sexta-feira, fevereiro 15, 2008

ALFRED HITCHCOCK APRESENTA «VANITY FAIR»





















Num blog que é essencialmente feito de palavras, não resisto perante a ideia de colocar aqui uma pequena galeria de fotografias interessantes. Esta colecção foi publicada na mais recente edição da revista «Vanity Fair». Pode-se gostar mais ou menos solidamente do trabalho dos fotógrafos mas é inegável que esta revisitação do universo do Hitchcock manifesta rigor e minuciosidade.

Estes são retratos de cenas emblemáticas. Feitos a partir de imagens que verdadeiramente nunca morreram – imagens que permanecem vivas na memória de cinéfilos do mundo inteiro. Pode-se no entanto argumentar que aqui essas imagens ganharam uma nova forma física. Para a criação deste trabalho fotográfico, foi imperativo dirigir os actores como se estivessem interpretando emotivamente os seus papéis.

E, de facto, a «Vanity Fair» não seleccionou uns actores quaisquer. Ainda que para fins estéticos, quaisquer modelos servissem. Na verdade, esta é uma celebração do Cinema feita pela nova geração de estrelas o que reforça a ideia de que o universo cinematográfico se regenera e potencia a si mesmo. Este é um ritual de memória a um cineasta especial mas é também um veículo de observação do passado histórico pelos olhos da contemporaneidade. Vemos actores dos nossos dias dando vida a personagens e a cenários que nunca morrem.

O trabalho final dos fotógrafos é a galeria que aqui se apresenta. Mas é muito interessante ver o vídeo que está no site da «Vanity Fair» para nos apercebermos do esforço de recriação das cenas, esforço levado a uma estranha preocupação com todos os pormenores. Porque para imitar Hitchcock, parece incontornável ser exageradamente meticuloso. E numa revista como a «Vanity Fair» o cuidado com o guarda-roupa é um padrão.

Afinal este trabalho é mais uma prova viva de como o cinema de Hitch continua a influenciar e a inspirar autores das mais variadas áreas artísticas. Vimos já neste blog influências de Hitchcock noutro cinema; em artes gráficas e audiovisuais; em argumentistas, escritores e outros agentes da indústria cinematográfica; e também no patamar da publicidade e do marketing. Este exemplo específico centra-se no papel da Fotografia como forma de captar um momento; de recriá-lo de modo perpétuo; e de extrair o seu significado simbólico e o ambiente psicológico que lhe está associado.

Como dizia Hitchcock, o seu cinema é puramente visual. Por isso, a Fotografia surge como um veículo privilegiado de eternização de uma cena. Cada fotografia representa um momento eternizado para sempre. Assim parece-me muitíssimo pertinente que o vídeo de promoção não tenha música mas sons pontuais que funcionam como chaves de identificação das narrativas. Um trovão, um grito, o soprar do vento, o estalido de uma máquina fotográfica...

Podemos ver aqui 21 actores encarnando papéis do universo de Hitch. Charlize Theron (substituindo Grace Kelly em “Chamada para a Morte”), Renée Zelwegger (no papel de Kim Novak em “Vertigo”), Scarlett Johansson e Javier Bardem ( nos espaços de Grace Kelly e James Stewart em “Janela Indiscreta”); vemos Naomi Watts encarnando Marnie e Marion Cotillard (que representou recentemente Edith Piaf em “La Vie en Rose”) ser massacrada no chuveiro de “Psico”. Encontramos Gwyneth Paltrow e Robert Downey Jr. no ambiente de romance de “Ladrão de Casaca”. E encontramos duas actrizes mais velhas numa recriação de “Um Barco e Nove Destinos”: Eva Marie Saint, a estrela de “Intriga Internacional” e Julie Christie – que está na corrida para os Óscares deste ano.

Já agora, acrescento: os fotógrafos que aqui trabalharam são: Julian Broad, Norman Jean Roy, Mark Seliger e Art Streiber. Aconselho a leitura da crónica sobre a feitura deste trabalho. Na própria revista ou no site.
Um presente simpático da «Vanity Fair» que este hitchcokiano agradece. Só não compreendo muito bem porque é que a fotografia de “Rebecca” tem uma cor tão intensa. O filme foi filmado a preto e branco e vive de imagens sombrias.