quarta-feira, outubro 03, 2007

ANTHONY HOPKINS SERÁ ALFRED HITCHCOCK


É oficial e já foi divulgado por vários órgãos de comunicação. Anthony Hopkins vai representar o papel de Alfred Hitchcock num filme que contextualiza a vida do cineasta no período da realização de "Psico".

Há vários meses que o projecto é discutido mas sempre com muito secretismo. Comenta-se, desde o início, que a nova película irá mostrar as dificuldades inerentes à rodagem daquele clássico do suspense, numa época em que os limites impostos pela censura eram muito severos.

"Psico" surgiu em 1960 como um projecto irreverente, chocante e contrário aos modelos cinematográficos tradicionais. A ideia de filmar a morte bárbara de uma (bela) rapariga nua era impressionante e quase inconcebível, naqueles dias. E Hitchcock terá necessitado de contornar habilidosamente os preconceitos generalizados.

No mesmo ano, o cineasta Michael Powell apresentaria em Inglaterra uma obra perturbante sobre um psicopata que gosta de filmar a morte das suas vítimas – "A Vítima do Medo" ("Peeping Tom"). Mas a realidade no cinema europeu era diferente daquela que caracterizava Hollywood.

O novo filme procurará mostrar pormenores acerca da rodagem de um filme polémico. Uma película que hoje nos poderá parecer um pouco inofensiva (mas nunca menor). De Hitchcock, Walt Disney terá proferido um dia: «Não quero Alfred Hitchcock a filmar no meu parque de diversões; não alguém capaz de conceber uma obra tão asquerosa como "Psico".»

O filme será realizado por Ryan Murphy (que está muito relacionado com a criação da série televisiva "Nip Tuck"). O argumento está nas mãos de John McLaughlin.

"Alfred Hitchcock and the making of Psycho" contará com a preciosa participação da actriz Helen Mirren no papel de Alma Reville (a esposa do cineasta). As filmagens terão início em Janeiro. O título com que é actualmente apresentado parece-me desinspirado e talvez não seja definitivo.

Será expectável que uma boa camada do público não consiga ver Hitchcock no rosto de Hopkins, por muito apurado que seja o trabalho de caracterização do actor. É bem sabido que Anthony Hopkins é um actor de primeiro nível. (Vejam-se “O Homem-Elefante” (1980) , “O Silêncio dos Inocentes” (1991) e “Os Despojos do Dia” (1993) mas também a composição que faz de figuras históricas como Pablo Picasso e Richard Nixon).

Observaremos se conseguirá ser profundamente credível na recriação de uma figura tão singular como a de Hitchcock. Não sou adepto de filmes biográficos. Mas o exemplo de que, às vezes, a fórmula funciona está em Helen Mirren e na sua brilhante composição da Rainha Isabel II de Inglaterra. Veremos como o nobre actor Sir A.H. irá recriar a imagem do mítico cineasta Sir A.H. A proposta é, à partida, interessante mas não marcadamente entusiástica.

O filme só será estreado no final de 2008. No mesmo ano, uma outra obra potencialmente mais interessante será apresentada. "Número 13" será uma comédia negra em que veremos um Alfred Hitchcock muito jovem dirigindo o seu primeiro filme (que não chegou a ser concluído e cujo guião e imagens registadas se perderam no tempo.

Sobre “Number Thierteen” de 1923, não se sabe muito. A falta de conhecimentos tem sempre alimentado alguma especulação. O que neste novo filme se vai mostrar é uma mistura divertida de factos reais com peripécias inventadas segundo um argumento imbuído de ironia e humor negro.

Dan Folger encarnará o jovem Hitch nesse momento preciso em que terá assumido o seu primeiro trabalho de realização: uma comédia. Hitch ver-se-à envolvido, durante as filmagens, no drama emocional de um triângulo amoroso.

O desaparecimento do actor principal, Ernest Thesiger (Ben Kingsley) proporcionará a Hitchcock modificar o argumento e transformá-lo numa história policial. Esta viragem no espírito do filme que é manipulada por Hitchcock vem a reafirmar o seu apreço pelos policiais e pelas intrigas com crimes. O que o colocará a meio caminho de se tornar um realizador de filmes do género. E no futuro Mestre do Suspense.

Converter uma comédia num filme de mistério parece mais do que agradável e oportuno para o jovem Hitchcock de 23 anos. O problema é que se suspeita que Thesiger foi morto, sendo que o editor do filme (Ewan McGregor) começa a desconfiar que Hitch pode ter sido o autor do crime.

Chase Palmer estreia-se na realização conduzindo um cast brilhant. Para além de Kingsley e McGregor, também estará presente no filme a actriz Emily Mortimer que vimos em “Match Point” (2002) de Woody Allen.

Esta história irónica parodia os acontecimentos reais em torno da rodagem de "Number Thirteen" em 1923 e coloca o próprio Hitchcock no papel de falso culpado, vítima das circunstâncias que o dão responsável por algo que não fez. Tudo parece indicar que o guião tem potencialidades. O tempo trará certezas.

Hitchcock continua a inspirar argumentistas e realizadores. Agora, ele surge-nos como personagem nas próprias histórias, em momentos distintos da sua carreira. E possivelmente segundo diferentes tipos de abordagem. Cá estaremos para ver.

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