quinta-feira, junho 21, 2007

DOIS ANOS DEPOIS DO PONTO DE PARTIDA


A data de hoje é significativa. Completam-se neste dia dois anos exactos desde que publiquei o primeiro comentário do presente blog. Foi no dia 21 de Junho de 2005. Nestes 24 meses, posso afirmar sem rodeios que fiz um percurso sereno em torno do meu hitchcockianismo. Sem pretensões de escrever como um cérebro brilhante ou como um instruído historiador de Cinema. Mas com honestidade e algum empenho.

Tenho procurado extrair ilações simples e directas de aspectos intrínsecos ao universo do Hitchcock. Fazendo menção à sua personalidade, a aspectos estruturais do seu trabalho, a obras específicas e a influências que desencadeou durante o seu tempo e para além dele.

Devo confessar abertamente que quando comecei a esboçar as linhas deste texto, não estava certo acerca dos assuntos que ia desenvolver. Mas senti inconscientemente que este era um momento oportuno para reflectir sobre o trajecto percorrido.

Como parece evidente, este blog não corresponde ao perfil de muitos daqueles que encontramos na net. Não é um diário pessoal e não tem postagens curtas e mais ou menos diárias. E também não é um registo de notícias circunstanciais. Como se tem verificado, prefiro indubitavelmente escrever um texto desenvolvido durante dez ou doze dias. E depois mostrá-lo publicamente.

Haverá quem consiga sempre ser directo e conciso. Mas poucas temáticas no universo do Hitchcock se podem explanar no curto espaço de uma dúzia de linhas. Dividir o mesmo texto em partes, apresentando-o todo fragmentado não é a solução ideal que supostamente poderá parecer.

Por outro lado, embora este seja um blog em que um cinéfilo se confessa hitchcockiano, parece-me irrelevante e presunçoso dissertar sobre a minha vida. Sou tímido e gosto de privacidade. E só me parece pertinente falar da minha pessoa para que se compreenda quem escreve, para explicar porque defendo determinadas argumentações ou para fundamentar o meu entendimento das ideias e dos métodos de Hitchcock.

Este blog irá ter o seu comentário final no dia 13 de Agosto de 2008. Contrariamente ao que declarei há alguns meses atrás (postagem do dia 15 de Agosto de 2006), não terminarei este meu projecto pessoal no presente ano. Não escrevo tão intensamente como desejaria e parece-me pertinente alongar a vida do blog e o tempo de reflexão sobre cada tema.

Parece-me honestamente que preciso deste blog, de um modo ou doutro. Para escrever sobre algum do meu cinema favorito e para compreender melhor a minha visão desse cinema. Como se, escrevendo sobre Hitchcock, fosse sendo capaz de compreender melhor toda a minha cinefilia.

Talvez eu até escreva quase directa e exclusivamente para mim próprio e para meu gáudio. Amigos meus me têm insinuado que escrevo sobre temáticas demasiado confinadas a certas cinematografias; que escrevo para alguns cinéfilos e não para todas as pessoas. Certo é que quando escrevo sobre o cinema de Hitchcock, estou já a restringir o campo das minhas observações. E sobre esse aspecto, não posso fugir… A hipótese de escrever sobre outros autores increve-se noutros projectos.

Pensei olhar criticamente para a centena e meia de páginas que escrevi sobre Hitchcock e que publiquei aqui. Mas, às vezes, tenho receio de olhar para o que ficou escrito por mim. Como se temesse um qualquer tipo de desilusão ou de desencantamento.

Escrever entusiasticamente sobre génios do Cinema e dissertar prosaicamente sobre a Vida não é sinónimo de escrever qualquer coisa que afecte positivamente as outras pessoas. Talvez só escreva para mim próprio e para meu prazer. Mas escrevo sempre com sinceridade.

Às vezes, este blog bem pode evidenciar a coexistência de duas personalidades: a daquele que escreve e a daquele que é objecto de observação. Considero-me parecido com Hitchcock na sua timidez e insegurança; no seu receio de falhar e de desiludir os outros; no seu gosto de retratar o medo, sabendo bem o que ele é; no seu apreço pelos prazeres singelos da vida. Mas sei que sou bem diferente do Mestre do Suspense. Nunca sou genial e não tenho capacidade de liderança. Não tenho carisma nem visibilidade. Escrevo histórias com a tinta da caneta e com o computador porque nunca seria capaz de as narrar de outra forma; não oralmente; nunca teatral, musical ou cinematograficamente.

Talvez seja um contador de histórias invisível. Gosto de narrar histórias sem que ninguém dê pela minha presença. Por isso, é verosímil que me sinta uma espécie de escritor desde os meus sete ou oito anos. Se tivesse nascido em Hollywood, provavelmente quereria mesmo ser escritor (e não cineasta). Se tivesse nascido em Salzburgo ou em Nashville, provavelmente quereria mesmo ser escritor (e não músico). Se fosse herdeiro de um grande negócio, provavelmente quereria mesmo ser escritor (e não empresário).

Na realidade, confesso-me um hitchcockiano porque aprendi a interessar-me pelos aspectos técnicos dos filmes com Alfred Hitchcock. É natural que expresse a minha paixão e o meu apreço da única forma que sei: através da escrita.

No dia 13 de Agosto do ano que virá, Hitchcock completaria 109 anos. Então apresentar-lhe-ei os meus parabéns. E os votos de uma eternidade muito feliz e luminosa. Até essa data, continuarei aqui a escrever sobre ele e sobre o cinema que construiu e que influenciou. Linhas de um homem que escreve apaixonadamente. Mas que também escreve para os outros. E que não concebe a vivência de uma paixão à margem do Mundo ou num estado de isolamento.

2 comentários:

Miguel Andrade disse...

Interessante e incrivelmente metódico haver data para acabar isto aqui! Nunca ouvi falar nisso! Será uma pena! :) Oh! Claro e parabéns ao blog... Eu iria desejar muitos anos de vida! Abraços

Isabel disse...

O teu blogue é invulgar. A tua compreensão e dissertações sobre Hitchcock fazem parecer que um dia o conheceste pessoalmente. Os teus posts dariam óptimos artigos para revistas, mas parece que está tudo muito mais interessado na vida alheia, não é? Se puderes continua a escrever no teu blogue, sempre é uma forma dessa fonte em ti que jorra imaginação e critividade, factores essenciais à escrita, trazer cá para fora algo para partilhar com os outros.
Bj da Isabel