e em que o excesso de luzes de iluminação tornava os rostos dos actores muito brancos, quase fantasmagóricos.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Segundo Hitchcock, <strong><span style="color:#ff0000;">o cinema sonoro, generalizadamente difundido depois de 1929, permitia facilidades – demasiadas facilidades</span></strong>. O resultado é que pondo os actores a falar, a necessidade de engenho era menor. O diálogo passou a ter um papel preponderante e <strong><span style="color:#ff0000;">muitos filmes tendiam a ser concebidos como peças de teatro filmadas.</span></strong></span></div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#ff0000;"><div><br /></span></strong>Desvalorizando o impacto e a importância dos aspectos visuais em favor de diálogos que explicavam tudo, no cinema sonoro tendia a perder-se qualquer coisa de fundamental. Como Hitchcock proferiu algures: «<span style="color:#3333ff;"><strong><em>O Cinema morreu um pouco.</em></strong><span style="color:#000000;">»</span></span></div><div> </div><div></span></div><div></div><div><span style="font-family:verdana;">Na verdade, Hitchcock nem sempre reagia de imediato aos progressos tecnológicos. Estava muito apegado às regras do cinema mudo. Tal como estava apegado à imagem a preto e branco. (Só em 1948, realizou o seu primeiro filme a cores) Mas, como grande cineasta que era, ele veio mais tarde a converter-se num verdadeiro perito na idealização e no manuseamento do material sonoro. E também num realizador sensível à composição das cores na fotografia de um filme. </span>(continua) </div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13723456.post-67473154068452448652007-07-14T00:53:00.000+01:002008-12-08T23:33:54.313+00:00O QUE É UM FILME MAU? - CONCLUSÃO<a href="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RpgRv8BpdYI/AAAAAAAAAIA/wlRM695jvOc/s1600-h/FilmeMau3Certo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5086835294379537794" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RpgRv8BpdYI/AAAAAAAAAIA/wlRM695jvOc/s320/FilmeMau3Certo.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RpgRlsBpdXI/AAAAAAAAAH4/yV7biYZ7DKo/s1600-h/FilmeMau4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5086835118285878642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_N1TtUdf2mK8/RpgRlsBpdXI/AAAAAAAAAH4/yV7biYZ7DKo/s320/FilmeMau4.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div><span style="font-family:verdana;">Imaginemos um quadro com uma mancha de tinta vermelha no centro. Todos deverão constatar que se trata de uma tela branca marcada com uma mácula vermelha (a menos que algum dos observadores seja daltónico).</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O quadro pode causar diferentes impactos em diferentes pessoas. <strong><span style="color:#3333ff;">Uma opinião só poderá ter um valor acrescido se fizer uma avaliação fundamentada da obra, inserindo-a no contexto em que foi criada; referenciando quem a produziu, em que local e em que data; com que objectivos e mediante que mentalidade foi concebida e ganhou existência física.</span></strong></span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Interessa entender cada obra de arte no contexto em que foi criada. Ainda assim, <strong><span style="color:#3333ff;">é incontornável que, sem rodeios, um mesmo quadro desperte diferentes reacções.</span></strong> Mesmo se se tratar de uma tela branca assinalada com uma mancha vermelha.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Se eu considerar o patamar dos filmes menos interessantes de Hitchcock, estarei a escrever como o advogado do Diabo e numa posição desconfortável.<br />Considero “Pavor nos Bastidores” (1950) um filme pouco convincente e onde o suspense não é desenvolvido de modo inspirado e cativante. Não aprecio a presença de Marlene Dietrich e constato que Jane Wyman não se empenhou no seu papel de rapariga modesta e pouco vistosa.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />“O Caso Paradine” (1947) tem um elenco interessante e cenas visualmente cuidadas – o trabalho de câmara é pontualmente importante. Mas é um filme que revela não ter tanto conteúdo emocional e cinematográfico como promete até certa fase da narrativa.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />De resto, vivi duas decepções pessoais com “Os Quatro Espiões” (1936) e “Jovem e Inocente” (1937) porque me parecem obras demasiado rudimentares, sem nenhuma centelha de brilhantismo.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O mesmo não se pode aplicar a “Sob o Signo de Capricórnio” (1949) que é um belo filme dramático passado na Austrália do século XIX – filme nada típico de Hitchcock mas que é filmado com alguma desenvoltura técnica e abrilhantado pela presença magnética de Ingrid Bergman. Diversos aspectos da sua intriga talvez tragam à memória o enredo de “Rebecca” (1940) mas se procurarmos suspense e situações de crime em “Under Capricorn”, não os encontraremos aqui do modo mais comum. Nesse aspecto, o filme pode desiludir o hitchcockiano médio.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O conteúdo melodramático e romanesco do cinema de Hitchcock também está presente no seu “Pousada da Jamaica” (1939). A acção desta obra decorre no final do século XVIII na costa da Cornualha. Filme com personagens misteriosos num ambiente agreste, “Jamaica Inn” foi a primeira adaptação de Hitchcock feita a partir de um livro de Daphne Du Maurier. Mas é uma película aborrecida.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Acredito que o sucesso de um filme decorre da forma como é publicitado. Se as audiências se deslocam a uma sala de cinema e não encontram o que procuram, poderão muito provavelmente sentir-se defraudadas.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />De resto, há obras que no seu tempo são aclamadas e depois são esquecidas e menosprezadas. E há aquelas (como “Vertigo” (1958), por exemplo) que só com o tempo recebem o estatuto de criações de grande interesse cinematográfico.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Quem pode verdadeiramente ditar o que é um filme mau ou definir critérios estabelecidos de qualidade? Talvez ninguém.</span></strong> O crítico de cinema pode oferecer a sua perspectiva sobre os filmes. Mas, mais importante do que isso, é a sua missão de informar o público acerca das circunstâncias de produção de cada filme, acerca dos propósitos do cineasta e do produtor e no que respeita a pormenores e factos que podem fugir à percepção do espectador comum.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />«<em>Filme Mau</em>?» Não costumo usar essa expressão. Posso defender que não gosto deste filme ou daquele porque não me divertem nem me emocionam nem me sensibilizam. Ou porque estão conotados com o «<em>meu</em>» sentido de «<em>mau gosto</em>». Mas é ajuizado considerar que os piores filmes que concebemos podem apresentar riquezas que nos passam despercebidas ou que não compreendemos no seu verdadeiro sentido.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />O estranho encanto (por muitos encontrado) de “A Lojinha dos Horrores” (1960) de Roger Corman pode estar no facto de ter sido incrivelmente mal feito. E já repararam os meus leitores que os filmes de Ed Wood – considerado em tempos o pior cineasta de todos os tempos – estão a receber uma reavaliação?</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />Foi feita uma remake de “Little Shop of Horrors” em 1986. E Tim Burton criou um filme muito interessante sobre a figura de Ed Wood e sobre as suas obras aberrantes. Até o «mau cinema» é inspirador. E cria impacto.</span></div><div><span style="font-family:verdana;"><br />«<em>Filme Mau</em>»? Não gosto da expressão. Por muito que o cinema possa funcionar como uma indústria, <strong><span style="color:#3333ff;">é talvez acima de tudo uma manifestação de arte</span></strong>. E <strong><span style="color:#3333ff;">a arte não funciona segundo leis científicas rigidamente estabelecidas. </span></strong></span></div><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="color:#3333ff;"><div><br /></span></strong>Os piores filmes de Hitchcock? Não sei bem quais serão. Apenas pude fazer menção àqueles que mais me desiludiram. Mas eu sou apenas um hitchcockiano. Apenas um. Como tantos outros. Porque motivo o meu conceito próprio de «desilusão» servirá mais do que o de outras pessoas? </div><div><br />Apetece-me escrever: “<em>O prémio para o pior filme realizado por Alfred Hitchcock vai para: Sabe Deus…</em>” Mas será que Deus é mais hitchcockiano do que eu? </span></div></div>José Varregosohttp://www.blogger.com/profile/00396758470075494983noreply@blogger.com0