terça-feira, junho 03, 2008

«VERTIGO» HÁ CINQUENTA ANOS




A estreia de «Vertigo» foi há cinquenta anos. Mais precisamente, no dia 9 de Maio de 1958. Em São Francisco, a cidade onde decorre a acção do filme.
Cinco décadas depois, o filme de Hitchcock permanece intenso e é um belo exemplo de como a arte cinematográfica consegue seduzir de múltiplas formas. Pelo poder das imagens (em Hitchcock, o aspecto visual é preponderante), pela inteligência do argumento, pelo fascínio da música, pelos aspectos técnicos da montagem das cenas e do tratamento da cor; pela presença dos actores, pela ousadia técnica num período em que filmar a queda de um corpo ou a encenação visual de uma vertigem exigia perícia e «know-how».

Cinquenta anos depois, aqui deixo duas ligações para o Youtube: uma para o genérico do filme, outra para o trailer da reposição em cópia restaurada (tal como foi apresentado há cerca de uma década).

Considerado, por muitos, como o melhor filme do Mestre do Suspense; idolatrado por cinéfilos de todo o mundo que o ousam colocar na lista dos dez melhores de sempre, «Vertigo» é uma obra ímpar. Uma viagem ao universo da angústia e da obsessão. Um filme peculiar que desenvolve a sua intriga sob um suspense que tem muito mais de emocional e de psicológico do que trepidante e rocambolesco.

«Vertigo» representa um trajecto febril pelo patamar das emoções, dos sentimentos, das paixões que se convertem em obsessões e do amor que se converte em neurose. Trajecto que parece sinuoso e interminável. Como o desenho de uma espiral. Que pode ter tido início na cena em que o protagonista fica suspenso no telhado e só parece ter fim quando ele se debruça do alto do campanário (sem medo de perder nada talvez porque já tenha perdido tudo).

«Vertigo» mostra-nos que desejar qualquer coisa implica deduzir que ela existe de algum modo. Que o passado é tão real como o presente. Que o pesadelo angustia e assusta tanto como a realidade de quem está a dormir e a sonhar. Que a fronteira entre o que existe e o que se vê pode ser maior do que parece. Que amar é um sentimento vivo mesmo que signifique a paixão por algo que morreu (ou que, pior ainda, nunca existiu).

A um universo hipnótico e onírico, Hitchcock contrapõe o mundo de Midge – que não tem magia, nem fantasmas, nem sedução erótica; repare-se que nas cenas em que Midge aparece, não pontua a música assombrosa e apaixonada de Bernard Herrmann.

Hitchcock mostra-nos claramente que o fascínio de algumas das grandes emoções implica vertigens; que a abertura para a contemplação da beleza e do prazer pressupõe o conhecimento daquilo que é horrível ou doloroso. A paixão de Scottie por Madeleine é verdadeira mas perigosa. Bela mas venenosa. Romântica mas dissonante. Como a banda sonora de Herrmann.




2 comentários:

Anónimo disse...

We should have a great day today.

Vanuza Pantaleão disse...

Não é possível!!! Inacreditável!!! Eu e meu marido somos CINÉFILOS DE CARTEIRINHA e olha onde venho parar??? José, VERTIGO, foi o filme que mais me impressionou durante a vida inteira e eu o vi ainda criança. Agora, por favor, me entenda! Não podemos ficar sem nos contatarmos, pois não desejo perdê-lo. Não, não é nada de conseguir comentários, precisamos trocar informações, principalmente, meu marido que conhece os principais diretores do mundo, enfim, TUDO sobre a SÉTIMA ARTE. Parabéns!!!